quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

21 anos separam eu de mim



Ontem deu saudade. Daquelas que às vezes pegam a gente de jeito. O gatilho, claro, foram as coisas atuais que entraram em conflito com aquelas da memória: árvore de natal não montada em pleno 19 de dezembro. A família longe, distante, apesar do contato constante. Falta o cheiro, sabe. A porta que abre bruscamente, o barulho dos cachorros tão carinhosos com quem eu não consigo trocar mensagem. E então revejo essa cena de um trabalho de biologia feito com pessoas que sinto boa saudade, em 1997: 21 anos separem eu de mim. Para uma boa parcela da população, ver a si mesmo é natural. Para mim não. Não existia celular, computador, internet na cidade. Naquela época, tínhamos uma câmera na mão e uma vontade enorme de sair pelo mundo, conhecer e ver novas coisas. Aquele eu se encontra, hoje, com este. E o encontro é cheio de saudade e de abraços mais que apertados. Hoje a saudade ainda continua.

domingo, 1 de julho de 2018

As Leis do Termoaconchego


As Leis do Termoaconchego são poucas. Provavelmente vocês já as conhecem, mas vou ajudar: basicamente trata-se de abraços. Elas dizem que se a gente se aproxima muito de alguém pelo qual sente-se imenso carinho então terá juntado entre estes - ao espaço de um abraço - tanto sentimento que isso tudo trará um equilíbrio. Em outras palavras, sabe aquele calorzinho de um aperto demorado? Está ai. Mas preste muita atenção! Depois deste encontro é extremamente necessário que vocês elevem a temperatura deste abraço pela adição de mais sentimento, sobretudo ao logo da vida, trabalhando pacientemente e sempre sobre essas leis. Senão pedirás (coitados!) que um abraço quente passe calor para um abraço frio... Bom, e apesar de parecer com qualquer ramo da física, na verdade, o Termoaconchego foi fundado no ramo físico mesmo, onde as práticas zombam das abstrações teóricas e onde quatro braços devem se abraçar sem culpa em seus mundos sem a obrigação de nada mais além dos apertos no espaço e do interminável tempo da juventude.

sábado, 19 de maio de 2018

Espaços, paixão e transformações



Há alguns espaços não ditos. E são tantos e de tantos! O do Sol, sem a presença da Lua. O das demais estrelas, com aquele vazio presente entre tantas e tantas galáxias. Não é uma questão de estar próximo. Não é físico. Não é explicativo. Algumas transformações não podem ser imediatas: precisam de bilhões de anos. Transcendem, e acendem naquela poeira que vagava no espaço vazio uma luz que vai, em duas ou três gerações de sois, finalmente, fundir materiais mais pesados que a nossa mera vontade, materiais como a paixão e o amor. Nem toda luz que se forma produzirá paixão e amor. Ela não pode ser nem muito grande e nem muito pequena, tem que ter um tamanho exato. E essa é a ironia da harmonia de toda a natureza. Algumas pessoas possuem uma grandeza ou uma pequeneza tão extremas que jamais fundirão sua essência em sentimentos. Permanecerão astros chamativos, sem vida ao seu entorno. Que triste para estes. Na pressa do Moço Santiago eu percebia apenas que a paixão marcava a pele. Nas tristezas deste Velho, finalmente percebo que tais marcas é que forjam o amor.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Um universo dentro de mim, um vazio ao seu lado


"Não seria muito um universo se não fosse o lar das pessoas que você ama". A foto é do Moço Santiago, já a frase é atribuída a Stephen Hawking, que semana passada passou a ser mais uma estrelinha no céu. Ele brinca com a ironia de que o universo, apesar de incomensurável, não tem sentido sem as pessoas realmente importantes em nossas vidas. Acontece que, às vezes, sinto este universo tão pequeno e vazio (pois se faz agora mais uma vez). Vazio pq apesar de tantos esforços para dar significado parece não haver forças (que eu espero) para preenchê-lo com aquilo que Hawking chamou de amor. Algumas formas de amar trazem frio e dureza. O limite externo parece claro, enquanto o interno não. A água, necessária em nossas vidas, mata em contato com o corpo externo se demasiadamente fria. Qual o limite da tolerância? Quando é hora de ir embora (e como, astronauta?) deste universo que se faz vazio? Nesse universo dentro de mim, cada vez mais se revela um vazio ao seu lado. O mundo tem menos espaço sem você aqui, Stephen.