segunda-feira, 31 de agosto de 2009

CAMINHOS PERCORRIDOS

Se achas que podes caminhar. Se acreditar que pode correr e não ganhar. Se queres trilhar e não se dá ao luxo gratuito de explorar. Se queres passar e passando deixas-te de se identificar pelo percusso. Se perdes nome, rosto, identidade e família. Se abre mão dos cuidados de uma estrada já traçada. Se escolhe um caminho mais escuro porque sabe que é nele que se acha tudo que se deixou por outros mais curtos e claros. Se queres piso liso, grama aparada e água de fontes geladas.

Como vais encontrar a si mesmo? Como trilhar uma nova vida se percorres uma já vivida? Como procuras luz em lugar onde ela já se teve e se apagou? E se apagando que graça teve acendê-la novamente? Porque não deixas-a dormindo? Como pensar um novo caminho se segues tantos velhos? Cadê suas vontades se andas pelas dos outros? Cadê, me diz cadê, aquela velha bússula do seu pai que ganhaste para justamente ser o caminho a ser encontrado por outros?

Se não queres calos ponha um tênis bem macio e vai por ai, pulando as pedras das quais não se lembrará e as deixe para mim, que pisando me lembrarei delas e com elas construirei meu castelo, meu caro amigo e simples errante.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

TODOS OS PRAZOS QUE CUMPRIMOS

Me lembro que tive 1 semana, entre a contratação e o início do trabalho, para providenciar os documentos "necessários". Depois, os prazos passaram a ser até às 18h, quando então iria pra casa. Em casa, precisava me banhar antes de dormir, o que eu fazia, normalmente, depois de não deixar passar o prazo do cuzimento do macarrão. Se não a fome teria 12h para ser saciada. Dá para voltar mais.

Claro que não lembro bem, me contaram depois, mas tive umas boas 5h entre o sair do papai e grudar de vez na mamãe antes de mais nove meses para esperar. Precisei cumprir tais prazos. Com certeza o mais dificil foi aguardar, pacientemente, o início dessas 5h iniciais. Os outros nove nem tanto. Foi, praticamente, protocolo. Depois os prazos fizeram-se flexiveis, era manhã, tarde, noite, madrugada e todos os meios desses todos.

Mais tarde, quando passavam-se os prazos para me matricular na escola e o sair e voltar de férias, percebi que todos os prazos vinham mais de antes que eu. Sequer eu abracei uma mísera molécola de carbono todos já eram praziados. Eu herdei isso. Cumpri os mais diversos possíveis, e ainda os cumpro. Começa cedo, vai até o meio do céu com o sol - e os outros tantos entre o meio de alguma outra coisa - depois volta, ai começa o seguinte e termina e chego em casa já com tantos prazos ainda que me pergunto se tem prazo para isso acabar.

Saí para caminhar, igual que nem parecido com a imagem que ilustra esse poste. E percebo - para meu tranquilizar pois já esperava por mais prazos - que tudo se move se prendendo a esse algo que nos diz o que fazer. Tenho mais 15min para terminar o texto, e caminho com passos que veja, até ali, eu acho mas não tenho certeza... até ali, você vê? o trincado no muro? vê? até ali tenho mais 15 minutos... mais uns 15 passos, umas 30 respirações, 40 piscares de olhos, 10 engulidas de saliva, 4 assobios, 2 coçadas na cabeça, 18 batidas da bengala no chão... em mais 15min.

*texto dedicado à Fapesp, que tanto prazeia os estudantes brasileiros.

domingo, 16 de agosto de 2009

MEU SANNSET BOULEVARD POR CARTA

Caro amigo universitário, como vai?

Vejo que hoje me vi em seu lugar, e em seu lugar já estivemos eu e mamãe. Nos abraçavamos por igual, mesmo motivo, mesmo riso sem graça, mesma certeza do filho estar saindo mundo afora e da mãe se voltando para nossa casa tão querida. O chinelo de dedo para dar conforto na viagem - e perceba minha identificação: mesma distância! - e a vontade de que fosse dia e não existissem noites para que o filho pudesse por ai sair.

Às vezes secava garganta. Às vezes hidratava os olhos. Às vezes havia pressa. Às vezes não havia nada. Às vezes era só mais uma certeza de que daqui poucos dias tudo se repetiria. Mas confesso que nenhum deles me pareceu igual. E vendo vocês hoje, como se fosse eu e ela, tudo me fica mais longe ainda, e perto, perto tanto como dentro do peito. E de dentro não me sai, por isso vocês me mandaram tão longe no tempo e no espaço, sentindo àquele meu momento outra vez.

Quanto foi, 10, 15 segundos? Não... menos. Foi rápido o abraço. Senti o calor, acho. Me pareceu então. Mas quando lhe digo e você me diz que assim você pára para pensar que talvez depois você sinta saudades, eu sei que é verdade. E sei que vai ser assim. O abraço você também um dia vai ver outro igual e vai sentir o mesmo que eu. A saudade não vai, a não ser acompanhar você.

Por tanto, caro amigo, sintirá-se rico. Tanto te enriquece que nem percebe. Tanto tens que não carrega contigo. Espere. Se assim como a eu e ela, certo dia, talvez quem sabe, quererás que não mais o tenhas contigo porque pesa. E pesa tanto que te cola no chão, te paralisa e você vai ver em outro, um dia, em algum lugar, um abraço que nem parece: carrega luzes que lhe ativam a mente e te sente não poder tocá-las.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SENTINDOS OS SENTIDOS

Seres de luz que baixa sono em escuro recesso. Olhos vêem apenas projeções, mas cegam-se aos poucos na tenra aurora. Cegares, que mundo enorme se abre. Fechais olhos, moço apressado. Perceba evolução, lhe cegou os sentidos e lhe deu visão. Que tanto de mundo isso lhe diminuiu, ah, garanto que mais que possa ver. Vejo em praça aberta e ela some. Não basta. É pequena para mim. Pois a noite me mostra mais. Esqueceste? Sons... sabores, temperaturas, arrepio que ilumina mais. Um passo e tal terreno não é mais óbvio, há desequilibrio, há eu e o lugar, há uma ligação que a luz apaga, engraçado. Eu percebo distâncias. Entre pé e chão, o desequilíbrio mostra energia puxante, dizem 9,80665 m/s² .

E dizem impossivel ir mais além da luz, que energia muita precisa. Mas que nada. A luz não é que leva. É que volta. E bem antes. Se dia, mais antes ainda, é um passado 8min e 18s. E disso percebo que para ir antes não é preciso dela. Sem luz, há o que? Vida não sei. Mas há espaço antes da luz. Tempo e Espaço e Luz não? Espaço visto por luz, mas tão depois! Ah, sente-se, velho. Tire um cochilo que a luz ainda demora quase uma eternidade para lhe mostrar seu caminho.

domingo, 9 de agosto de 2009

9/8/9 = onti.

Sabe... a luz ideal, o instante perfeito, ou "decisivo", a vida que brota da terra e vidas que dela também se faz viva. O sorriso que chega, a alegria que vem e fica, os momentos bons sempre lembrados, os presentes dados com flores e as flores todas que pudemos cheirar, mesmo as sem perfume, cuja beleza por si mesma já nos atinge aos olfatos. A cor, tem cheiro.

E mesmo com tudo isso, há pessoas que se ajudam, mestres sempre dispostos, livros que sempre se emprestam e que vem e vão. Há os sorrisos frouxos da manhã, o café pelando compartilhado e boca com o gosto do pão com manteiga delicioso. Eu penso nos momentos que vivi, nos cafés que tomei, no gosto do leite que esquenta minha boca abaixo dos óculos escuros, é segunda-feira, é quase um momento de eucaristia: o silêncio do trago, o olhar looooooooonnge e a mente, hã! a mente, mais longe do que pelo buraco de minhoca.

Há ainda aquele outro olhar, na mesa distante, igual que nem o meu. Deixa de ser olhar pois nessa é um espelho, reflexo da minha própria alma. E como são deliciosos, tem gosto de pão quente com café pingado. Tudo isso me lembrou essa foto, a vida sobre a vida literalmente e a beleza colorida de uma flor que seu cheiro se sente pelos olhos; tudo estava tão em harmonia que eu pedi uma nova canção ao universo... e então me lembrei de Wagner.

9/8/9 = hj.

Sabe... a luz baixa, a música já ultrapassada, o sono que não vem, os trabalhos a serem feitos, os prazos estourando, a geladeira desarrumada, a camisa para passar, a alma para lavar. E o céu escurecendo, os carros passando mais e mais acelerados, a rua mais e mais esburacada. Mas apesar disso o mercado está mais caro, o leite subiu e o álcool combustível tem o valor mais alto do ano. A roupa já perdeu a cor e está a 20% de sua vida útil, a pintura do carro áspera e perdendo seu brilho, o sapato com o couro já gasto e as blusas de frio com um pequeno orificío embaixo dos braços. Tem aquela jaqueta jeans que tanto gosto e que não sei onde está.

E mesmo com tudo isso, a locadora sobe o preço e tira a promoção, o cinema aproveita a alta temporada de férias e corta a meia entrada, venceu minha carteirinha do Sesc e o Shopping traz diversas atrações pagas para me tentar. Eu penso nos meus votos que não acertei, naqueles políticos todos que eu gostaria de desejar algum tipo de mal, como o que eles me concedem com sua falta e incompentência, até mesmo o segurança que manda e desmanda, o professor de teatro que faz planos e nos coloca dentro como se o sonho dos outros significassem sonhos para mim - e não devaneios.

Há ainda o frentista que parece querer que eu ligue o carro e vá embora, o dentista que não quer que eu saiba do que ele sabe, o mundo que me quer nos formatos dele e meus próprios formatos que não importam a mais ninguém. Tudo isso me lembrou essa foto, que tirei num dia de chuva; tudo estava tão tranquilo que eu pedi mais um dilúvio... só que ele foi mandado para Santa Catarina.