segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Prazer em conhecê-lo



Há uma estranha aproximação em todos os finais de ano. Dois entes que se aproximam, se tocam, se beijam, e não se veem mais. Aquele que se aproxima é sempre um desconhecido. Traz, às vezes, expectativas sobre ele - boas e ruins - mas sempre é desconhecido. E acostumamos a nos entregar a ele de forma calourosa, vibrante. Àquele que se afasta, agradecemos e mantemos ele presente em nossas fotografias e memória. Duas presenças assustadoras pra mim. Não tenho de nenhum concretude, mas sempre sonhos, esperanças ou memórias e fotografias. Ambos coexistem, mas não se tocam. Há um momento no qual eles se olham, se aproximam, tenho certeza que se tocam e, da mesma forma fugaz, se afastam, ainda se olhando, com o que sobrou de molhado do beijo que trocaram por formalidade. As luzes acesas, o barulho de rojão, o álcool no sangue das pessoas, o olhar curioso da criança, a comida pesada no estômago e a presença de pessoas queridas ao nosso entorno. Esses dois caras observam tudo isso. Ambos podem nos trazer novas presenças cada qual da sua maneira: ou pela memória do ente passado de pessoas queridas que amamos e que se foram, ou pela força do ciclo que renova nossa humanidade. Ambos trazem dor e alegria, ambas emoções se misturam e formam aquilo que de mais essencial e exclusivo há em todo o universo: a vida humana. Prazer em conhecê-lo, ano novo. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Ar, comida e água


Em meio a tantas e tantas inquietações é fato que acabo ocupando meus pensamentos naquilo que, momentaneamente, me parece desesperador. Qual a função da ponte se não houver dois lados para se cruzar? Qual minha importância em sua vida se você não precisa de um abraço apertado meu... De tudo que tenho querido, ser seu fundamento vem em primeiro lugar. Sabe, aquela rocha que segura o barrando? Aquela nuvem que derrama água ou aquele amendoim que vira pé de moleque? É meu desejo. Mais! Coisas simples e clichês: a tampa de sua panela! Quanta poesia existe no ditado popular! Mais necessário do que estruturar e alicerçar minha vida é abrir um sorriso de bom dia pra você. Não pq eu queira ser substancial elemento, mas pq necessito me fazer útil. O amor tem dessas utilidades, não vê? De se ar, comida e água para o relacionamento à dois.

sábado, 20 de maio de 2017

Notas imperfeitas sobre ela


Nesses últimos anos todos tenho escutado sobre as minhas faltas de atenção. Como se eu não as conhecessem melhor do que ninguém. Toda elas, absolutamente cada uma delas, contam minha história: quem eu sou, como levo a vida, as coisa que tolero e as coisas que me toleram. Nessas conversas unidirecionais e quase dissociativas tento me esconder em vão, afinal, eu sou meus defeitos, assim como também sou meus acertos. O engraçado é que também tenho notas imperfeitas sobre ela. O fato de nunca as dizer não significa que não me incomodem de alguma forma. Significa que tenho serenidade para não trazer essas notas e deixá-las sobre a mesa de café da manhã ou do jantar ou começar nosso domingo com elas tomando um espaço que prefiro preencher como carinho e afeto. Por exemplo: no começo eu até achava engraçado todos aqueles copos sobre a pia, usados para o mesmo fim: tomar água. Cada copo um pouco de água. E assim todos os copos eram usados e deixados sobre a pia. E eu sempre os lavei, sem qualquer raciocínio pessimista sobre isso. Coisa pequena que, com o tempo, foi-se reduzindo até que não vejo mais tantos copos usados com o mesmo propósito. O tempo deu conta de ajustar os copos, pq eu me preocuparia? Outra nota da imperfeição sobre ela é o chuveirinho do banheiro sempre fora do suporte (que é a própria torneira) e aberto. E isso não me incomoda: a cada banho eu o fecho e o guardo, como quem ganha tempo para gastar com amor e não com reclamação. Também é comum se fazer a limpeza perfeita do quarto e deixar, sobre o notebook e a mesa de trabalho, antes arrumados, todos os fios e cabos que estavam antes no chão. Termina-se a limpeza, mas nem tudo volta ao seu lugar. O arrumado sujo deixa seu lugar para o desarrumado limpo: os fios permanecem ali por algum motivo também imperfeito que, com nem 2 minutos de leve esforço, tudo volta à normalidade sempre imperfeita de antes. A cama sempre desarrumada também me alerta: ali faltou atenção. Mas qual o prejuízo? Três, cinco minutos esticando ali e dobrando duas cobertas leves? Em um esmero olhar cabe o infinito se há amor. Comparado a isso, o prejuízo por expor tais notas imperfeitas em minutos de discussão ao invés de um olhar de ternura custariam várias eternidades de olhares. Seria muito prejuízo. O que dizer então da gaveta de roupa que, quase sempre mal fechada me impede de abrir a minha? E o espelho do carro que sempre é deixado pra baixo ou então, sempre que paramos, suas coisas são deixadas sobre o meu banco e não sobre o próprio banco dela? Coisas tão pequenas que sem minha ignorância explícita e proposital poderiam se tornar mal entendidos e discussões fúteis que levaria qualquer gostar que sobrasse para longe da nossa convivência. Há mais notas imperfeitas sobre elas, mas que ficarão para a próxima canção que estou compondo.  

terça-feira, 16 de maio de 2017

Te pegarei no colo


A Lua é minha bolinha de gude. Também é minha bola de capotão, minha bexiga voadora amarrada num graveto. De todas as brincadeiras ela é a mais gostosa: acaba só quando começa o dia. Criança ao contrário que sempre fui, me despeço do sono para ficar ali, olhando para ela. Já o Sol ilumina tudo, mas é tanto brilho que não se pode olhar em seus olhos ou brincar escondido no seu barulho diurno. Já a Lua revela baixinho todos os seus segredos e nos faz construir os nossos próprios para guardar em seu silêncio noturno. Enquanto ela é cúmplice, o Sol é dedo-duro, não deixa a gente esconder nossas brincadeiras por mera travessura. E ele brincará só por isso. Te pegarei no colo um dia, Lua linda.