quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A passagem do moço



Me lembro que, moço, eu desejei uma passagem breve, rápida, sem mais surpresas. Era um tempo confuso, mas sem dor alguma. Era um tempo acima de tudo de descobertas, o que viria a perceber somente com o tempo. Acho que foi quando meu mar se amansou, o tempo acalmou, e eu pude olhar um horizonte até bonito. Incerto, claro, como todo "mar a dentro" pode ser. Era minha hora de partir. Hoje, já velho, agradeço à partida, que me tomou como pelas mãos a conduzir para um lugar seguro. O fato é que é preciso saldar: Iemanjá, três pulinhos das ondas, sementes de romã na carteira, como queira. Eu atiro aqui de dentro um pouco da minha saudade, tem doido demais. A sirvo à deusa do mar. É hoje meu mais profundo sentimento, é o que eu mais honestamente tenho a oferecer, é uma das poucas coisas que pra mim ainda tem valor verdadeiro. E tenho certeza que ela saberá usar isso quando for a hora boa. Vamos virar!  

Imagem de LUNAÉ PARRACHO - 2.2.10

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quem vai lhes contar que é natal?



Caminhando pela rua não tive outro pensamento. Os meninos ali, na rua. Os homens e mulheres também. Talvez lhes conte o jornal que usam pra forrar o chão. Talvez não, talvez alguém venha se redimir dando-lhes sopa, presentes baratos mas nem por isso menos querido, ou então alguma boa ação de épocas especiais. E, no entanto, eles precisam tanto disso! Vendo daqui, do meu conforto de final de ano, o natal parece tão mágico. Fazem parecer. É quando resolvemos que damo-nos um tempo para recomeçar, criamos essa espectativa. E isso nos ajuda tanto! A perspectiva deles de mudança? Talvez trocar o lado da rua para melhor dormir. Talvez lavar as poucas roupas para começar um ano novo de pele limpa. E nessa movimentação toda, na qual todos nós estamos de uma forma ou outra ligados, quem é que vai lhes contar que é natal?

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

De que lado nasce o sol



Seus pés mal começaram a tocar o chão e no entanto bastava erguer os braços que já alcançava as estrelas. Ele nasceu um pequeno dilema, desafiando todas as leis do homem sabido. Amava seu animalzinho mais amado do mundo, um elefantinho cor de rosa (desculpem, mas a imagem é preto e branco), com o qual brincava dia e noite, entre as estrelas, árvores e castelos encantados. Seu mundo fabuloso não tinha nada de inventado, ele era uma infância ideal, um pedaço da vida durante o qual nada é impossível. Juntamente com os dois, todos os sonhos os acompanhavam: eles eram núvens, como as de algodão, a flutuar nessa idade melodiosa. Todos que com eles cruzassem eram abençoados por uma vontade a realizar. Presentes não davam, mas entregavam desejos muitas vezes sublimados. Ah, esses dois! Até hoje, depois de tê-los visto passar - "De que lado nasce o sol, moço", questionavam, eu sei que o sol nasce é do lado de dentro. Saudades. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pequena conversa com Ele


 
Aquela garotinha precisa te contar coisas que sei que sabes. Mas você precisa saber pela oração dela. Sequer ela busca entendimento, mas acalentar o espírito pequenino dela. Precisa de calma, paz, e às vezes isso não chega. Se lhe for dado entendimento para atravessar alguns dias, talvez um pouco de desentendimento ajudaria também, pra ela esquecer tantas coisas que sequer ela mesmo gostaria de se importar. E será em passagens por caminhos estranhos e indevidos que ela Lhe chamará. Portanto, ela pede paz, serenidade e noites bem dormidas para o futuro. Ela já sabe das coisas. Não se importa com aquilo que não se importa com ela, mas já Lhe pede que quando precisar de desentendimento para suportar algumas passagens, que seja assim feito. Em certas horas, o que ela precisará não será luz para passar certos caminhos futuros mas sim um canto macio em seu colo para que lhe conforte e lhe revigore para o próximo dia, mesmo se for feriado.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A menina mais feliz do mundo



A Menina mais feliz do mundo caminha pela praça. Olha as árvores verdinhas, graças à chuva, e ouve os pássaros ao entardecer. Ela pensa sobre como será depois que se casar. Ela experimentou paixão e brigas, mas acredita no amor. Ela, que encontrou o amor que sempre sonhou, sequer precisou procurar muito: ele, praticamente, bateu na porta dela. Ou melhor, ela que foi bater na porta dele, literalmente. Hoje ela caminha sorrindo, e seu olhar reforça o que conto aqui. Quem o viu, percebe. Ela é mesmo a menina mais feliz do mundo. E não se importem se a virem de carinha amarrada, às vezes acontece, nem sempre todo dia é um dia como o primeiro mais feliz. O que importa, no final das contas, talvez seja o sorriso primeiro, o olhar feitiçeiro ou mesmo a musiquinha cantarolada com um assobiu fraco, entrecortado e quase sem sentido. O importante é que ela decidiu ser feliz e descobriu como fazê-lo. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A hora do tempo



Há uma coisa engraçada sobre o tempo: pensamos que ele passa, mas somos nós que passamos por ele. E em poucos momentos percebemos isso. Ali sentado observo, enquanto queimo suavemente minha língua com o capuccino recém preparado, quem entra, quem sai, quem passa de carro, a pé, de ônibus e o vento que mexe - às vezes brutalmente - as árvores e coqueiros lá fora. Fica clara a passagem. Mais clara ainda a velocidade disso. O tempo, convenção humana, não existe. E por relativo, o que representa o tempo humano comparado ao tempo de uma estrela, dessas que mal notamos no céu? O tempo tem sua hora não marcada por relógios. Eu o marco pelo meu capuccino, que me leva pra depois da minha conscicência e percepção estabelecidas pela ciência.

Imagem de Cristiane Fontinha

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Para um brilho mais brilhante


Brilho porque eu não me faço do outro. Sou, para você, duas formas diferentes: brilho a partir do meu eu mas também sou brilhada, e isso acontece quando alguma coisa me mudou da origem. Você, por exemplo, me muda quando em você eu toco, e ai eu vou brilhar em outro lugar. Na verdade, brilho no caminho pois não tenho casa. Meu brilho é durante o ir-se, tendo destino trombar com algo e ir, novamente, brilhando por ai, me espalhando pelos que me aceitam de pouquinho em pouquinho. Acontece que você me nota quando olha para o vidro do carro em dia de chuva. E me vê redonda, toda fora da dieta. Percebe, então, que o vidro me pára... será? Quantos tipos de vidro tens seu coração e sua alma, que me pára mesmo sem chuva? Não se leve pelo seu olhar... me vistes ali, redonda, no vidro e pensa que ali eu fico.  Não percebe que mesmo sem sua abertura eu lhe toco; é quando volto mais ou fico mais em você. O quanto? Depende da sua essência. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Entre um e outro, no meio de todos


Ali, enquanto esperava, procurei outro livro que me interessasse. Entre a prateleira Matemática e Direito Jurídico, entre um e outro, no meio de todos, estava eu. Senti vontade de sentar, como se para absorver aquela leitura toda que jamais farei. Lembrei disso. Não vai dar tempo, nem que tente, ler todos e todos esse livros. Naquele momento me decidi por não ler nenhum. Ficar ali, olhando, folheando, tentando não permitir que eu lesse e reconhecesse todos os sígnos e simbolos linguísticos. Queria que fosse em latin, ou outra língua desconhecida para mim. Queria apenas o sentimento da leitura, o conhecimento de que ali coisas importantes existem, mas não queria saber o que são. Queria neutralizar qualquer tipo de pensamento, como o apaixonado que sente dor, febre e que não sabe o porquê. Queria apenas sentir que havia ali algo que valesse a pena ser lido. Lembrei de um pedaço de missa em latin que assisti. Fiquei pensando que ali, naquelas poucas palavras que eu não compreendia, existia algo que valesse a pena nos homens.   

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O sono que não vem



Já que o sono não vem, venho eu pra cá. Mas tem motivo: sabe - lembra - quando criança que brinquedo novo tirava sono? Pois da mesma lembrança me nutro agora. Mas não tem mais brinquedo, mas tem a vontade. Se foi o carrinho, me ficou a vontade de viajar. Coisas do Menino, tão escondidinho por esses dias. Ele quer na mão ter o que precisa pra deixar bonita as coisas dos outros. Logo ele consegue, danado que é. Falta de sono não é defeito, sinal é de que coisas precisam ser feitas. Quais? Tantas que nem dá tempo, precisa escolher senão a vida - uma que só ela consegue ser - não dá conta. Por isso ligo a TV, vivo sonhos que estão nos contos dos outros. Quissá viveram, ou então inventaram, não sei, mas poderia ter sido. Eu mesmo teria sido tantas coisas outras que não este que aqui estou. E saber disso talvez seja o mais importante. Não saber disso seria apenas outra vida por ai, sem motivo mas que segue em frente. Prefiro minha falta de sono e minha vontade de criança.

domingo, 24 de outubro de 2010

É do lado de dentro que vejo pelo lado de fora



Daqui, preso aqui dentro, só posso imaginar a minha cara vista dali, do canto da sala, ao lado do aparelho de televisão. Cara de quem nem se lembra o que comeu. Cara de quem ainda tem fome e que não tem comida o suficiente. Ah, se dali pudesse olhar, acenar e dizer em voz alta tudo o que penso e sinto! Faria ali, do lado de fora, essa cara também pelo lado de dentro. Meu reflexo não é mais daquilo que fico aqui, imaginando. Sou a voz que registra o que vejo sem ao menos ser autorizada pelo meu próprio eu. Eu, a voz, que vos falo, faço aqui uma nota sobre meu rosto: se vocês pudessem ver como ele estava a pouco! Não é sono, tristeza, monotonia, nada disso.  É uma cara dessas que nos pegamos de vez em quando. É o reflexo que só se vê pelo lado de fora e que existe somente aqui do lado de dentro. Complexo? Não, é reflexo puro. Daqui do lado de dentro vejo tudo como acontece do lado de fora. Mas só vejo. Ainda não sei me desprender e caminhar entre tantos lados meus.

Imagem de Nunes de Freitas. Conheça mais em seu Olhares.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Terça-feira, 19



Tomo meu café como quem acende um cigarro. Na cabeça, movimentando-se com os dedos, os pensamentos mais clichês para o dia seguinte. Antes, chego em casa. Tomo meu banho, pego meu beber e comer. Ensaio deitar, cumpro com responsabilidades para o dia seguinte. Amanha, quarta, quero voltar pra casa, trocar de roupa, caminhar. Na volta, pão quente da padaria. Banho. Mais TV, pra sair da normalidade absurda de todo dia. Nada de jornal, pra não ver absurdidades; pensá-las já deixei há certo tempo. De noite, fizer noite como de hoje, contarei as estrelas. Tentarei. E me sentirei, novamente, sozinho. Saudade do princepizinho, e dos campos de trigo, não porque lembrarão seus cabelinhos loiros, mas porque lembrarei da minha cidade natal, toda cercada de trigo no inverno. O vento e o barulho dos caxinhos secos do trigo, já no final para colheita. Então eu entro. Fecho os olhos, mas as estrelas continuarão lá, sabe porquê? Por que elas não estão no céu. Elas tão no coração que, uma vez aberto, empresta seu espaço para guardá-las. E o meu é dum tamanho que ainda não deu pra contar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

É você, sim, essa gente



[penso]. Velho que sou, não sei como lhe dizer, caro amigo. Talvez, se ao menos soubesse o que dizer, seria mais fácil. Talvez. Fato é que me levanto todo dia e saio com o dedo em riste: "é você, sim, essa gente", e me coloco, assim, na minha própria condição humana [creio semelhante a sua]. Meus olhos sequer abrem-se e já penso algo como "de novo, preciso ir pra lá". E todos os dias têm sido assim. A angústia, se é que é isso, que deita-se toda noite comigo, existe pelas possibilidades não realizadas. E se não tivesse que ir pra lá? Ou, principalmente, se não tivesse tal consciência sobre essas coisas todas - ainda mais presente - que me confrontam em cada ladrinho 5x5cm que ponho os sapatos, sempre com cadarços bem apertados? Já pensei o que seria melhor, se saber da realidade ou sequer ter como separá-la do meu cotidiano, me deixando assim alguém incapaz de pensar sobre mim mesmo. Acho que o caminho de nossa juventude não se limita em nada, nem em ninguém. Mas é preciso ater-se no que não é palpável e isso implica abdicar de certas coisas que nos confortam. Tal consicência e lucidez não contentam-se com a faca e o queijo na mão. O que elas precisam é da vontade de comer. 

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Jardineiro do universo



O rastelo é a desculpa que o jardineiro usa pra riscar a terra e reorganizar o chão. É com ele - e com suas botas de borracha - que tudo fica novamente em ordem, na ordem que se quer. É, antes de tudo, atitude egoísta: o solo todo arrumado fica como o coração do jardineiro, na medida exata do seu Ser. Como sempre tem um "mas", o nosso se refere à boa fé e trato para com aquilo que queremos ver refletido. A arrumação da natureza serve como metáfora para nossa própria organização, assim como sua harmonia no ambiente refaz nossa paz interior em nosso contexto exterior. Fato é que meu jardineiro do universo ainda não sabe disso tudo. Um dia vai saber; por hora, ele rastela e vê tudo ficando arrumadinho. Mas o faz, especialmente, pois quem o faz junto leva-o de mãos dadas para um canto da saudade, cantinho jamais ocupado pelo esquecimento. Se hoje são os jovens que adormecem, amanhã - você verá - as crianças sobrarão em amor por todos os cantos de cima da nossa terra.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Vida a dois



Vida a dois não deveria ser como comer chocolate: tudo de uma vez. Vida a dois deveria ser como fazer café: lentamente se esquenta a água. Depois, sem ferver, acrescenta o pó e já o coa, em papel para não impregnar com o gosto do coador mal lavado. Se enche a garrafa, a fecha. E o toma pouco a pouco, por todos os anos de vida (o que não significa não ter conhecido todos os sabores de café). Viver a dois não deveria se como um filme da Disney: injusto no começo, triste no meio e feliz no final. Viver a dois deveria ser como uma tela de Manet, que o tempo demorado a ser pintado, ali aprisionado, fosse impressionista, fosse eterno, mesmo que de um curto momento de luz, mas para sempre. O que quero dizer - ahh... sei que não consigo, mas tento de novo - é que viver a dois seja algo como esquecer dos beijos e abraços, dos carinhos matinais e tão necessários ao fortalecimento do amor. Viver a dois é levar o outro aonde a gente iria, e a não deixar seus pés sobre terrenos que jamais pisaríamos. Para isso, é preciso falar ao outro como se quer falar a si. É preciso ternura. Ainda não aprendi a andar com ventos de palavras que me fazem perder a direção. Tudo o resto, é intrinseco. E o resto, beijos e abraços, os carinhos matinais e tão necessários ao fortalecimento do amor vêm juntos.

domingo, 3 de outubro de 2010

Sobre o tempo



Precisei desligar o som. Queria silêncio. Preciso de algumas coisas por hora: silêncio é uma delas. A outra é tempo. Não o tempo que nos falta, mas o que nos sobra. Precisar de tempo e de silêncio é como viajar em uma leitura que, quando se acaba, já se tem saudade. Tenho vários projetos que sinto falta não realizar. Um desses é algum em fotografia, que tenho minha maior intimidade entre as coisas que faço para viver. Estar "sem tempo" é ouvir música enquanto se lê, com um copo de refrigerante no pé do sofá e uma taça de sorvete ao lado, no braço. É ter a TV ligada e o PC baixando músicas, filmes, próteses imaginárias da rasa consciência. É fazer tudo ao mesmo tempo. Já "ter tempo" - e é assim como procuro - é desligar tudo, até a luz. Velas pela casa, um livro com cheiro de estante, um incenso de queima lenta. A sorte dum corredor de vento nesse início de primavera, um copo de capuccinno esquentado no fogão, devagarinho, e a saudade como companhia. Arco com as responsabilidades proteladas também no amanhã.  

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sempre "acontece que" alguma coisa



Acontece que, agora, quando abro minha janela nesse sol da meia noite, entram pra minha cama duas luzes que piscam sem parar: essas ai, da foto, uma amarela outra vermelha. Acontece que já não tô pra essas coisas, não pelo ano todo. Acho até graça... no natal. Mas acontece que sei bem que esse não é bem o problema. Meio que é dentre todas as minhas encrustrações atuais que está a vontade de parar por um tempo e ir pra NY passar uns dias na assistência de um razoável fotógrafo (sugestão de uma querida tia). Parar com o trabalho de todo dia, parar com a correria que todo ser humano é capaz de criar pra si mesmo e, com tal reclusão, também com a simples falta de respeito de pessoas que foram cagadas no mundo (sim, agora é certeza). Mas acontece que pra parar não se pode parar tudo. Nem o mundo vai esperar essa pausa. É ai que boto uma música que gosto, acendo um incenso e venho pro blog. Pra pensar, não sei. E agora, às 3h13 da noite, como se já não bastasse a luz que vem deitar-se junto comigo, o porteiro começa a lavar a calçada. Jájá espirra água e acordo achando que fiz xixi, de novo, na cama.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Esses velhos de vinte e poucos anos


Sei sobre muitos velhos - como eu - cuja energia se vê não se sabe de onde se vem. Plantam horta, caminham devagar e claramente cansados em poucos passos, mas seguem, sempre, pois vêem a vida que se vai... Conheço jovens que não andam mais de uma esquina para comprar refrigerante mais em conta, que não vão em festas porque no outro dia precisam acordar cedo para manterem-se descansados com a vida que passa e sequer tais olhos descansados vêem. Suas energias se vão não se sabe por onde. Canso apenas de olhar para esses tipos cansados. Onde já se viu deitar tão cedo, antes dos 50 e poucos anos, fechar os olhos, manter os tênis novos e os Kms do carro baixos? Compram GPS para se localizar e sequer localizam o caminho mais distante, menos pisado. Tem um pneu novo por mais tempo e não gastam os vidros de tanto olhar para novas e impensáveis paisagens. Que saudade que a minha velhice me dá, aqui aos 29!  

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dos pequenos mundos descobertos


Caminhava pelo Intercom um cara com olhar inquieto, roupas de quem não sabe se vestir no frio, um óculos que não ficava bem no rosto e um leve sorriso na face. Andou por tudo, subiu, desceu, olhou de um lado, olhou pro outro, olhou pra você também, aposto, e sempre centrava-se novamente no caminho. Deve ter dito a você bom dia, algum dia, ou boa tarde, numa outra tarde. Escondido, levava um segredo: sua máquina fotográfica; não se acanhe, pois ele fotografou mais pelas costas. Talvez você seja uma dessas quatro pessoas da imagem acima, talvez não. Talvez você seja um dos pequenos mundos descobertos por ele, por esse cara de caminhar centrado que não sabe se vestir no frio. Nosso cara escreveu um texto, em algum lugar, que fala de alguns desses mundos que conheceremos agora. Abaixo, apenas cinco Deixaremos os demais para serem ditos conforme tenham que ser. Grande abraço aos colegas do Intercom 2010.

"Franco, lembre do presidente: Itamar Franco"
Mesmo após tal ressalva, o nome que o cara não esquecia era Franco Montoro, ex-governador de SP e filho de tipógrafo. Talvez essa ligação com a prensa fosse mesmo a mais forte na ocasião, durante o Intercom 2010, o maior congresso de comunicação do Brasil. O fura fila Seu Franco assegurou que anotasse o seu contato seguramente, e essa ressalva ajudou a peregrinação hotel-Universidade nos dias de congresso. Seu Franco, o primeiro taxista que nosso rapaz teve a companhia durante um café com leite. Sem ele, não teria visto nenhum cassetinho no dia 01. 

"Estamos esperando o tempo passar"
Essa frase, que bem poderia estar em algum trecho do clássico filme Ponto de Mutação, foi escutada por nosso cara, aquele de olhar inquieto, durante a noite em que esperava o Seu Franco ("Lembre do presidente, Itamar Franco"...). Vindos da Paraíba, 3.550km depois, cerca de 3 dias e meio de viagem e com apenas R$500 de patrocínio da universidade, um grupo de 6 pessoas esperava, pacientemente, o amanhecer para então subir em mais um ônibus até a cidade de Farroupilhas, vizinha de Caxias do Sul, local do Intercom. Não conseguiram hotel, nem alojamento na própria Caxias, e foram obrigados a viajar todos os dias da cidade vizinha té o congresso.

"Oi, vocês vieram pro Intercom? Vamos dividir o taxi?"
Foi numa dessas corridas que 3 outros jovens do norte (de algum lugar do norte/nordeste) relataram também suas peripécias: fizeram 3 escalas a mais. O voo que seria apenas uma escala no Rio de Janeiro, na realidade, era uma baldeação: chegaria pelo Galeão e, do Santos Dumont (um dos pousos e decolagens mais lindos que se viu) iria pra São Paulo. Descoberta a baldeação, correria para o outro aeroporto de bus. Decolaram. Foi um Rio-Sampa rapidinho, mas... mais 3h de espera em SP pra embarcar para Caxias. Depois do atraso graças a baldeação feita de bus (Galeão-Dumont) e um novo atraso já em SP para o sul, o voo sobe novamente. E o que os esperava mais pro sul? Atraso, claro. Sem teto, pousaram em Porto Alegre e foram , mais uma vez de bus, agora pra Caxias (2hs apenas).

"Pega pra Forqueta, ali, duas quadras pra cima, na esquina"
Nosso cara ficou 2h, pleno domingo, esperando o tal Forqueta. Não veio, parou qualquer um: "Mas aqui não passa Forqueta, só lá na frente. Sobe, esse passa lá". Depois, "lá na frente", mais 1h. O destino era o Museu da uva e do vinho. Chegado lá, dona Gema o recebeu. Conversa vai, degustação de vinho vem, fotografias, flashs, tudo lindo, antigo, um museu, enfim. Degustação grátis vende: nosso rapaz levou quase mais do que pudia carregar. Um caixa, cheia. Mais na mochila. O que valeu a visita, além do bom vinho Forqueta, foi o Roque, primo de Gema. Em meio aos visitantes do museu ele pediu, em italiano, à Gema para apresentar a fábrica de vinho, fechada para visitação naquele dia. Assim o fez pois lá fora nosso cara havia puxado assunto, começado com aquele típico "bom dia", muito gentil. Agraciado, nosso cara de óculos escuro pode conhecer todo o processo, contado etapa por etapa por um funcionário com 15 anos de casa!

"Acordei em três quebras, mas dizem que foram sete"
Na realidade, foram cinco paradas/quebras que tornaram uma viagem de 15 horas numa de 28h30. Destaque para a hora "0", ou quando se deu 24h dentro do bus: palmas, assobios, uma festa que só vendo. Depois mais algumas paradas para banheiro, comer ou porque tava perdido mesmo. Essa aconteceu com nosso cara de óculos estranho que não sabe se vestir no frio. Um violão dentro do bus era tocado às vezes. A comida,  levada em dobro, foi a salvação. Muito tereré facilitou o caminho digamos "torto" de Bauru-SP até Caxias do Sul-RS. Um pessoal que ia de avião no dia seguinte quase os ultrapassa pela cabeça, literalmente. Nas quebras, tanto quanto nas paradas, mexer com a perna foi um alívio. E embora a turma de Relações Públicas não tenha se comunicado muito com a turma de jornal (e vice-versa, claro), garanto que todos iam para um congresso de COMUNICAÇÃO. Pois é... é a velha história do santo de casa não faz milagre, em casa de ferreiro o espeto é de pau, etc. Mas pro nosso cara, cujo óculos não ficava bem no rosto, comunicar não é problema.

Aquele abraço!     


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Coisas que devem ficar na saudade



Sempre que me falam sobre malas, espaço e recordações, peço para que guarde no coração. Se o coração for grande há sempre chance de caberem mais coisas. Se for pequeno, tente apertar, faça o que puder. As lembranças de carinho são as primeiras a serem guardadas: assim como a da foto que, mesmo de longe, me chamou a atenção e me fez lembrar de todas as vezes que sentei com uma pessoa querida e que ganhei um abraço. Depois, poria na saudade tudo o que não coube na mala: lembranças e as roupas novas, que voltam pra casa conosco. Ela vem mais leve, apesar de conter mais coisas. Trago, de minha última viagem, muitas flores, árvores lindas e pôres do sol dourados com um douradinho todo especial. É frio, e em Caxias do Sul-RS, o sol toma um tom muito especial no final de tarde. E é de lá que me lembrarei dos raios mais dourados deste inverno, aquecidos por corações como os dois da imagem acima.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A mala que me é pequena



Comprei uma mala pequena, que cabe apenas o que se leva. Nela, não cabe o que se traz de uma viagem, e acho isso triste. Preciso de uma mala maior. Vou com as minhas coisas, sigo com meus pensamentos, mas volto sempre com novas coisas bem perto de mim. Por isso, preciso de espaço. Nesse espaço, que não sei medir ao certo, deve caber novas coisas: amizades, brindes, descontos, presentes pra quem se ama. E como medir isto? Ah... talvez com uma canção? Talvez com um nova camiseta, 100% algodão? Minhas notas de observador argumentam que o que importa, na verdade, não é o quê nem a forma, ou a quantidade de ml´s ou de gramas: talvez seja o que não se pode medir. Sempre pensei que isso são experiências, ou vivência. Seja o que for, logo logo "estarei indo de volta pra casa". E preciso de uma mala maior, pra ter espaço suficiente pra todas as coisas que voltam comigo.   

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Minha Gitã



Você ainda não me pergunta porque sou tão calado. E não entenderia se eu dissesse, mesmo porque não sei dizer isso que se sente. É dificil, quase não tem significados pra se expressar. Sentimento assim só dá pra sentir. Não consigo falar de amor, não consigo sorrir, só dá pra olhar e perceber que tudo o resto toca a alma, nada mais. Por enquanto, você me tem todo dia, toda hora e não entende. E mesmo que EU pergunte, nada vai lhe mostrar essas razões que passam por mim no momento. Será preciso passar pelo fogo, pela terra, pelo ar e pela água pra que você entenda: mas isso está tão longe ainda pra você! Tenha calma, logo saberá se é bom ou ruim, se vale o sacrifício, se é bom ou ruim. Dê tempo, e saberás que do sonho brota este amor.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O sucesso



Parado ali, na ponta do sofá de 3 lugares, ele segura, calado, seu violão. Olha para as cordas novas, o brilho, a textura, a maciez e pensa no sucesso que nunca veio. Pra fora da sacada do seu apartamento, o mundo não existe mais. É um lugar inócuo, neutro, estéril, diria. Não há pessoas, as rádios não transmitem mais músicas e as emissoras de TV não transmitem mais nada. Em seu mundo fechado, o quase artísta limita-se a enxergar a sí. Não vê nada que seja externo a este ato narcisista. Não é escolha, mas lamentação. Cego por tudo que não pôde conquistar, o universo agora preenche com imagens apenas as notas tocadas em seu violão. Eis que, então, reverberam todas as estrelas, e gritam por biz as explosões solares, de todos os sóis ainda desconhecidos. O sucesso vem enfim.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Saudade



Lindo o trecho:   

"Muita coisa a gente faz
Seguindo o caminho
Que o mundo traçou
Seguindo a cartilha
Que alguém ensinou
Seguindo a receita
Da vida normal...
Mas o que é
Vida afinal?"

Tenho feito muitas coisas. E com elas, aparecido saudade. Fotos na gaveta relembram aqueles amigos e amigas da infância, e rio contente pela lembrança daquela inocência perdida. De imediato, me vem o grande amor presente, jamais sonhada naquele tempo de brincadeiras sem preocupação. Percebo que realizações vêm sem serem pensadas. Que caminhos tomamos, tantas vezes não traçados por nós e revelados enquanto já estamos em plena peregrinação, sem ao menos saber. Mas que é vida afinal? Eu, procuro pela minha, olhando pela janela para não deixar passar nada desapercebido. Relembrando Vinicius: "Se eu dormir, por favor  me acorde: não quero perder nada da vida". Não quero perder nada e que me deixem olhar para onde eu quiser. Meus olhos são a carência de todas as histórias que não terei tempo de viver. 

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Coisascotidianas - O banho



Vou pra casa. Tem dias que um simples banho no lugar do almoço é bem melhor do que qualquer comida. Ligo a ducha. 1 minuto e esquenta. Entro. Lavo o cabelo 3 vezes. Uso sabonete que mais gosto. Esfrego com aquelas buchas de cerca, sabe? Já estão macias... Encosto no box, de olhos fechados. A água morna bate. O barulho caindo, depois batendo no chão. Desligo, cadê a toalha grossa e macia, a que gosto? Ali. Passo o perfume que gosto. Enquanto ali, pensava na roupa limpa que sobrou. Aquela calça azul, a escura. Uma camisa. Não, teria que passar. Aquela camiseta está limpa e não precisa passar. Me agrado com ela. Pego-a, visto-a por último, depois da meia branca e macia. Só faltava ela. Poucas coisas assim mudam tanto uma pessoa!  

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A+fórmula-do%amor=

Acredito na+fórmula-do%amor. Tem aquelas coisinhas já sabidas, tipo: um gesto exato, como se comportar, como andar, um tal gesto fatal, o olhar 43, assim, meio de lado, o rosto em contra luz, rs, nossa, quanta coisa! A minha fórmula secreta às vezes não se comporta com estabilidade não: parece que depende da atmosfera para ela solidifica, virar liquido de novo e, acima de tudo, de muito cuidado para, vapor nobre que é, não explodir! E mesmo assim, olha só, como ela condensa, se expande e se contrai rapidamente! O elemento mais presente da minha +fórmula-do%amor, certamente, é o Ó. Vou dizer o Ó justamente porque não sei dizer o que o Ó significa, mesmo assim ela é quase todinha feita dele. E é material abundante - apesar de nobre - e se acha isso em todo lugar. A fila do cinema tá cheia de Ó, assim como no banco, na hora do almoço. Será que todo mundo pode ver o Ó e montar minha fórmula? Ai acho que não. Tem gente que nem o umbigo encherga, que nem SE encherga, imagina o meu Ó, que nasce pequeno e só cresce se for dilatado em laboratório! E esse laboratório é secreto, e precisa ser limpo e bem cuidado todo dia. E quem bebe dessa fonte fica soltanto Óoooooooos por todos os dias da vida!

Aula de fotografia


Certa vez me falaram sobre eu dar algumas aulas de fotografia, diversão que o moço Santiago vem fazendo há algum tempo. E fiquei pensando qual seria a primeira lição, já que se vende isso em cursos rápidos de um dia, turmas reduzidas e tudo mais que se pode dizer para ganhar dinheiro daquele que quer aprender. Pois bem: olhando mais para o começo, para a essência do que eu penso sobre fotografia, acho que na primeira aula eu teria é um papo bom com os que estivessem aprendendo, sentados, cada um com sua máquina no colo e a alça já no punho. Acredito que, na fotografia, antes de fazer o olho olhar para fora, através das lentes, é preciso aprender a ver pro lado contrário, pra dentro. É com os olhos que fotografamos,  tanto quanto com os ouvidos, pele, sensibilidade e paciência; e tudo isso vai se encontrar lá dentro, na nossa essência, dentro do nosso peito. Aprendi a aceitar que o mundo é que se deixa fotografar quando ele bem quer e não o contrário. E é a partir disso que vou criando e vivendo as experiências que daí posso depreender.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A simplesa de nossas vidas


Às vezes uma palavra me some, então boto outra que lhe pareça: a simplesa, para simplicidade. Resolvido isso, fico pensando que nossa mesa para o café, coisa simples, correria do dia-a-dia, será decorada simples, mas com toque seu que a encantará. Assim já antevejo a sala, o tecido claro sobre o sofá escuro, os panos trabalhadinhos que levam em cima algum enfeite ou porta retratos. Fico imaginando seu capricho por toda a casa... os lençois claros, macios, fios grossos, depois de 160. Os travesseiros fofos e as almofadinhas que enfeitam feitas mostruário de loja da zona sul. O quarda-roupas perfumado, a geladeira organizada e os tapetes, no chão, sempre limpos, mesmo que pisados. Fico eu assim, pensando sobre como vai ser e tentanto fazer ser breve. Mas preciso botar outra coisa que pareça minha vontade, porque agora eu não sei falar. Então boto você mais fundo no coração, para que não escape tão fácil assim. 

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sábio porque é velho

Sempre me fizeram associar sabedoria com conhecimento, ou melhor, interpretar que conhecimento se faz relativo à sabedoria. Precisou de tempo para começar a entender, e mesmo hoje ainda não tenho dimensionado por completo tal questão. Mesmo assim, depreendo que as experiências vividas e sua necessária intensidade sentida podem constituir aquilo que temos como Saber. Nesse ponto, por hora, entendo que a sabedoria não é o conteúdo em si, o armazenamento de coisas, sensações, experiências ou conhecimento, mas sim as ações anteriores à linguagem e a comunicação que utilizamos. Sabedoria, quem sabe, são atos formados em seu instante imediato, antes da constituição racional no mundo das ideais, da formação da linguagem e do estabelecimento da comunicação com o que quer que seja. "O diado é sábio não porque é o diabo, mas porque é velho", diz o ditado. Só o tempo pode fazer isso com a gente.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O canto que eu também tive em algum outro lugar - Sobre o texto abaixo

Sabe que não tenho usado meu canto de pensar que tive em algum outro lugar? Ele era um tanto quanto punitivo, era lugar de pensamento sobre tudo o que eu, criança, fazia. Se não fazia não precisava ir pra lá. E o canto virou índice de descoberta, de descobrimentos, sinônimo de arte (ao menos pra mim). Não sinto falta do canto, e não o uso mais por falta de desvendamentos: o mundo já foi todinho explorado, não deixaram coisas grandes no baú. Mesmo assim, sinto falta de um sentimento: o da levadeza. Menino danado é menino levado e desaparecido. Está com os pés no chão procurando não pisar nas pedras, e pegando-as se forem redondinhas, do tamanho de se segurar com dois dedos. São ótimas no estilingue. O estilingue eu ainda tenho, mas  não encontro mais as pedrinhas que tanto preciso.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Arte dos meninos

O menino fez arte e ficou pelo canto calado catando conversa de outros que, por ali, jogavam fora. Se tava chorando foi detalhe porque a memória logo se esquece. Este é um dos coloridos estado de graça natural dos pequenos, afinal, são capazes de tudo, dizem o que não se encontra, pintam com todo tipo de coisas reais e imaginárias e tem tantas cores que nem enxergo agora depois de crescido. É um estado de Arte por embelezamento divino e cândido. Todos temos nossos lápis de luz, somos ou fomos assim; eu, veja só, nunca mais vi meu vermelho depois daqueles anos. 

Isso não é necessáriamente ruim, porque agora vejo tons que não compreendia antes; agora têm mais intensidade, e esquentam que é uma beleza quando faz frio lá fora. As cores, as palavras, meu canto ali, encostado por tantas vezes, mudam e permanecem em lugares comigo que às vezes se apagam. Mas que graça é ter olhos de borracha, capazes de sumirem  com os riscos sobre as lembranças esquecidas e trazê-las como se fosse eu mesmo, ali, no canto que eu também tive em algum outro lugar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pensando por amanhã

Como vai ser daqui um tempo quando eu trocar o seu nome, quando eu não lembrar dele ou quando eu talvez me esquecer de quem você é? E quando você tiver que me trocar, dar banho, contar as horas para o meu remédio? Como vai ser daqui um tempo quando você andar por mim, experimentar o tempero e levantar para pegar água pra matar minha necessidade? E quando você tiver até mesmo que ver por mim? Como vai ser daqui um tempo quando você me chamar por outro nome e eu nem perceber? E quando você tiver que escolher as roupas por mim e me por aquela amarela, que eu não gosto?

Penso que

vai ser como a primeira vez, quando te conheci. Vai ser uma descoberta por vez, todos os dias. Vai ser ser levado pelos braços de um anjo, ouvir sua voz angelical me lembrando sobre quem eu sou e sobre o que você representa pra mim. Vai ser ter pés sublimes, leves como as nuvens que me lembrarei. Vai ser provar a mais deliciosa comida e saciar a sede como se peregrinasse pelo deserto desde minha velha infância. Vai ser ser outra pessoa, com nome novo desde sempre e um gosto incomparável pela mais linda malha amarela.

De papo pra Pipa

Hoje me sento aqui pra te ver. Venho conversar um pouco, dia corrido, sabe? Uma paradinha prum café me faz bem. Descansa as pernas sua cadeira de pau, me descarrega a mente sua conversa livre de assunto e me sussega a barriga o pão sempre quentinho da esquina. Pipa, você diz que ama e eu digo não saber o que fazer da vida. Queria me aplicar, mesmo agora, em algo que me fizesse novo, que me fizesse alegria e que me fizesse simples, sendo quem quer que fosse ou seria. Entenda que do alto já nem sei se isso faz alguma diferença.

Aqui contigo sempre chove na hora certa, é estranho. Essa conversa solta me transforma, muda o que eu trouxe dentro dos olhos. Aqui eu me torno o que eu anseio, sem mesmo saber o que é. Aqui pego meus lápis de luz e pinto um quadro bonito, todo narrativo. E nêle eu me entro dentro, sem mesmo pôr meu ponto de vista do lado de fora pra quem me visitar poder ver também. Estranho... aqui sinto companhia, mas feito minha pintura de luz me sinto sozinho novamente. Hora de ir. Caminho longo e ando devagar, sabe?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mas o amor não existe para fazer a gente feliz?

Porque então eu fico triste? Se saudade também serve pra fazer a gente feliz, lembrar de você fechar os olhos com meu toque também deveria me fazer feliz. Porque isso é saudade, porque meu carinho era amor, e porque agora eu não tenho mais isso, fico triste. Quase penso que o amor, no fim das contas, só deixa a gente é triste. Porque sempre um fica depois do outro, e quem fica sente mais, eu acho. Afinal, de nós dois quem ficou foi eu, então ainda não sei como acontece quando é a gente que se vai. Mas me acostumo com o sentimento que fica, que sei que não sai daqui, que não se troca nem se perde. Acho que teria doido mais, mas eu queria estar do seu lado no final de tudo. Não pude, ninguém pode. Saudade aparece mais quando se lembra pelo cheiro, pelo toque, pelo calor, pela companhia. Tenho todos eles, e você me mostrou que o amor existe para a gente se fazer feliz. Seja por estar junto, ou por estar dentro, quando um dos lados vai embora.  

quarta-feira, 12 de maio de 2010

E você me ocupa por todo mesmo

Sabe que, mesmo quando estou sozinho, me vem você dizendo que tem mais do que eu supunha. E diz  você mais sobre sua presença em coisas que eu só percebo depois, e são elas que me valem por surpresas nunca ganhadas. Aquele canudinho alí, solto pelo chão, diz que já faz hora de você voltar dai, de longe. É um pedaço de você que ficou aqui. Chiclete, balas, brincos, o amor... tudo de você tem ficado em casa, e eu pensando se é que haveria coisas guardadas em você que estavam escondidas ainda. Nunca me ocorreu que sempre estiveram aqui, ali, em todo lugar. Acho que eu via, mas me tampava os olhos para não me esvaziar. E se tivesse percebido antes? Continuaria vendo minha retidão? Em todo caso, dou destinos praquilo que me faz lembrar você. Um deles, é embrulhar com papel fino lançando do laço para enforcar a fita amarela. Isso só acontece em meu coração: das guardanças em papel chique, todas estão perfumadas em um canto (daqueles cantos pricipais) do meu quarda-roupas imaginário. Apenas fica diferente porque tem um valor que só aumenta, mas nunca muda, só muda é o jeito que me faz lembrar de você.   

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Carta resposta do menino Santiago (à Carta 1 do velho)

Meu amigo fico aqui só pensando em como você está ai em cima nos seus 30, 40 anos, olha que sinto que você se preocupa comigo mas é uma preocupação que não precisa ser: eu não bebo café ainda e se ele esquenta ou esfria pra mim não vai ser útil de nada. E sobre minha coragem não sei bem o que isso que dizer mas eu passo pelas coisas é com medo, a coragem vem só depois pra aguentar a imaginação de que coisas do tipo sempre acontecem... tô só é pensando se meu pé ainda cabe nos tênis sempre ou se preciso de tênis novos todos os anos, não sei quanto custa, mas dá muito trabalho pra mãe comprá-los e as roupas elas rasgam fácil ainda? É porque tem umas que gosto muito e que acho que você gosta de dormir com elas quando tem medo, mas eu vou tentar não rasgar todas assim você fica com a coragem delas. Ahh não adianta me falar para dormir cedo porque você sabe que é porque quando tanto eu como você ou a gente, sempre, podemos fazer tudo o que a gente quer. Mas me diz.. você aprendeu a apontar meus lápis de cor sem quebrar as pontas sempre? Daqui, fico com saudade, e guardo tanto que quero saber de você. Acho que vou fazer uma redação e te mandar qualquer dia, pra você por no blog. 

terça-feira, 4 de maio de 2010

Pra ti, meu pequeno Santiago - Carta 1

Escrevo como se esta carta realmente lhe fosse chegar às mãos, meu pequeno Santiago. Entrecortadas por um gole de café, vou escrevendo minhas palavras com um aperto no coração. Acontece que não quero lhe revelar o que de bom você ainda viverá, mas tampouco me dou licença de prepará-lo para o que terá de enfrentar, mesmo com forças que terá que buscar fora de ti. Sei que vai compreender meus medos, afinal, alguns deles advém de você ai embaixo, ainda criança, moleque de pé descalço e tudo mais. Tenho pra dizer que aqui, de cima dos meus 40 anos já vividos, muita coisa não saiu como você ai, lá pelos nossos 10 ou 20, imaginou que seria. Sorte essa foi a nossa! Não teria tido graça viver o que já tinhamos vivido em pensamento. E graças a isso garanto que é um caminho de alegrias, de contruções, de experiências que você não faz ideia, meu pequeno. Alegre-se hoje, como se tu recebestes notícias minhas daqui. E viva, tire o chinelo e pise no asfalto quente, tire a camiseta e molhe-se na chuva. Aproveite a noite e durma cedo. Por que pra frente, meu querido, a gente perde um pouquinho da coragem de criança, e o café esfria mais rápido do que temos tempo para tomá-lo... 

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Onisciência durante um café

Também tenho isso de estar em todo o Tempo. Me acordo velho, passo dia moço, e não quero me deitar, menino que sou, quero continuar na TV. A ordem varia, muda toda manhã, toda tarde, toda noite. Mas sempre estou ali, menino, velho, moço, sem importar a ordem. No café, me vejo no reflexo do vidro, logo ao lado, eu com copo à boca. Mas ali fora, já na mais idade, também sou eu a ver-me dentro menino que estou, segurando uma xicara quente, com o cuidado que aprendi. Pra ti também quero me dar assim, sem ordem, mas na necessidade que você tiver. Menino pra brincar, moço pra te dar segurança e velho para segurar sua mão qdo tiver fraqueza. Sem ordem pra passar o dia, ou mesmo a hora. Sou assim desde pequeneninho, já acordei com uma xícara desse pensamento à mão. E sabe que gosto? Meu café esfria de tanto abrir o olho para fora. Mas lá, do lado de fora, o senhor que se apressa aquece meu coração jovem, mostrando que a vida que corre. E insinua que é depressa demais pra eu não cavalgá-la.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O que eu encontrei em você


Mas é simples que aquilo mais presente em você não é seu sorriso, seus olhos, sua boca de que eu tanto gosto. Não é seu perfume que sinto aqui, do outro sofá, nem seus cabelos que tanto gosto de tocar. Não são suas roupas, novas, as velhas, as que simplesmente são você, não. O mais presente em você não é seu sorriso, sempre ali, nem sua bondade ou amor que tanto distribiu à quem precisa; mesmo que eu admire isso, não é isso. Sempre que penso em você não sinto aquela saudade de um dia que me tira num simples abraço, nem isso é o mais presente em você. Também ficam de fora o telefonema fora de hora, as surpresas "esquecidas" pela minha casa, os brincos deixados ao lado da cama, ou mesmo sobre o sofá, do lado do copo sujo de Coca. O mais presente de você nem sequer chega a se similar a qualquer coisa que você faça ou seja: o mais presente em você sou eu, que me faço amor para te encher de alegria. 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Um segredo

Tenho um lugar pra me esconder quando estou com medo. Lembra que costumava ser nos seus braços? Mas hoje me sinto sem eles e preciso de paredes porque não é só medo mais, tenho sentido frio, igual em dias que antecedem a rigoroso inverno. E lembra que era eu quem costumava te esquentar nesses dias? Meu segredo é que sinto mais medo do que nunca e frio, muito frio, mais do que aquele que a gente dava um jeito. E sempre que me sinto assim eu apago as luzes, ponho uma camiseta gostosa, aquela mais velhinha, que trago ainda da juventude, e (risos) ela já quase nem me cabe mais, e os fios soltos, os fios soltos... por nada no mundo os costuro, são eles que vêm me tecendo desde sempre, pelo que me lembro. E só assim o sono tem vindo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O amarelo que muda um jeito torto de andar

Hoje é fácil, sem complicação, mas tente andar com os olhos fechados pra você ver o que acontece. O amarelo que então coloria descolore e fica preto, mas de novo cheira quando se abre os olhos de novo. Essas flores crescem constante, galhos lisos abaixo, enormes, como quem mostra que precisam de cuidados. E precisam, mesmo cá, em cima: só dá água quando chega de estiagem É quando o dia não corre, o sono vem, e as cores permanecem. Os olhos ardem, pois há tanto se olha para o colorido fixamente na esperança, não sei, deles mudarem de cor e se parecer mais com o seu jeito. E então nota que o "seu jeito" não é jeito algum, não passa de um jeito para se ajeitar as coisas que escorregam pra fora da bacia.  

Sono de vontade

E não é que com sono foi deitar mas caiu mesmo foi de alegria? Acontece que o bocão aberto era vontade de chocolate, e a estrelinha sobre a sua cabeça era de açúcar. Dormia bonito o menino. Eu, do meu lado de cá, sabia que sem aquele garoto não havia esperança, já que era ele quem me alimentava a alma. Que energia que sobrava, dava pra tudo e ainda podia dar pra todos porque não dava para quem quisesse. Era de todo tipo: carinho, atenção, amor são meus preferidos, mas o que mais me alegrava era ao sorriso com tudo, pois ali mostrava que estava tudo bem. Sem correria, chegava sempre na frente. E se acabou a música, saia cantarolando que o rádio sentia dó, que vozinha desafinada, mas que som macio este que vinha do coração. Depois ele cresceu, e só dorme fora de casa. Sabe que um dia volta, tem uma cama quentinha esperando. E sente vontade de tomar café antes de deitar, como igual se acostumou a fazer todas as noites por ai.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O peso das coisas que dá leveza pra alma

Limpei o guarda roupas, o armário ao lado, a máquina de lavar e um pouquinho do coração, não muito, mas um pouco. O resultado surpreendeu: mesmo pouco, havia muito, e procurei o que fazer com tanto! Das roupas, entreguei a quem eu sei que vai destiná-las bem. Do armário ao lado, foi um pouquinho de conhecimento para algumas pessoas que, se não souber como usá-los, de nada terá adiantado. Da máquina de lavar, um par de pé terá passos muitos para longe a dar. Mas é do pouquinho do coração que me encomoda... por dar, me parece que ele se encheu e não que tenha dobrado de tamanho, não, mas sabe que tá assim, bem fofo mesmo?! Aquilo que não nos serve mais serve bem a alguém, e como isso faz bem a nós mesmo!

sábado, 10 de abril de 2010

É no nascer do sol que se põe certas inquietações

Começa sempre com os passarinhos cantando, mas quando se está com muito sono não se escuta.  E então se acorda antes mesmo do despertador mas aquele rosto lindo, quentinho de sono, diz que não se dormiu. E você diz que dormiu sim, querendo mostrar uma responsabilidade que sequer pensa ter. Na verdade só se quer ficar ali, abraçado no frio,  encolhido, braços cruzados pra esquentar, mangas esticadas pra esconder as mãos, esquentando um pedaço de sono atrasado. Mas, com pressa de viver, sai depressa, esquecendo que já se vive. Então o sol nasce, bem devagar, no horizonte, e aumenta a certeza de que algumas coisas a gente vai deixando pra trás. E pensa se aquilo poderia ser sempre, mas se sabe que nunca mais pode ser igual, porque as coisas não se fazem de novo. E desde já me dá saudade, e desde já vira pensamento que o coração não compreende. E desde sempre fui assim.  

*imagem tirada durante um passeio fotográfico na represa de Rio Preto. Mais imagens em: vistasantiago.blogspot.com

terça-feira, 6 de abril de 2010

Pessoas mais quentes em dias assim

 

Num tempo como este se encontram dois amantes, transgride um adolescente, recai um bêbado em algum canto só. Em todos os casos acompanhava o frio, sinal de um pleno outono sem planos ainda para qualquer outra coisa. Sei que eu quero estar junto a ti, mas se não me vem o amor do oposto, aqui eu tomo a segunda taça sozinho. O vinho é bom, leve, cabernet, me lembra chocolate com passas. Me lembra nossa primeira taça juntos, o seu primeiro gole e, talvez, ainda não sei, minha última vontade de estar contigo. Mais um trago. Me falha a memória. Não lembro mais o ponto de servir, o tempo de repouso antes do primeiro gole, nem mesmo o tempo de repouso antes do primeiro beijo. Acho que não deveria existir. E por isso trago o beijo antes mesmo da vontade, mecanicamente. Mas isto talvez seja a vontade, não o beijo. 

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quantos desaniversários!

Foi o mais gostoso encontrado, porque era colorido de alegria que só comendo pra saber. Quem comeu mais sabe em dobro do que falo. Dos que mais marcaram essa memória que às vezes me falha, foi um que sai correndo rua a cima. Outro foi histórico: um carrinho de cachorro quente na garagem de casa. Lembro de um presente mole, era roupa, que sequer posso notar se cheguei a usar ou não. Espero que talvez. Dos bolos, eram brancos, de coco. Queria outro na época, mas hoje não sei. A saudade encarece as coisas. Se paga um preço alto pelos amigos longe, pela família já toda mudada, pelas árvores mais baixas e as pessoas que não se reconhece mais. O que aconteceu com aquele universo que eu, criança, via tão grande? Ele encolheu porque eu cresci. E tudo fica menor, assim, até mesmo aquele bolo enorme que hoje ocupa o espaço de um prato razoável. Só a saudade aumenta em desproporção sempre crescente. 

O x da questão

O "x" riscava a questão sobre os Jerivás, que passa frente ao bosque às quartas-feiras de manhã. Por um tempo, olhei, com minha mente sentada, para formar um sentido. Mas era apenas um x sem questão sequer. E fiz do x essa questão presente, que passa ainda pelos Jerivás, que imagino ser um pé de árvore. Trazer o pouco óbvio é um exercício de olhar para o céu numa manhã qualquer, depois de deixar as responsabilidades prontas e terminadas.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Me tira com riso o risco, tira que fico

De quando fui mais eu tenho como certo que era outro assim, maquiado, palhaço. Quem sabe não um pedaço, apenas, de riso contido, guardado, escondido, que eu transformado me revelava e até o dava. Se quase portão aberto com carro embaixo, a rua cheia e eu sem roupa, todo nu com as roupas de estar, me vi, então, mais bem vestido de branco, branco até o rosto. Verdade que me falta o final, sempre deixo a deixa para voltar num picadeiro parado, visto por trás, visto por todo dia simples assim como o é mesmo. E o riso contido é o melhor, faz cócegas ao coração, apalpa a alma e cutuca com penas de gansos brancos também aqueles pedacinhos todos de felicidade que se tem espalhados pelo corpo. Se for dificil ver, que com riso eu tiro riscos e digo para que ficas, é preciso da roupa branca se adaptar. Garanto riso durante e depois. O riso de antes eu só posso dar se me der primeiro o espinho que vejo ai, cravado. É uma troca com troco, e troco de ideia se não o trocar para melhor assim, comigo de branco.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Por onde andei enquanto você me procurava

Daquela estrada toda tortinha não se via a ponta do fim, e caminhava, assim, sem mesmo saber o que tinha do lado de lá. Caminhava porque a gente é caminheiro, e todos, mais ou outros menos, andam assim por estradas tão, mais ou nem tanto, tortinhas como a minha. Mas a minha tem severas curvas que não são fatais. Conto que, certa vez, peguei carona noutra que era quase reta como pau de pipa, mas fatal. E fatalizou-se ali um coração que era lindo e que eu amava tanto. Desde então ando feito folha que cai da árvore. Dou curvas, giro sobre mim mesmo e não me importo nada se precisar voltar. É que não se volta nunca, a gente sempre se vai, percebe? Igual as estradinhas, conheço várias, mas cada uma delas fica tão diferente quando eu passo pra ir ou pra voltar que nem te conto, precisava monstrar. Eu te levo para onde for, mas não vamos veloz. E tem sacolejos, mas tudo dá certo porque eu sei onde vou sacolejar. E até gosto depois que passa o balanço, imagina! Ele é um índice de que estaremos em movimento. Não se se move se não se balançar.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Entrave


Certa vez entravei: a maçã boa ou a não boa e fiquei pensando se seria caso para a ética, a moral ou para a polícia. Decidi que tinha saudade, e isso bastou para escolher outra maçã. Mas ela poderia não ser doce como a de antes, não ter a textura podre a que estava eu acostumado. Mas era mesmo podre? Não, nem eu mesmo, que a segurei por tanto tempo em mãos, saibo responder. Talvez fosse, porque não a seria? Fato é que me agradou a mais colorida, a que menos se era diferente, a que não fazia das outras iguais a ela. Peguei, então, a que era ela mesma, e eis que tudo foi mais natural, até mesmo eu me acostumar à ela. Numa segunda, foi isso que pude fazer, pois a porta/janela estava aberta e só. Nem vento entrava, nem nada. Nem sombra. Mas eu estava lá, do lado aqui, de dentro, esperando ela entrar. Mas ela preferiu falar ao telefone que não estava lá se preocupando muito, que frescura não era a dela. E quando, então, a maçã em minhas mãos me falou ao coração, faltou dúvida, caiu, então, a certeza de não se saber o que passa. E nossa história não estaria pelo avesso assim, sem final feliz, sem coisas bonitas para se contar. E, até lá, vamos viver, temos muito ainda o que fazer.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ligamentos durante a meia idade e a vida inteira

Para alguns já falei sobre um desacordo: estar "conectado" não significa estar "em conexão". Questionaram isso, dizem ser a mesma coisa, mas talvez porque alguns olhos vejam uma coisa só. Já vivi as duas, sei se tratar mais além. Estar conectado à uma bolsa de soro não significa que eu queira assim estar, mesmo que mantenhamos uma certa conexão, ela, com certeza, não é mútua. Conectado é questão física, mesmo que elétrica, mas conexão é estar espiritual, mesmo que também se repita fisicamente. Entendi também, e não com vivências poucas, que fazer um caminho sozinho não significa fazer uma caminhada só-litária. Mesmo quando tudo que eu tinha dependia apenas de mim, foi qualquer palavra de próximo que me iluminou. Enquanto nossos caminhos são trilhados por nossos passos apenas, nosso bússula aponta pra onde a alma se divide. E aqui pode morar o não compartilhamento. Deixe que se caminhe sozinho, mas nunca só. E, para isso, amigos e colegas que surgem como núvens e se vão como chuvas são importantes. Não porque, no final, você terá vencido um caminho sozinho, mas sim porque, durante todo o percurso, você nunca esteve só.