segunda-feira, 22 de março de 2010

Me tira com riso o risco, tira que fico

De quando fui mais eu tenho como certo que era outro assim, maquiado, palhaço. Quem sabe não um pedaço, apenas, de riso contido, guardado, escondido, que eu transformado me revelava e até o dava. Se quase portão aberto com carro embaixo, a rua cheia e eu sem roupa, todo nu com as roupas de estar, me vi, então, mais bem vestido de branco, branco até o rosto. Verdade que me falta o final, sempre deixo a deixa para voltar num picadeiro parado, visto por trás, visto por todo dia simples assim como o é mesmo. E o riso contido é o melhor, faz cócegas ao coração, apalpa a alma e cutuca com penas de gansos brancos também aqueles pedacinhos todos de felicidade que se tem espalhados pelo corpo. Se for dificil ver, que com riso eu tiro riscos e digo para que ficas, é preciso da roupa branca se adaptar. Garanto riso durante e depois. O riso de antes eu só posso dar se me der primeiro o espinho que vejo ai, cravado. É uma troca com troco, e troco de ideia se não o trocar para melhor assim, comigo de branco.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Por onde andei enquanto você me procurava

Daquela estrada toda tortinha não se via a ponta do fim, e caminhava, assim, sem mesmo saber o que tinha do lado de lá. Caminhava porque a gente é caminheiro, e todos, mais ou outros menos, andam assim por estradas tão, mais ou nem tanto, tortinhas como a minha. Mas a minha tem severas curvas que não são fatais. Conto que, certa vez, peguei carona noutra que era quase reta como pau de pipa, mas fatal. E fatalizou-se ali um coração que era lindo e que eu amava tanto. Desde então ando feito folha que cai da árvore. Dou curvas, giro sobre mim mesmo e não me importo nada se precisar voltar. É que não se volta nunca, a gente sempre se vai, percebe? Igual as estradinhas, conheço várias, mas cada uma delas fica tão diferente quando eu passo pra ir ou pra voltar que nem te conto, precisava monstrar. Eu te levo para onde for, mas não vamos veloz. E tem sacolejos, mas tudo dá certo porque eu sei onde vou sacolejar. E até gosto depois que passa o balanço, imagina! Ele é um índice de que estaremos em movimento. Não se se move se não se balançar.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Entrave


Certa vez entravei: a maçã boa ou a não boa e fiquei pensando se seria caso para a ética, a moral ou para a polícia. Decidi que tinha saudade, e isso bastou para escolher outra maçã. Mas ela poderia não ser doce como a de antes, não ter a textura podre a que estava eu acostumado. Mas era mesmo podre? Não, nem eu mesmo, que a segurei por tanto tempo em mãos, saibo responder. Talvez fosse, porque não a seria? Fato é que me agradou a mais colorida, a que menos se era diferente, a que não fazia das outras iguais a ela. Peguei, então, a que era ela mesma, e eis que tudo foi mais natural, até mesmo eu me acostumar à ela. Numa segunda, foi isso que pude fazer, pois a porta/janela estava aberta e só. Nem vento entrava, nem nada. Nem sombra. Mas eu estava lá, do lado aqui, de dentro, esperando ela entrar. Mas ela preferiu falar ao telefone que não estava lá se preocupando muito, que frescura não era a dela. E quando, então, a maçã em minhas mãos me falou ao coração, faltou dúvida, caiu, então, a certeza de não se saber o que passa. E nossa história não estaria pelo avesso assim, sem final feliz, sem coisas bonitas para se contar. E, até lá, vamos viver, temos muito ainda o que fazer.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ligamentos durante a meia idade e a vida inteira

Para alguns já falei sobre um desacordo: estar "conectado" não significa estar "em conexão". Questionaram isso, dizem ser a mesma coisa, mas talvez porque alguns olhos vejam uma coisa só. Já vivi as duas, sei se tratar mais além. Estar conectado à uma bolsa de soro não significa que eu queira assim estar, mesmo que mantenhamos uma certa conexão, ela, com certeza, não é mútua. Conectado é questão física, mesmo que elétrica, mas conexão é estar espiritual, mesmo que também se repita fisicamente. Entendi também, e não com vivências poucas, que fazer um caminho sozinho não significa fazer uma caminhada só-litária. Mesmo quando tudo que eu tinha dependia apenas de mim, foi qualquer palavra de próximo que me iluminou. Enquanto nossos caminhos são trilhados por nossos passos apenas, nosso bússula aponta pra onde a alma se divide. E aqui pode morar o não compartilhamento. Deixe que se caminhe sozinho, mas nunca só. E, para isso, amigos e colegas que surgem como núvens e se vão como chuvas são importantes. Não porque, no final, você terá vencido um caminho sozinho, mas sim porque, durante todo o percurso, você nunca esteve só.