domingo, 30 de março de 2014

Meio incompleto


Meia parte minha pensa em palavras repetidas. Pensa em atos repetitivos e escolhe hábitos igualmente repetitivos. A vida - sua rotina - tornou-se repetida. Meia parte minha pensa no violão do quarto. Pensa em pegá-lo, tocá-lo, sem terminar uma canção sequer. Tornou-se repetitivo esse hábito. Mas foi abandonado após o casamento por motivo de estorvo. Outra meia parte minha deita-se. Repetidas vezes acorda cedo para trabalhar. Mas pensa, às vezes, em viver das dificuldades naturais de quem traz pouco sustento. Meia parte discute com meia outra parte. Não há acordo. O coração sente e a razão diz que não há razão em assuntos como este. No fim todos sobrevivem: meias partes, meio coração e meia razão. Mas uma coisa é certa: meu meio já está incompleto.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Pequena flor de plástico


Chegou como todas chegam: colorida, cheirosa, prazerosamente. Mas aos poucos foi-se desbotando. Aquela pequena flor de plástico não sabia mais como respirar. Foi dado água, adubo, carinho e músicas do Nando Reis. Continuou a morrer. O que aconteceu, não sei. Mas suponho: plantas de plástico não precisam ser aguadas, adubadas e cativadas. Muito menos escutam música. Mas aquela pequena flor era falsa. Tão falsa que sequer falsa parecia. Fez-se verdadeira somente para falsear sua essência. E não é que ela floreou? E deu cheiro a danada. E cantava aos fins de tarde. Foi então convidada a ser entregue a alguém como prova de amor. -"Mas... eu não posso nem comigo!", e suspirou em lamento. E foi assim que foi deixada ali.