terça-feira, 31 de maio de 2011

Que seja assim, é o que eu quero mais



Quando eu abrir os olhos pela primeira vez hoje, que seja para sorrir pelo beijo no rosto que você me deu. Mas se o motivo for outro, que seja para eu lhe dar um beijo para aliviar sua dor. Na hora do café, se me estendes daquele pão, que seja para dissolvê-lo em sabor em minha boca. Mas se não for por isso, que seja para agracermos, juntos, à Ele pelo pão, mesmo que um pouco amanhecido. Chegando no trabalho, que minhas primeiras palavras ditas sejam para matar a saudade de um dia longe dos colegas de profissão. Se não forem minhas, que as primeiras palavras escutadas reflitam este meu desejo. Ao correr do dia, que todas as situações se resolvam por sí mesmas. Mas se demasiadamente pesadas se apresentarem, que nossas forças, unidas, sejam o suficiente para levantá-las e afastá-las do nosso convívio. Que meus alunos aprendam algo comigo. Ou então, acaso não forem suficientementes adequadas minhas palavras, que eles me ensinem algo de útil, e que eu aprenda com eles. Que no caminho de volta pra você meus pensamentos sejam carinhosos, amorosos e ardentes. Ou então que sejam suficientemente adequados para apenas estar ao seu lado. Que seja assim, é o que eu quero mais.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Primeira da parede



Semana passada, ao chegar em casa, destranquei a porta e a abri. Parei, olhei para o que via e pensei: não há fotos em minha parede. Nem sobre o móvel da televisão, nem no quarto. Não há fotos! E no entanto há tantas e tantas fotos! Essa, acima, será a primeira enquadrada e pendurada na parede. Não sei porque essa, mas será ela. Ela me toca. Foi tirada às 18h do dia 16. Estava indo para Araçatuba-SP ministrar aula.Queria apenas registrar a lua, clareante, tendo a sua frente os fios, que fornecem energia para clareação, fazendo um trocadilho imaginário bobo. Os pássaros (note bem os vultos, próximos à lua) saíram ao acaso. Foi preciso escurecer para que a lua se iluminasse, senão ela sai só um borrão claro. E ai é que está minha metáfora atual. Acho que é ai que gosto da foto. Andei me escurecendo para poder me ver. Graças a isso, algumas sombras se revoltaram, elas apareceram. E sinceramente? Eu me importei com elas. Elas dizem coisas que eu já dizia a muito tempo. São como lamentações intermitentes, mas que eu não tenho mais paciência para tolerá-las. Gosto quando a lua cheia aparece, se mostra. Quando pendurar, mostrarei.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Desafio de luz



A fotógrafa e o artista travam uma batalha. Conseguirá ela, ao final dos seus modernos e quase infindáveis cliques digitais, conseguir captar aquela luz, tão exata como a de milhares de anos atrás, que o artista pensa em emanar? Pois sim, se o artista chega à alguém, o faz pela luz. E, se tal artista assim desejar, até posar é previsível. Porém, o previsível é produto barato, de nada tem valor, quer ela, aquela que quer aprisionar raios de luz, justo o oposto, aquilo que não se tem simples assim. Procura sempre o diferente do igual, sendo que este, diferentemente se si próprio, se forma justamente a partir do seu contrário. Da próxima vez, eles combinaram: ele, o artista, será previsivelmente imprevisível; ela, a captadora de luz, será rápida mais quase que a própria luz, será um segundo dividido por centésimos mais depressa. Com essa esperteza toda, espera ela prender, eternizar. Mas, para o público, eternizado fica o que não é por objetiva dela captado. Eternizado fica somente aquilo que pelo coração é guardado, que pelos olhos são turvados pelas lágrimas e que pelos ouvidos são transformados em imagens. O público lembrará é do cheiro, do som que orienta e distrai, da imagem quase apagada que é obrigado a completar com seu repertório de carinho e encantamento, se houver.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Das coisas que faço quando estou em casa



Levanto e ando 10 passos, distância do sofá até minha cozinha. O armário sobre a pia guarda um pequeno pote de capuccinno; ao seu lado, um saco de café solúvel granulado. Me viro, abro a geladeira, e confiro se há leite. Não há, há tempo não compro. Pego, então, a caneca e encho de água. Passo-a para uma caneca de metal que vai ao fogão. Não gosto de microondas. Esquento, sem deixar ferver. Três colheres de pó de capuccinno na caneca, despejo, lentamente, a água, enquanto mexo-a com a outra mão para dissolvê-lo. Terminado, ficou espumoso. É desses prontos, que já colocam espuma misturado ao pó. Aperto o pregador de roupas que lacra o saco de café solúvel granulado e solto-o da embalagem. Ele mantém o café granulado fresquinho, livre da ação do ar. Meio que polvilho sobre o capuccinno. Ele não afunda. Faço um balanço assim, com a caneca, para que uma movimentação circular do líquido aconteça dentro da caneca. O granulado em pó, então, se desfaz, mas continua heterogêneo. É aqui que conversamos. O granulado forma formas sobre a espuma. Eu formo meus pensamentos e os dissolvos na boca a cada pequeno trago.