quarta-feira, 30 de maio de 2012

C...ontradição


Eis que me deparei com uma possível contradição: disseram que meu pó de café não serve. Logo o meu, que é tão gostosinho quando passado? Há um desacordo nisso. Em resposta eu disse que sequer fora provado para ser aprovado ou recusado. Precisamos, portanto, fazer um acordo breve: que se analise todos os demais cafés, sejam de altitudes, de coloração fraca ou mais escura. E apenas por último o meu, para efeito de comparação. Confesso que é sim uma estratégia. Ao provar dos demais, que suje sua língua com as marcas daqueles grãos que são colhidos e oferecidos indistintamente. Carregue seu olfato com aquelas lembranças e guarde bem o retrogosto na sua memória. Depois, mas somente depois, venha ter com o Velho esse gosto prazeroso. Certamente ele não se importará de ser o último nesse roteiro. Mas venha seguro de si, reto com seus sentimentos e com boa autoestima. Haverá queda de sua firmeza quando perceber todo o tempo perdido antes desse último café. E, então, não tirará essa última xícara da boca. 

domingo, 27 de maio de 2012

Amanheceres de minha vida


Amo amanheceres. De primaveras, verões, outonos... demorará ainda até o inverno chegar, mas talvez os amarei também. O bom desses amanheceres é poder sair de casa, rapidamente, e por ao menos os pés pra tomar daquele sol novo, fresco, em tenra idade. Os sóis da manhã me deixam feliz. Eles me fazem duas vezes bem: me mostram sempre um novo amanhecer e aquecem aquela minha velha casa e suas marcas. Queriria poder retribuir aos amanheceres tudo aquilo que eles me trazem. Mas sou tão pequeno que, sinceramente, meu aparecimento sequer deve significar alguma coisa na vida desses sóis. Também não tenho tal intensão... Meus pés ou mãos, que exponho muitas vezes desprotegidas aos seus raios, sentem um leve tocar. E ficam marcados, assim como minha alma ainda com cara de sono. Os sóis dos amanheceres devem vir mansamente. Espero isso deles. E devem passar. Como em todas as manhãs que viverei. 

sábado, 19 de maio de 2012

Chuva pra minha fertilidade

*Pra Pipa, a moça menina que voltará a acreditar em príncipes

Aqueles velhos dias de chuva voltaram. Uma vez por ano eles voltam. A cada ano, em sua devida estação, tenho plantado sementes bem específicas, cuja própria terra me ensinou a semeá-las adequadamente. Se fora da estação, com ou sem chuva, elas não rompem a terra novamente virgem, muito menos germinam. Assim como a devida chuva, uma vez por ano volto a rememorar minhas saudades. Diferentemente de Gaia, por vezes gero em meu seio colocações inadequadas: chove quando minhas sementes precisam de sol, e há uma estiagem quando nada de água cai. Percebi que meu ano pouco tem forma e sentido. Meu ano é finito, enquanto suportar abrir os olhos pela manhã. E nessa duração vou semeando, aguando e colhendo à mercê de fatores que - muitas vezes - de nada tenho a ver. É complicado quando chove de mais. Mas sei que sem essa chuva tanta secura de antes não teria como curar. Só assim pra deixar esse seio novamente fértil. 

A foto tb é do velho. 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A palavramundo não se faz

Quando criança fiquei a olhar para os lados. Olhei para cima, para baixo e todas as diagonais elementares e cores corridas de um prisma. Olhei o mundo antes de olhar por uma janela que me mostrou o mundo. Hoje as janelas são menores e mais coloridas, nos encantam e nos levam para onde elas se abrem. O que percebo foi que minha janela, talvez porque simples, me ensinou que era mais vibrante olhar, antes, o mundo que se abria diante dos meus olhos. O tempo lento de descobrir a palavramundo curvou-se ao tempo eletrizante do liga e desliga das novas e superápidas janelas eletrônicas. Antes, acordava e ouvia o som por detrás da minha janela que, lentamente, rombia seu segredo com a chave correspondente. Se fosse hoje, meninosantiago já levantaria com o som na cabeça, assim como o moço o faz. E não gostamos disso. Mas entendemos o processo. E damos graças a Ele que somos do tempo lento da palavramundo. Pena sente o velho, que lamenta não poder ver essa geração inerte se desfazer na sua ilusão tecnológica.

Img do moçosantiago.