quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A VERDADEIRA ESTRELA DO NATAL

Dizem que uma estrela guiou Baltasar, Melchior e Gaspar até o local que Maria teve Jesus. Graças a ela, ele recebeu ouro, incenso e mirra, que representavam a nobreza, fé e o sacrifício. A estrela deixou Jesus homem antes que pudesse ser criança. Por isso o natal é para todos: porque, homem, ele é todas as idades e sexos. Mas acho que a verdadeira estrela é outra, é a minha. É porque acho que Natal não é para todos: é para a criança.

Natal feliz tem presente, tem brinquedo, mesmo que o brinquedo que se queira não tenha rodinhas. O brinquedo é assim porque se brinca; brinco (brinco -edo). Embora sufixado por -edo, provavelmente relacionado com a madeira, era disso fabricado aquilo com o que se brincava. A palavra brinquedo derivado de brinco, substantivo de vinculum, que significa também pingente, enfeite. Só é brinquedo se se puder levar e ser feito por alguma mão.

Meus pais não marcenaram nenhum brinquedo para mim. Mas fizeram relativo: em nosso tempo, troca-se papel por tudo, até plástico, que fazem brinquedos e que transformei em alegria e recordação. Em lixo também, quando os quebrava, mas era só uma subproduto da minha felicidade. Estrela de verdade para mim é outra. E ser menino não tem idade, assim como brinquedo não tem que ser de loja para criança.

sábado, 19 de dezembro de 2009

contraponto

É que nessa viela de São Paulo, em meio às lojas, uma outra loja me chama atenção. Fica ao fundo, de frente para todos, tal qual pagante de restaurante ou chefe de família. E ela vê o que mostro acima, um caminho longo, entrecortado por coqueiros e pessoas que se aventuram adentrar esses poucos metros. No meio, bancos, às 16h, sol na metade e metade sem o sol. Sento para ganhar ar.

Em tal loja, de pé, atrás da porta de vidro, outro senhor me olha. Loja de troca, compra e venda; uma loja mágica, que guarda tantos outros objetos de carinhos herdados dos pais, avós e se sabe lá quantas gerações podem repassar um mero relógio de bolso. O senhor, japonês, estou certo, parecia saber de todas as histórias dali, em promoção. Parecia saber da minha, que escondo virando-lhe as costas. Por hora, ainda a mantive minha.

Voltando-me para a entrada, noto que SP é mais do que avenidas cheias, é também corredores vazios. Percebi dois casal na 1ª loja, um bebê ainda na barriga, um cigarro, um café, e me deu vontade dele, que não tomei por estar sozinho. Para mim, café é bebida coletiva, ou um cigarrinho para não fumante. Acalma, mas me acelera, fico ligado. Quanta sensibilidade com o florescer da idade. Cafeínas!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

UMA VELA PARA CLAREAR A IDEIA

Uma vela para clarear a ideia e uma pessoa para clareado pela vela faz falta em noites assim, dessas que quase não tem fim. Quase ao nosso lado refresca uma garrafa de vinho, aberta e já pela metade. As taças suadas. Mais um gole. Outro sorriso, um comentário baixinho, a voz sussura. Um toque. Suave. Os olhares brilham mais com a fraca chama; a vela faz sombras, sequer parece nossa, e percebemos face dissimulada nelas.

Lembranças. Elas aparecem. Situações dessas trazem lembranças. Todas. O silêncio lá fora também lembra. Hora esta de rever amigos distantes, saudades guardadas, mágoas escondidas embaixo do coração. E o canto em que me encosto encosta outro ombro tanto igual ao meu, que também lembra. Estes cantos guardam lembranças que o vinho molha.

Esvazio a taça, ainda suada. Olho a vela sem prestar atenção no que o outro me fala. Penso se a vela ilumina um pedaço da minha vida ou se minha vida espera que ela se apague o mais breve possível. Tem o que ser escondido, mas não são segredos não. Essa luz mostra o que todas as outras escondem. Mostra nosso cara mais limpa. Mostra uma alma tão suada quanto essas taças.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O HINO QUE NÃO TINHA BANDEIRA

Eu mais Hino nos tivemos ontem. Já nos tivemos várias vezes, mas não como ontem. Ontem, tanto ele quanto eu estávamos sós. Ou não, uma vez que eu a ele e ele a mim éramos presentes. Notei, então, algumas sábias palavras suas. E notei, ainda, que seu discurso falava sobre as pessoas. Faltou-lhe, porém, a bandeira. Não havia para quem as pessoas e para o próprio se dirigirem, como manda o tal figurino.

E, mesmo assim, foi talvez o que mais a mim acertou. Na falta da representação verde amarela (acima), os presentes tiveram, talvez pela primeira vez para tantos como o foi a mim, apenas ao outro ali, do lado, à frente ou atrás. E tiveram, enquanto pessoas, o sentimento unido não pelo símbolo de cor, mas pela comunhão em si, que ai sim, o símbolo representa. Todos cantaram à comunhão e não à representação da comunhão oferecida pela bandeira e melodia.

Me encantei. O Hino cantado ao povo e pelo povo, e sem patriotismo servil. "Agora, dirijam-se ao seu outro para o (en)cantamento do Hino". Seria lindo, como foi ontem. E aplausos, muitos aplausos, porque se aplaude o que de belo existe e não se fica indiferente. Assim, mesmo sem gostar nada nada de solidão, creio aquele Hino de ontem ter sido o mais feliz já existido. Talvez, justamente, porque sozinho pôde se partilhar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

DESCANSO EM DEZEMBRO

Se nem tão cheia carrego minha sacola de mão, saiba o quanto ela me pesa mesmo assim. Já nesse tempo, a espera do último inverno, os sonhos dentro são quase como uma pétala no espaço. E necessito sentar para recuperar o fôlego, o mesmo fôlego que tanto deixei de aproveitar sem me dar conta da pressa do tempo. E ponho, talvez pela última vez, uns poucos sonhos - e nem tão essenciais assim - no chão.

Quem poderia querer me levar esses sonhos tão leves em peso? É seguro que eles ninguém me quer tirar. E os sinto um pouco com menos valor dito isso. Em minha frente, olho outras tantas sacolas. Quanto será que elas pesam nas mãos que as carregam? Será que tem o peso que a minha outrora tivera? Será que tem o peso que descarreguei para me aliviar? Será que, mesmo mais cheias, estão mais leves do que esta que me quase caleja?

Ninguém pára para falar do peso de sua sacola comigo. Ninguém quer contabilizar seus ítens de sonhos, e aposto que escondem aqueles que já arremessaram fora para se aliviar e andar menos encurvados. Sempre calejei a mão de sonhos, sempre os levei comigo. Sempre os quis. E me pesaram muito, me fadigaram, e hoje me fazem sentar nesse banco. Talvez seja por isso que não me importo de tirá-los do coração e pô-los no chão por um pouquinho de tempo.

PS: Imagem retirada na Internet. Não havia créditos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O PRESENTE É TÃO GRANDE

Tens ouvido as poesias caducas deste mundo? Elas cantam um futuro que já é, e tem se apresentado belo, veja só. Também tem escuras as partes ora distantes ora próximas e, em ambas, há amigos que juntos caem na mesma dança. Mesmos cansados, mantêm a esperança, dão as mãos, mesmo se mãos tão diferentes, mesmo se tão caducas, mesmo se em realidades tão opostas, como a do menino moço e do menino velho.

De mãos dadas, caminham para o futuro que não existe. Afinal, sobre o tempo, só mesmo o passado existe, todo o resto tão igual taciturno se desfaz. O presente é mais rápido que a consciência e o futuro se esvai por entre nossos dedos... como ele chega depressa demais!E, então, se transforma em lembranças próximas, sem se afastar muito. Uma criança - a mulher acriançou novamente -, uma história, suspiros e paisagens tortas.

Ainda muito jovem, desconhece os finais do poema, não escreve cartas, desconhece palavras e essência de morte. Não sei se conhece, já, uma ilha. Talvez um rio, um lago e o mar. Serafins, estou certo, o guardam. Se o guardam. E me dão provas disso. E acredito mais neles e noutras coisas pelo presente ainda humaninho. O que vejo se faz matéria, o tempo passado, os homens presentes meninos passados; velhos, como este, futuro. A vida se refaz a cada dia.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

FEITO BOLA DE SABÃO

Sabe quando você pega algo que já foi de você, daquele pequeno, do de antes, e que você já não mais o percebe? Quando sua mão passeia por coisas que já percorreram e que tu lembras o quanto desbravou com elas? Lembra da primeira sensação do barro, da lama, do sabão? Eu não. Lembro deles, sempre, mas não sinto mais a primeira vez. Porque ela se apaga?

A primeira bola de sabão, onde ela foi? Para aonde ela correu? Quanto tempo antes de... Plaft!, se desintegrar naquele dia. E que dia? Chuvoso, quente, vento forte. Queria quardar mais do tempo aqui dentro. Mas me sou seletivo sem eu querer e só o saibo depois de não poder mais me lembrar. Que coisa. Queria quardar tanta coisa que já me fez bem e o resto não.

Feito bola de sabão os pensamentos saem, percebeu já isso? Por um instante, sempre muito breve, são lindos, brilhantes, coloridos, voam para longe e vão se distorcendo, se alterando, vão afinando, são levados e, quando não se espera, Plaft! de novo. E então chega num limite que não compreendemos. Eles vão para onde não sabemos, e falam, enfim, apenas para uns tantos que aprender a ler nosso sopro.

PS: Crédito da imagem para "Ariadna´s". Mais do trabalho dela em: www.fotothing.com/Ariadna. Confiram!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

EU DO LADO TEU

Hoje me ocorreu. Da última vez nem me lembro quando eu do lado teu perguntei qualquer coisa descompromissadamente. Eu, que aprendi a não falar com estranhos, levei isso muito a sério. Aprendi ainda muitas coisas que também levei a sério e hoje elas me faltam. Aprendi que o céu não é azul porque reflete o mar, e isso me afastou dos oceanos. As núvens não são de algodão e eu nem tive tempo de bem quere-las doce. Imagine se bato no teu ombro e lhe conto isso.

Ali, do lado, um grupo conversa. Se conhecem. Eu, só no instante, não conheco ninguém, apesar de tê-los conhecido por aquela história do Estreito de Bering, tal; ou das imigrações. Atrás tem outro grupo que ri. Conversam, trocam impressão. Não me perguntam da minha. Não me olham nos olhos. Tem medo de mim. E eu, tão acarentado daquilo que nos falta, da humanidade que ainda não temos, faço o mesmo, porque também me falta. Mas me proponho a quebrar isso.

Quando encontrar um tempo/espaço adequado, acreditando poder haver um, olharei para o lado e tocarei um ombro qualquer, e direi algo como: - está calor hoje, hun? Não... melhor não, melhor dizer a verdade, sem frases comuns, sem tipos batidos já. Conto se recuperar o que me desfaz de humano, aquilo que me transforma em social individual ao invés de um indivíduo ao pé da palavra social. Não se assuste se, após o toque, lhe contar que comprei um perfume em 4x sem juros com entrada para 60 dias. Carnaval já tem conta para pagar.

*PS: merecidos créditos para a imagem de uma amiga, a "São Paulo" (preservarei o pseudônimo utilizado em sua página). Mais do trabalho desse ótimo olhar que nos empresta, aqui.

sábado, 14 de novembro de 2009

AMORAL

E assim ele se reclusou, primeiro, para organizar as ideias e refletir sobre elas. Organizou primeiro os sentimentos, sem palavras, para não perder a essência de cada uma daquelas interações químicas. Depois, tentou esquecer a química, ideia dos homens, construida e fundamentada por eles. Depois, tentou esquecer que pensava segundo aquele sistema que havia aprendida na escola. Apagou todas as aulas da memória e realmente reprogramou seu cérebro, fugindo daquilo que outro homem chamou de consciente e inconsciente, passando pelo subconsciente até entrar no quesito puramente incestuoso.

Por consequência, tornou se amoral. Sem sentimentos, sem ideias, sem ética, sem moral alguma. E isso lhe fez nem bem nem mal. Fez se a ele mesmo apenas. As palavras perderam sentido, não mais significavam. O pensamento, agora, funcionava de outra forma. As sensações eram puras, os sentimentos haviam mudados, já que agora, amoral, muita coisa perdera sentido sem a imposição de uma sociedade. O simples bocejar fora de hora, ofensa para alguns, agora era não mais do que ele mesmo e só. Depois da reclusão, tentou voltar, descer o morro e gritar aos seus iguais. Mas lhe ocorreu que outro poderia tê-lo feito. E se calou. E calando-se, voltou a sua anormalidade. Zaratustra ficou no chinelo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

AUTO RETRATO

Não é o saber que a ele incomoda, as histórias já vividas, o tempo já passado. É saber que ele tem pouco tempo para viver as histórias que gostaria, de sofrer muito e se modificar, de gozar das rosas, margaridas e orquídias que por ai se dá. Ele criou a consciêcia sobre o tempo. Sabe que prefere o azul, mas se tiver verde é uma cor para antes da preferida. Bebe água mas, se não tiver, prova do que estiver ao alcanse.

Escolheu uma profissão, mas percebe que adoraria outras. Não há tempo. Não porque não se pode recomeçar, mas porque nunca se recomeça. O começo é uma vez só, se dá na barrida da outra. Por isso ele olha a si e pensa que, talvez, sejas apenas mera representação dele mesmo. Procura um lugar que já tenha andado. Gosta de nele pensar sobre os outros. Se sente inseguro. Tem medo. Muito medo. Mas disfarça bem. Muito bem. Não transparece.

Tem segredos. Poucos. Tão banais, formaram apenas alguém que hoje é ele. Procura por si nessas histórias, olha para trás, vê bem. Então se olha no espelho, se olha para fora procurando o que está dentro. É mais facil achar no outro, no do espelho, que o fita nos olhos, ameaçadoramente, como se o de cá, o que provê o contato, fosse responsável. Não sabem o que procurar. Não encontraram sequer a direção, ou o rumo do vento que sopra.

Ele quer sair, está triste. É tarde, mas não importa. Porém, sabe que de nada adiantará e liga a TV. Senta. Passa todos os canais. Todos eles não tapam o barulho que agora escuta, nessa silenciosa madrugada. Vem de dentro. Alto, muito alto, e falam de coisas sem sentido. Nem ele entende. Então volta ao espelho. Fita o outro nos olhos, que volta a ameaçar-lhe. O recado é claro e silencioso. Ameaçam-se ao mesmo tempo. E cumprem o não dito.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

COMO PIEDADE

Nós, o homem inferior, aquele que sente, que vê, que fala sem saber direito sequer como o fazer; nós, que tantas vezes podemos dar de nossa mão, mas que a escondemos no bolso da frente da calça diante da dignidade humana e ameaçadoramente impune; nós, que tanto construímos mas sequer nos preocupamos em fazer com que isso seja do outro - e queremos sempre nosso papel de dinheiro; nós que andamos, rimos e choramos, que pedimos muito mais do que oferecemos - e mesmo assim - não entendemos nem a nós mesmos, meu deus.

Como se pode desejar compreender o outro? Mesmo assim, ela, com sua mão sobre o peito, representa como quem ora e pede e crê. Seus olhos ausentes nos amplifica nossa reconstrução: estará encharcado de lágrimas enquanto o pede.

Sim, também imagino que respira ofegantemente, como quem por ver, a si mesma se sente agredida. Que voz vigilante intercede por nós, o homem inferior! Gesticula em estática uma breve oração, um pedido, uma intervenção que nos rende graças. Mas, vendo o homem sentado diante da cena em purificação, me penso que talvez, e ai sim eu compreenda melhor a humanidade, penso que talvez o homem sequer esteja pensando em graça: busca apenas uma coisa bem gostosa para por na boca e saborear pelo tempo que lhe for permitido.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

COMO APRENDI A CONTAR O TEMPO

Quando perdia meus balões, eu os via subindo e indo mais e mais alto. As coisas se iam. Quando os guardava, ia dormir com eles no teto, flutuando, e acordava com eles no chão. As coisas murcham e caem. Estourava pipoca e esperava esfriar. As mordia e não eram mais crocantes. Tem que ser agora. Andava todo dia de bicicleta e o pneu demorava para esvaziar; a deixasse parada e ele logo logo estava precisando ser enchido novamente.

As coisas demasiadamente quentes precisam ser esfriadas. Queimei muito a lingua. E ainda a queimo com capuccinno. Roupas de frio foram feitas para, de tarde, serem carregadas na mão porque a temperatura sobe sempre que o sol sobe, e ela desce, sempre que o sol desce. Dessa forma, também, percebi que o volume da TV aumenta sozinho conforme aumenta o silêncio e que eu preciso abaixar senão minha mãe vinha com aquela cara de sono.

Sempre que ia viajar com meus pais, meus amigos ficavam e eu perdia as melhores brincadeiras e não tinha essas estórias para compartilhar com eles. Perdia uma partida de futebol eu não tinha gols para dizer que eram meus. Faltava e sempre se construiam as mais engraçadas aventuras, e eu fico hoje com saudade da escola. Descuidei da Laika, minha cadela, que fugiu, e me roubou uma semana todinha de vida. Apareceu magra, suja, tadinha, e tinha muitas estórias que nunca me contou. Foi assim que aprendi a contar o tempo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

PINGOS DE SAUDADE

Eis que um 3º faz do velho feliz pelo que o moço conseguiu com a visão do mais novo, de baixo, por detrás, por quase entre a porta, de jeito que só criança sabe que existe aquele lugar para olhar. Uma visão assim, escura, detrás de paco concreto, em altura de olhar menino que em cintura de adulto chega. E que visão limpa das coisas que se tem, são pingos que caem, são saudades que molham o chão. São Pingos de Saudade.

Eis que tal momento, "decisivo" para Bresson, existiu mesmo. Eis que vi se repetir várias e várias e diversas e diversas vezes. Eis que comigo, passado menino e quase moço, também pingos de saudade cheguei a jorrar por aquela mesma caixa azul de fios pratas e curtos, que nem ao chão nos deixa sentar quando bambeavam as pernas. E diversas vezes ele se esticou para me deixar a quase isso. Eis porque eu conheço a representação da foto acima mais do que um instante decisivo pôde conhecer. Eis porque está gravado em carne o que, agora, se verá por olhos.

Eis que assim, mesmo passado anos, volto a olhar o lugar acima e pouco iluminado com a luz de uma saudade gostosa. Carinhos por ali tratei, recebi e cobrei e quantas vezes deixei de dar e quanto isso me deixa doido agora. Em dias assim, com pingos, era balançando o guarda-chuvas que eu deixava escorregar toda saudade para um rio de amor que nutri e cresceu e existe até hoje. E esse rio caminha para um mar, sempre se banhando de novas coisas aos momentos. O mar eu sei que é de Deus, mas não sei por quanto tempo ele vai se manter sem transbordar pelos tantos pingos que derramei e que ainda não desaguaram.

sábado, 10 de outubro de 2009

CARTA PARA QUEM ESTÁ DISTANTE

Que tais carteiros épicos, vestidos de azul ou verde a serenar, encontrem esses endereços espirituais secretos, à margem de um riacho em construção. Porque alí mora meu grande amor, sobre uma monta peculiarmente ornamentada de bromélias e orquídias convalescentes. És imortal e talvez a um remetente precoce não se lembre. Que falta fará um telegrama de amor, a quem está acostumada a ver o começo e o fim das coisas? De certo rirá.

Esse tipo de alma feminina, sempre a encantar, talvez esqueceu-se como encostar a cabeça sobre um peito e ritmar respiração; talvez como entrecruzar os braços e pernas não se lembre, e que falta sente um homem sem o carinho necessário para ser homem outra vez no dia seguinte. Mulheres de Athenas, Carolinas, Iolandas, tais Helenas ainda persistem? Quanta força tenho sem saber que por mim teces e desfias no mesmo em que respiras, que tal saudade é presença - e não falta - e que falta me faz um pouco estar ao lado seu.

Sentes saudades por algo perto mas que se faz distante? Se souber aproximar, me diga, escreva, me conte, porque tenho tentado e falhado. Tenho me colocado na linha de frente, mas sem o oposto para o combate e que falta me faz uma explosão de sentimentos! Como explodir um encontro de sentimentos sem ser assim, explícito, sem assustar, sem acuar um coração não tão intenso, talvez menos que um uma fruta demasiadamente doce. Como aproximar sem deixar minha sombra, antes, a mim anunciar e exponencialmente enganar com sufoco um excesso que, na realidade, é só uma sombra projetada em tamanho irreal? Me responda.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O TEMPO PASSADO

Pois se inventou que o tempo passa, até mecanismos de pulso para se dizer isso fizeram, mas esqueceram de fazer como ele parar. Construiram isso de presente, passado, futuro e não disseram que o futuro nunca existiu e que o presente bem menos porque o agora só existe na consciência - e depois dele próprio se tornar passado. Que cilada carrega-se no pulso aquilo que eu nem quero na alma, nem que se lavada.

Mas repare se não há velocidade no nascer e no pôr do sol. Sente a rapidez da lua em se minguar ou o vento que passa ligeiro para um lugar onde se esconde de voltar. Té mesmo a núvem, branquinha no céu, tem medo de ser algodão e ter que ser colhida, por isso também ela tem isso de passar. Como me parece que tudo já vivi! Vi hoje uma despedida, iguais diferentes olhos mansos mas triste diziam adeus, mas em tom até breve, já nos revemos. Mas nos revemos onde?

Olhinhos bonitos, que beleza passada, onde antes via eu apenas idade. Como eles estão ficando cada dia mais lindos. Os olhos que enrugam são os meus de cegueira da pressa, da fonte da juventude que arde de tanto cloro. Perceba o olhar... calmos são os vividos, não porque já conhecem, pelo contrário, porque se enchem do desconhecido e dele espera algo como quem já não tem algo novo para ver. Sim, de tais olhos saem de tudo. Perdem sono, sem saber porque. Mas eu sei porque. E não conto.

sábado, 3 de outubro de 2009

O SEU MUNDO TAMBÉM É MEU

Ahh... O seu mundo também é meu! Sabe aqueles dias que você fala, fala e eu quieto escuto, escuto, dizem ser isso "mal de mulher", que isso é ansiedade, emocional, que eu nem sequer estou de ouvido. Não que esteja eu longe, ou que sim, talvez sim, mas é porque sigo na imaginação, partilho de um mundo que não o meu e cujas aventuras são delirantes, apaixonantes; cujas preocupações de um gosto raro também meu coração engole. Então você mal respira, perde os pontos, as virgulas, os parágrafos - que eu não tento encontrar - para seguir com suas palavras num mundo que, naquele momento, também é meu.

E escuto (mesmo eu de ouvido longe...), percebo a narrativa que inveja a qualquer Saramago, maravilha, suas palavras condensam suas aventuras e ilusões e perspectivas da forma que eu jamais teria. E eu, por bem, não volto ao consciente, para que voltar, se tal aventura, naquele dia da semana que não nos vimos e guardamos nossas aventuras para compartilhar - e vivê-las juntos -, são ditas no próximo primeiro dia?

Aventuras, tropeços; engraçado, você nunca falou de saudade. Qual espaço tem no seu mundo para a saudade? É quando descubro que vivo um outro mundo pelas suas palavras, que tento nelas encontrar onde é guardado o carinho, o amor, o cochichar não dito. Mas tá escuro essa parte da sua luz, e eu, sem farol algum preso em suas palavras, me perco e me delicio por viver outra vida sem sair do seu lado.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NO FIM A GENTE VOLTA

Pássaro que volta ao fim do dia para o lugar que saiu, me ensina também a encontrar o caminho quando tudo escuro ficar. Porque do meu caminho me vou errando, sigo, páro, já até voltei antes de ir mais para frente. E sempre fez falta saber para onde voltar, já que sei um dia será inverno e as folhas não estarão nas árvores para eu sequer me alimentar. E sinto frio quando penso nisso, mesmo que leve tempo ainda, mesmo que não leve tempo, mas que o próprio tempo me leve... Tenho poucas penas, pássaro, e quero-as para me aquecer.

Voando, me sinto alto e alto mais eu vou seguir e sei não ter como esquecer minha árvore. Ela fica ali, nem eu acredito. Porque elas [as árvores] são firmes, fortes, delicadas, incondicionais, e mesmo eu alto elas me fazem ver que sai do chão e isso eu não quero. Mas não querer significa ter que aceitar porque, pássado, eu também um dia fui semente e lembro que me abri de uma vez, assim, para fazer igual com a outra semente que de mim germinar. Mas não entendo porque sou pássaro sem penas, sem asas e sou árvore sem sementes. Ainda.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

SE FAZ CHUVA OU SE FAZ SOL

Sobe, dia chuvoso, e deixa a alegria da sombrinha aberta assim, como um sorriso. Tire da metade a parte cheia que te encharca de alegria e a dê a quem anda apressado. Sabe, dia chuvoso, que meu limite de andar não se resume ao que me molha, mas sim ao quanto eu posso pular, e correr, e voar, e voo tão bem que nem asas preciso.

Um submarino, dia chuvoso? É disso que preciso para ver as estrelas e cantarolar com o vento gelado e perdido, que corre em todas as direções - que não são 4 (leste, oeste, norte e sul) - e sim são todas! Não segure aquele avião lá no alto, que sobe mais ainda. Deixe-o ir que ele volta para contar sobre os outros pássaros.

E diga não, mas como quem quer dizer sim, porque o sim negado não se repreende, ele sai sem mesmo saber que foi. E o sabe tão bem quem o escuta, o segura, o vê, o sente. E siga, meu velho dia chuvoso, como quem nada quer, molhando aqui, ali, lá longe e volte para perto. Me parece que você não foi mandado, mas sim é um presença como que quando faz sol. E sempre me faz falta de noitinha.

domingo, 20 de setembro de 2009

OLHA LÁ, SE NÃO É A CIDADE A COCHILAR

É que lá fora, parecendo um borbulhinho, um silêncio me inquieta. É a paz nos ouvidos, o sono do piar dos passarinhos silenciados e as árvores que, sem vento algum, dormem verdinhas. Sabe que isso me acordou? [a suave música me atrapalha... tive que pará-la]. E desperto me lembro que sempre fui dificil para dormir. Não é uma opção que fiz, mas me fiz assim, companheiro da noite, onde penso, repenso e talvez me amadureço.

E colho durante o dia o que passou e amarelou na cabeça por toda a noite. E quando das preocupações vem o sono pesado e sonho pouco. E sinto ter tão pouco tempo que deveria ser físico pois entendo e vejo isso que criamos de tempo de forma tão particular que poucos acreditariam ou poderiam sequer sonhar com os parâmetros que tenho tido. E tenho tido tantos que eu mesmo, ao pensar neles, desejo um momento de esquisofrenia qualquer.

Está claro que agora é um tempo parado. Nada sai do lugar, vide a imagem, todos dormem. Não há carro, não há quase barulho algum [apenas a música, que religuei]. Está claro mesmo escuro lá fora que não resta muito tempo. Isso de ter a noite não é mania, nem boemia. Ela existe e ainda não pude entender. Sei que às vezes até atrapalha, mas não faz mal. Se ela ensina, tem ensino que só se sabe ter aprendido quando dele se precisa adiante, nas experiências da vida. Vou me ter com minha noite mais um pouco, amanhã é mais tempo para lidar.

domingo, 13 de setembro de 2009

O SENTIDO DAS COISAS

Já vi a razão das coisas. Queijo sem goiabada, o leite sem a nata, as coisas perdem-se na falta da outra parte que as dão razão. Igual que nem como mangueira d´água aberta e criança, eu sou com minhas observações. Não que eu pretenda ser pretencioso, nem que eu queria que se queira a outra parte por inteira. Mas é que é assim. E queria contar a última.

Que não se engane, o senhor que detém certo poder, nem que se jure feliz quem a um outro amor compartilha do seu próprio. Muito menos aquele que se retém nos sentimentos, ou que não os exprime por não o saber. Que fique longe o que chora baixinho e não deixa suas lágrimas fazerem barulho, que não veja o que cega-se por um amor inútil. Que não fale à mesa do vinho, nem se embriague da solidão que nos endureçe o coração.

Eu vi que se fecha a quem se abre. Sei também que se abre onde estava fechado. E se você não quer vinho, nem mesmo um cafézinho, que se queira ter ao menos onde assim se sinta feliz. Queria que tal parte oposta se sinta agradecida, pois que suas noites melhorarão ao lembrar um mero olhar piscado. Que se tal carinho foi demasiado breve, na simplitude duma espera ele carrega uma esperança. Igual que nem como mangueira d´água aberta sem criança.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O OLHO DO VELHO

Eis que por ai os velhos olhos do velho observaram os olhos do velho Niemayer. Em Curitiba. Olhos fadigados, mas que brilham ao ver tais outros do por demais arquiteto brasileiro. Assim que outros olhos também olharam e quiseram ver, mas tal levantador de arte concreta não assim o fez: seu olho interiorizando a arte, um vão que de museu funciona, mas que de olho se nega a olhar. O olho de Curitiba é olho piscado que não se abre, ao menos naquele dia se manteve obrigando-nos a olhar apenas para dentro. Talvez cerrava breve choro baixinho.

Então meus velhos olhos se sentiram futurizados, como que mortos por natureza fechados, proibidos de perceber além aquilo. E Niemayer fez bem, fez assim mesmo, para que se olhe dentro e não fora. Mas olho se olha para fora, e os meus assim quiseram e frustrados se puseram, DE-SES-PE-RA-DA-MEN-TE, acreditem quando digo, a procurar o olhar pelo olho do outro velho construtor. E assim como que cansados, mas perspicazes e incapazes de aceitar o que o outro por demais velho mandava, meus olhos já esbranquiçados viu o que só se sente em despedidas.

A hora certa e decisiva havia chegado. E quando chega, depois que passa, mesmo sob chuva forte, ele o coração se enaltece, se enobrece e canta em gratidão contida, quase como que em lágrimas caiam do escuro céu já acinzentado. E então este velho que vos escreve primeiro viu pelo coração, emotivou sua razão e se lembrou dos olhos postiços que trazia a tira colo. Eis que por eles pôde ver para fora dos olhos; E-MO-CI-O-NA-DO, lançou mais outros olhos para fora do olho que não deixa olhar. E um novo e belo olhar foi feito para além da obra do grande Niemayer.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

TUM TUM TUM BATE O CORAÇÃO

Se me sinto assim é porque as bençãos me foram dadas. Sabe quando o coração aquieta, pois é. E veja: amarelo são meus sorrisos. Passei a escutar as cores porque elas é sim que me fazem sentido. São palavras que somos abençoados a ver, como somos agraciados por ouvir nosso coração. Veja que se o coração bate bate macio. E se tá torto é causo médico. E ele, o Dr., aprendeu a ouvir. Acho que se eu fosse doutor do coração eu escolheria um bom pela cor.

Mas quero mais é descançar, conheço médicos, eles estudam muito. Não que me faltou energia. Nem posso dizer que não tive oportunidade. Mas me levei pelo barulhinho simsim pirilim pimpim que fazem as palavras. E elas se escondem como se esconde uma batida do coração. E se o tal elétro pega esse badulaque que se escondeu, azar o meu escolher o mais difícil, como é quase impossível achar uma palavra escondida. Ela não demonstra ela se des-mostra.

E se ele precisa de outro coração para arrumar o barulhinho escondido, do que preciso eu? Vinho sei que é ótimo, saudade também e amigos por toda a parte, pelas partes de longe, de preferência, porque ai vem mais forte a presença em forma de saudade. E a memória que é uma forma de viver um pouquinho mais.

Ai então eu pego aquela palavra que falta pelo laço. Nem que seja uma simples letras para os que me julgam tolo por ter nas mãos o tudo que forma a todos. E se me falta um simples "c", o doutor que me perdoe, mas posso dar-lhe apenas um "oração". E se não encontro fica o coração sem seu tum tum tum. Mas tudo bem, ao menos deus escutará.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

CAMINHOS PERCORRIDOS

Se achas que podes caminhar. Se acreditar que pode correr e não ganhar. Se queres trilhar e não se dá ao luxo gratuito de explorar. Se queres passar e passando deixas-te de se identificar pelo percusso. Se perdes nome, rosto, identidade e família. Se abre mão dos cuidados de uma estrada já traçada. Se escolhe um caminho mais escuro porque sabe que é nele que se acha tudo que se deixou por outros mais curtos e claros. Se queres piso liso, grama aparada e água de fontes geladas.

Como vais encontrar a si mesmo? Como trilhar uma nova vida se percorres uma já vivida? Como procuras luz em lugar onde ela já se teve e se apagou? E se apagando que graça teve acendê-la novamente? Porque não deixas-a dormindo? Como pensar um novo caminho se segues tantos velhos? Cadê suas vontades se andas pelas dos outros? Cadê, me diz cadê, aquela velha bússula do seu pai que ganhaste para justamente ser o caminho a ser encontrado por outros?

Se não queres calos ponha um tênis bem macio e vai por ai, pulando as pedras das quais não se lembrará e as deixe para mim, que pisando me lembrarei delas e com elas construirei meu castelo, meu caro amigo e simples errante.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

TODOS OS PRAZOS QUE CUMPRIMOS

Me lembro que tive 1 semana, entre a contratação e o início do trabalho, para providenciar os documentos "necessários". Depois, os prazos passaram a ser até às 18h, quando então iria pra casa. Em casa, precisava me banhar antes de dormir, o que eu fazia, normalmente, depois de não deixar passar o prazo do cuzimento do macarrão. Se não a fome teria 12h para ser saciada. Dá para voltar mais.

Claro que não lembro bem, me contaram depois, mas tive umas boas 5h entre o sair do papai e grudar de vez na mamãe antes de mais nove meses para esperar. Precisei cumprir tais prazos. Com certeza o mais dificil foi aguardar, pacientemente, o início dessas 5h iniciais. Os outros nove nem tanto. Foi, praticamente, protocolo. Depois os prazos fizeram-se flexiveis, era manhã, tarde, noite, madrugada e todos os meios desses todos.

Mais tarde, quando passavam-se os prazos para me matricular na escola e o sair e voltar de férias, percebi que todos os prazos vinham mais de antes que eu. Sequer eu abracei uma mísera molécola de carbono todos já eram praziados. Eu herdei isso. Cumpri os mais diversos possíveis, e ainda os cumpro. Começa cedo, vai até o meio do céu com o sol - e os outros tantos entre o meio de alguma outra coisa - depois volta, ai começa o seguinte e termina e chego em casa já com tantos prazos ainda que me pergunto se tem prazo para isso acabar.

Saí para caminhar, igual que nem parecido com a imagem que ilustra esse poste. E percebo - para meu tranquilizar pois já esperava por mais prazos - que tudo se move se prendendo a esse algo que nos diz o que fazer. Tenho mais 15min para terminar o texto, e caminho com passos que veja, até ali, eu acho mas não tenho certeza... até ali, você vê? o trincado no muro? vê? até ali tenho mais 15 minutos... mais uns 15 passos, umas 30 respirações, 40 piscares de olhos, 10 engulidas de saliva, 4 assobios, 2 coçadas na cabeça, 18 batidas da bengala no chão... em mais 15min.

*texto dedicado à Fapesp, que tanto prazeia os estudantes brasileiros.

domingo, 16 de agosto de 2009

MEU SANNSET BOULEVARD POR CARTA

Caro amigo universitário, como vai?

Vejo que hoje me vi em seu lugar, e em seu lugar já estivemos eu e mamãe. Nos abraçavamos por igual, mesmo motivo, mesmo riso sem graça, mesma certeza do filho estar saindo mundo afora e da mãe se voltando para nossa casa tão querida. O chinelo de dedo para dar conforto na viagem - e perceba minha identificação: mesma distância! - e a vontade de que fosse dia e não existissem noites para que o filho pudesse por ai sair.

Às vezes secava garganta. Às vezes hidratava os olhos. Às vezes havia pressa. Às vezes não havia nada. Às vezes era só mais uma certeza de que daqui poucos dias tudo se repetiria. Mas confesso que nenhum deles me pareceu igual. E vendo vocês hoje, como se fosse eu e ela, tudo me fica mais longe ainda, e perto, perto tanto como dentro do peito. E de dentro não me sai, por isso vocês me mandaram tão longe no tempo e no espaço, sentindo àquele meu momento outra vez.

Quanto foi, 10, 15 segundos? Não... menos. Foi rápido o abraço. Senti o calor, acho. Me pareceu então. Mas quando lhe digo e você me diz que assim você pára para pensar que talvez depois você sinta saudades, eu sei que é verdade. E sei que vai ser assim. O abraço você também um dia vai ver outro igual e vai sentir o mesmo que eu. A saudade não vai, a não ser acompanhar você.

Por tanto, caro amigo, sintirá-se rico. Tanto te enriquece que nem percebe. Tanto tens que não carrega contigo. Espere. Se assim como a eu e ela, certo dia, talvez quem sabe, quererás que não mais o tenhas contigo porque pesa. E pesa tanto que te cola no chão, te paralisa e você vai ver em outro, um dia, em algum lugar, um abraço que nem parece: carrega luzes que lhe ativam a mente e te sente não poder tocá-las.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SENTINDOS OS SENTIDOS

Seres de luz que baixa sono em escuro recesso. Olhos vêem apenas projeções, mas cegam-se aos poucos na tenra aurora. Cegares, que mundo enorme se abre. Fechais olhos, moço apressado. Perceba evolução, lhe cegou os sentidos e lhe deu visão. Que tanto de mundo isso lhe diminuiu, ah, garanto que mais que possa ver. Vejo em praça aberta e ela some. Não basta. É pequena para mim. Pois a noite me mostra mais. Esqueceste? Sons... sabores, temperaturas, arrepio que ilumina mais. Um passo e tal terreno não é mais óbvio, há desequilibrio, há eu e o lugar, há uma ligação que a luz apaga, engraçado. Eu percebo distâncias. Entre pé e chão, o desequilíbrio mostra energia puxante, dizem 9,80665 m/s² .

E dizem impossivel ir mais além da luz, que energia muita precisa. Mas que nada. A luz não é que leva. É que volta. E bem antes. Se dia, mais antes ainda, é um passado 8min e 18s. E disso percebo que para ir antes não é preciso dela. Sem luz, há o que? Vida não sei. Mas há espaço antes da luz. Tempo e Espaço e Luz não? Espaço visto por luz, mas tão depois! Ah, sente-se, velho. Tire um cochilo que a luz ainda demora quase uma eternidade para lhe mostrar seu caminho.

domingo, 9 de agosto de 2009

9/8/9 = onti.

Sabe... a luz ideal, o instante perfeito, ou "decisivo", a vida que brota da terra e vidas que dela também se faz viva. O sorriso que chega, a alegria que vem e fica, os momentos bons sempre lembrados, os presentes dados com flores e as flores todas que pudemos cheirar, mesmo as sem perfume, cuja beleza por si mesma já nos atinge aos olfatos. A cor, tem cheiro.

E mesmo com tudo isso, há pessoas que se ajudam, mestres sempre dispostos, livros que sempre se emprestam e que vem e vão. Há os sorrisos frouxos da manhã, o café pelando compartilhado e boca com o gosto do pão com manteiga delicioso. Eu penso nos momentos que vivi, nos cafés que tomei, no gosto do leite que esquenta minha boca abaixo dos óculos escuros, é segunda-feira, é quase um momento de eucaristia: o silêncio do trago, o olhar looooooooonnge e a mente, hã! a mente, mais longe do que pelo buraco de minhoca.

Há ainda aquele outro olhar, na mesa distante, igual que nem o meu. Deixa de ser olhar pois nessa é um espelho, reflexo da minha própria alma. E como são deliciosos, tem gosto de pão quente com café pingado. Tudo isso me lembrou essa foto, a vida sobre a vida literalmente e a beleza colorida de uma flor que seu cheiro se sente pelos olhos; tudo estava tão em harmonia que eu pedi uma nova canção ao universo... e então me lembrei de Wagner.

9/8/9 = hj.

Sabe... a luz baixa, a música já ultrapassada, o sono que não vem, os trabalhos a serem feitos, os prazos estourando, a geladeira desarrumada, a camisa para passar, a alma para lavar. E o céu escurecendo, os carros passando mais e mais acelerados, a rua mais e mais esburacada. Mas apesar disso o mercado está mais caro, o leite subiu e o álcool combustível tem o valor mais alto do ano. A roupa já perdeu a cor e está a 20% de sua vida útil, a pintura do carro áspera e perdendo seu brilho, o sapato com o couro já gasto e as blusas de frio com um pequeno orificío embaixo dos braços. Tem aquela jaqueta jeans que tanto gosto e que não sei onde está.

E mesmo com tudo isso, a locadora sobe o preço e tira a promoção, o cinema aproveita a alta temporada de férias e corta a meia entrada, venceu minha carteirinha do Sesc e o Shopping traz diversas atrações pagas para me tentar. Eu penso nos meus votos que não acertei, naqueles políticos todos que eu gostaria de desejar algum tipo de mal, como o que eles me concedem com sua falta e incompentência, até mesmo o segurança que manda e desmanda, o professor de teatro que faz planos e nos coloca dentro como se o sonho dos outros significassem sonhos para mim - e não devaneios.

Há ainda o frentista que parece querer que eu ligue o carro e vá embora, o dentista que não quer que eu saiba do que ele sabe, o mundo que me quer nos formatos dele e meus próprios formatos que não importam a mais ninguém. Tudo isso me lembrou essa foto, que tirei num dia de chuva; tudo estava tão tranquilo que eu pedi mais um dilúvio... só que ele foi mandado para Santa Catarina.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

UMA CARTA DE AMOR

Querida Catherine*

“Sinto a tua falta meu amor, como a sinto sempre, mas hoje está a ser particularmente difícil para mim porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa vida juntos...

Lamento ter estado tanto tempo sem falar contigo, sinto que andei perdido, sem rota nem bússola. Deixava-me ir ao encontro das coisas, sentia-me elouquecer. Nunca me tinha sentido perdido, tu eras o meu verdadeiro Norte. Quando tu eras o meu porto, eu sabia sempre voltar para casa. Perdoa ter ficado tão zangado quando partiste, continuo a achar que isto foi um erro e estou à espera que Deus o corrija. Mas já ando melhor, o trabalho ajuda-me, acima de tudo tu ajudas-me! Ontem à noite apareceste-me em sonhos com aquele sorriso que sempre me prendeu a ti e me consolou. Do sonho restou apenas uma sensação de paz... acordei com essa sensação e tentei conservá-la o mais possível.

Escrevo para te dizer que estou a trabalhar para alcançar essa paz, e para te dizer que lamento tantas coisas. Lamento não ter tratado melhor de ti. Para que nunca sentisses frio, medo, para que nunca te sentisses doente. Lamento não me ter esforçado mais por te dizer o que sentia, Lamento todas as vezes que discuti contigo, lamento não te ter pedido mais vezes desculpa , era demasiado orgulhoso. Lamento não ter elogiado tudo aquilo que vestias e todos os teus penteados. Lamento não ter tido forças para te agarrar e impedir que Deus te afastasse de mim.


Não passa uma hora sem que te sinta comigo. Arranjo barcos, experimento-os, e enquanto isso, as memórias sobrevêem, como uma maré. Hoje Lembrei-me de quando éramos novos, e tu trocatse o nosso mundo por outro maior. Tive muito mais medo do que deixei transparecer, lutei contra ele dizendo para comigo que um dia voltarias e imaginando o que te diria quando voltasse a ver-te. Devo ter considerado uma centena de possibilidades. E o que acaba por dizer? Pouco! A minha boca recusou-se a trabalhar excepto para te beijar, e quando disseste: “Vim para ficar”, ficou tudo dito, voltei ao mesmo.

Não paro de pensar no que te diria, se tu arranjasses forma de voltar."

GARRET


*nome da amada original do filme "Uma Carta de Amor", cuja carta mostrada no filme está transcrita aqui. Mantive por referência, mas dedico para Simone.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

DE ONDE VEM OS RISOS DO PALHAÇO

Eu vi, eu vi! Eu vi o palhaço comprando alegria pra depois nos dar! Vi o palhaço no mercado, comprava alegria, suponho. Ou será que o palhaço precisa de outras coisas para viver? Não, eles vivem é da gente vivê-los. Tentei dar meu espaço na fila, mas eu era último, não valeria nem um risinho de canto de boca.

Mesmo assim lá ele estava, comprava, pagou com balas, acredito. Tirando risos da fila, que representamos sua platéia, foi passo a passo até o caixa. Lá, mais risos, palhaço é bobo até por ai, fora do circo. Eu não sabia que palhaço era palhaço todo dia. Para mim, palhaço era uma fantasia.

E, se por detrás de esconde um belo rapaz, na fantasia ele ainda é risos e alegrias. Eu ri na fila como quem se ri no picadeiro. Como os lugares são aquilo que a gente leva na alma! E foi dado uma aula de que lugar e nome não combinam com para sempre. A fila vira picadeiro quando um palhaço está por perto. E eu continuo mero expectador daquilo que me ensinaram a chamar de vida.

A IMAGEM E O NOSSO PENSAR

E pensar que a imagem é parte tão pequena de tudo que existe! Afinal, a luz é uma pequena partinhazinha de toda uma coisa que demos o nome de ondas eletromagnéticas. O que vemos é, assim, tão pouco perto de tudo que existe que não sequer sabemos como olhar com "outros olhos", não os temos!

É gostoso isso de fotografia, de fotografar. E gostei mais depois de saber um pouco mais da luz. Acho que quando se Disse "Haja luz", todo o resto do mundo já havia sido inventado, ficou apenas a partezinha que faltava daquele espectro, que demos o nome de luz, todo para o final, percebe? E há um pouco na fotografia que nos enche o que falta.

A melhor fotografia é uma que só a gente entende, nem quem tirou sabe que é. Ela mostra pra gente uma coisa que está ou já esteve na gente, muito próxima ao coração ou àquilo ao qual ela represente. A minha preferia ficou naquele velho filme guardado em alguma gaveta. Um dia alguém o acha e o revela, se existirem reveladores ainda.

Eu vivi um tempo que aquilo que inventamos e demos o nome de "presente" demorava para ser aparecido na película de um filme fotográfico. Entre o fotografar e ver o que foi retratado havia uma distância. Esse esperar o homem retirou do processo fotográfico. Não estou contra isso de digital, queria apenas poder guardar a melhor imagem apenas dentro do coração e não num pedaço de papel ou numas linhas de bits.

*Velar é o nome que se dá quando a imagem "não sai", quando ela fica muito clara ou quando se perdia todo o negativo durante a revelação.

PS: dedico esse textinho aos que retiram das imagens o fundamento para suas vidas e o alimento para sua mesa.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

ENTRAR POR ONDE?

O FIT - rio preto tem dessas que não se entende. Festival a parte, organização a parte, imprensa fora de toda a parte, com exceções ditadas a dedo e crachá. Mesmo já publicado material, a equipe que se forma com o moço ficou de fora, salvo pela luta por crachá "rotativo e democrático", digamos. Mesmo assim, quem filme vê, mas quem edita não. Quem escreve vê, mas quem fotografa não. Aliás, não tem fotografia pq não tem estacionamento, sem estacionamento, não há como levar a camera, equipamento caríssimo.

E isso vem se arrastando há anos.

Nada com os organizadores da comunicação, sempre mtíssimo competentes e educados; mas do próprio festival. Quem comunica se estrumbica: paga como todo mundo, vê só se si comprar antes - antes que todos os outros, senão fica de fora. Eu sendo neutro já sou Floral, há tantos outros que me perfumam. Do bolso então nem digo! Enfim, coisa a que se acostuma no ABC do SERTÃO.

terça-feira, 30 de junho de 2009

CHOVE CHUVA COLORIDA

Pois é. Cada dia é cada dia, cada cabeça uma ideia, e as ideias permeiram um universo que é só delas, palavra nenhuma consegue representar. Cada coisa no mundo é uma coisa nova, e cada coisa nova é, pra gente de mente curta que é a gente, uma coisa que não se dá. Mas deu. Pense em chuva... o que você imaginou é muito parecido com água, núvens escuras e pesadas.

Eu vi uma chuva que não era de água. Era de sonhos, uma chuva toda de arcoíris. Acho que só eu vi, mas eu guardei um pouco dela. Acima você vê caindo as se7e cores. Clique na imagem, amplie. Você pode não entender, não acreditar... dizer que não, que não se chove cores coloridas de uma núvem branca atrás de árvores verdes. Nesse caso, se não acreditar, me escreva. Envio a foto original. Se a angústia for mais urgente, ligue, que te conto cada uma das gotas que me coloriram.

*Rodovia Marechal Rondon, 30 de julho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A PARTIDA

"Por severo tempo estive ancorado. O vento era demasiado, a tempestade intransponível, as núvens pesadas e negras beijando as ondas. Era a fase jovem do barco, e resolvi não arriscá-lo. Não que não acreditasse que ele poderia vencer essa natureza selvagem, mas por sentir que era hora de estar com as âncoras ao fundo, lançadas ao mar para amenizar meu balanço em meio ao caos. Era preciso esperar os ventos forte que sopravam diminuirem.

Depois, toda tormenta foi passando, mas o céu se coloriu de cores e minhas velas queriam tocar todas. E isso é impossível. É desumano cores de mais para serem tocadas. Eis a calmaria. E eis a hora de puxar âncoras, esticar as velas, e seguir com o vento.

A grande questão que observei era como o veleiro, apesar do mar o ter castigado por curto tempo, sentia necessidade de cortar as águas agora calmas. Porquê? Então soltei o timão e o veleiro seguiu um rumo esperado, soprado pelos ventos. Nesse soprar, eu naveguei em zig-zag, que é como se faz ao navegar com as velas. E indo em nesse vai e vem, percebi que embora eu me destine a um lugar de chegada, eu o fazia recortando a linha reta que me era sorrateiramente destinada. E lancei velas para frente, impelido pelo vento", disse-me o jovem marinheiro.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

COMPARAÇÕES: EU E DEUS


Pra começar Deus não acorda cedo todo dia pra ir trabalhar. Em contra-partida, não carrego a culpa ou a glória, como queiram, de ter mandando um filho pra ser maltratado, ofendido e humilhado pela humanidade. E morto, claro, todos sabemos. Deus não tem fome às 11h e fica até às 12h com o estômago roncando, esperando, clamando, desesperadamente, pelo almoço. Mas eu também não dou de comer - mesmo metaforicamente, como queiram - a todos os homens e mulheres e crianças. Eu como sobremesa, Deus o que come depois de dar de comer a tante gente? Gratidão? Hunnn, não sei se enche barriga, muito menos se é doce, sobremesa tem que ser doce.

Deus não marca ponto, eu marco, certinho. E ainda fico devendo horas, sempre. Em contra partida, ele é onipresente. Eu preciso cumprir obrigações, para com o chefe, para com a esposa, e para com a esmola que eu não dei, cuja prestação - já me avisaram - será no juízo final. E para com Ele. Eu penso, ele só sabe o quê eu penso. Eu vou a lugares maravilhosos, que dizem, como queiram, que Ele criou, logo, já esteve lá. Duvido que os fez por procuração, e-mail, carta, ou sinal de fumaça que seja. E eu pago pra ir. Ele fez de graça. Engraçado isso, rs...

Bem, eu chego em casa logo depois do serviço, ele... ele tem casa? Dizem que a igreja é a casa do senhor, mas o senhor chega cedo, fecha logo as portas e o sino da meia noite deve ser a porta da geladeira abrindo e fechando. Rá, duvido que Ele não tenha fome de madrugada, pois eu a tenho. Mas antes eu tomo banho. E no céu, hão chuveiros? Ou cheiram a Channel nº One? Se sim, o céu é muito perto da França, que aliás eu conheço e Deus me parece que não. Eu durmo assistindo Jô Soares, e você, Deus, o quê? Como vêz, nós somos sim comparáveis.

sábado, 13 de junho de 2009

COISASCOTIDIANAS: PRESENTES


PRESENTES
"Os preparativos de quem dá - Dias antes começa pra quem faz tudo. A escolha de cada cor de fita é mais dificil do o último problema sem solução da humanidade. O tamanho da caixa é sempre o maior e a cor é sempre a mais coloridamente sem tanta frescura. Quanto menos melhor. Menos - agora no sentido de "a não ser" - no tamanho da caixa e no volume do que tem dentro.

Os preparativos de quem recebe - Tamanho faz, sim, a diferença. Quanto maior melhor, quanto mais pesado mais importante, quanto mais colorido mais felicidade. Estamos falando do embrulho. O nariz torce sozinho às vezes dependendo do que é. O sorriso tá no rosto. Presente tem que desembrulhar, tem que ter laços, fitas, papel e durex. Quanto mais melhor."

*e o mais gostoso é saber que foi feito com carinho, que alguém deu seu tempo pra fazer aquilo pra gente. Eu fico imaginando... "olha só como foi fazer aquilo, sair atrás de cada coisa, saber que tudo ali foi tocado pela pessoa querida, e tal". Os presentes únicos são os que são relados.

PS: Feliz dias dos namorados a todos, especialmente pra vc, pessoinha do meu caminho que eu amo tanto!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

COISASCOTIDIANAS: OLHAR O CÉU

OLHAR O CÉU
"Ver e não ver o que muda justamente por ser capaz de enxergar apenas o momento da mudança, sua fase transitiva, sem montar o todo na cabeça. Mesmo assim encostou o peito na grade fria e olhou para baixo. Creio ser final de outono, maio já está no final. A máquina fotográfica transfere o pensar dos meus dedos sobre o céu, suas formas e deformações que só se vê com o passar.

Como me frusto em ver fragmentado, ver a mudança em flashs, cada uma das etapas mutativas, sem formar na mente o desenho com o todo, mas apenas as milhares pequenas partes dele. Que pensamento treinado a imaginar as partes, as frações. Mas meu dedo aperta e o todo vem. O caminho se fixa em mudança e apresenta não uma pegada do tempo mas todo o seu vulto, fulgás por sinal. E este rastro me dá saudade, me traz saídas e me diz que é hora de dormir."

COISASCOTIDIANAS: SONO

SONO
"A cama limpa, esticada seus lençóis antes. As cobertas abertas, abraçam suavemente o colchão. O colchão a espera de calor, as molas que não rangem e o quarto esperando o sono antes mesmo do corpo e da mente entrarem. Eles chegam. Se entreolham, se cumprimentam silenciosamente. Cada um tem muita estória pra contar e antes de dormir um pouco delas acabam sendo ditas. Mas não é regra.

Os segredos ficam entre o travesseiro e as palavras nem sempre ditas, mas às vezes derramadas. Não dá pra dizer nem que são lágrimas, nem que são palavras, pois não são nenhuma nem outra. Mas estão ali perto disso. Os soluços. Alguns rugidos de um choro contido, quase um soluço. Não, era sim um soluço, mas eram palavras na verdade. Não digo que chega o sono, mas que passa a angústia.

E os pensamentos vem de mansinho. O silêncio traz um pouco de mata saudade, os eventuais problemas se silenciam, algumas pessoas que não deveriam passar por ali naquele momento. Tudo está normal. Da janela alguns carros começam a passar, logo mais são os ônibus depois os passarinhos. Algumas motos, afff, como elas são barulhentas daqui da janela! A noite se cumpre.

Queria muito acordar um passarinho, sempre cantando um canto que eu nunca percebi triste".

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O MÁGICO QUE EXISTE

E então eu conheci um mágico que existe. Vestia roupas costuradas com o mais fino fio já feito, tinha as cores mais vivas que já se fiaram, arrastava a longa capa varrendo segredos para dentro de suas costuras. E todos, todos, não tinham outros olhos senão para aquele que da cartola tirava um coelhinho branco todo macio e agitado.

Perguntei seu nome, em cada lugar em que passo era um, me disse. Mas simplesmente "Mágico" serve para todos eles, confidenciou. E, caro Mágico, perguntei, onde se ensinam tais coisas que só você sabe?

E ele disse também não sei eu, se soubesse as mágicas não seriam mágicas e seriam, estou muito certo sobre isso, seriam feitas da nossa bondade e das coisas que acontecem quando estamos com quem está disposto a nos encantar com sua atenção e carinho.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

COISASCOTIDIANAS: CAFÉ

CAFÉ -
"Então pegou uma xícara limpa, mesmo assim passou água, olhou seu fundo, nada encrostado. Do lado oposto, sobre o armário, pegou o pote com a mistura de pó preparado para o cappuccino. Tinha pouco, pegou tudo, na verdade virou o pote diretamente na xícara. Fogão ou microondas? Não gosta de microondas, mas mesmo assim o fez no microondas. Não há fogão por perto do microondas. 40segundos. Não tá quente, tá mto frio aqui fora na vida. Mais 40. Tá quase. Mais 10. Dá. Mexeu. Grudou no fundo, esse gruda, é o tipo do pó. Mexeu mais. Esfriou. Mais 15. Mexi de novo. Agora tá no ponto, cor boa, boa proporção de pó/água. Não tem leite aqui. Ele prova. Ficou aguado. Claro, é feito com água."

(meu café hoje cedo)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O MEIO DO MUNDO*

Estive pensando em colocar um castelo no meio do mundo. Nunca conheci o meio do mundo. Deve ser um lugar legal, ou ao menos inspirador saber que você está no meio de tudo, que a sua direita há guerras e mortes por petróleo, e que a sua esquerda há pessoas inventando novos celulares a cada dia.

Acima, o mesmo céu. Suponho. Já abaixo, ainda fica o Japão? O os pontos mais lindos do meu planeta, onde ficam? Se eu estou no meio do mundo, para um lado fica o monte Everest, e para o outro o Himalaia. A ilha do amor Madagascar, o rio Amazonas, a ilha de Galápagos e a Muralha da China? Bem, e a China propriamente dita?

Se estou no meio do mundo, sou o divisor das águas, se é que há água neste lugar. E se não tem, meu bem, o que é que tem? Serei o divisor de qualquer coisa.
Mas estar no meio do mundo não é como estar em qualquer outro lugar.

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(*simples, mas amo este textinho. Março de 2003)

PS: Acho que só meu beagle pode farejar onde fica o meio do mundo...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

PODE SER FACIL SE VC VER O MUNDO DE OUTRO JEITO

Ah, não sabia das minhas questões do jeito que saibo agora. Mas sabe que algumas ficam mais claras e fazem mais sentido: o vento do Calvin, o azul do céu e tantos outros, quantos eram, aimeudeus que nem lembro.

Diz a ciência que é o Alter Ego nos cuidando, digo que é aquilo da infância passando.

Hoje o sentido de tudo se perde em seu sentido; digo, não preciso mais deles. Sei e me enche de verdade uma árvore espirrando, o céu refletindo o azul do mar mesmo em prados verdinhos como o próprio mar de alguns outros lugares.

E mais uma vez Calvin tem razão. E hoje as árvores estão em algum lugar espirrando tão forte que tiraram todas as manchas do mar que nem vejo mais elas no reflexo do céu, só ficaram as águas azuis.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

ELES PODEM TER O MUNDO

Mas não é mesmo belíssimo de se admirar? Se meus dedos fossem, eu os pintava! A imagem acima peguei com o celular, e com meu andar nas núvens eu peguei o texto que segue abaixo, do muito bom nao2nao1. Acredito que neste trecho ele sentiu ao escrever exatamente o que meu dedo também ao retratar o abraço e beijo acima:

"Ela na ponta dos pés. Ele avançando o peito. Ela sem entender como ele imobilizou suas duas mãos com apenas um braço. Ele pressionando o abdômen, colando as pernas, travando o pescoço, puxando o cabelo. Ela asfixiada, querendo ao mesmo tempo fugir e ser pega. O que fazem suas bocas, línguas e lábios, isso não importa."

Onde começa o beijo? Quando os lábios se tocam ou quando os pés se levantam?… LEIA NA INTEGRA "Beijo e sexo são coisas que não existem", 29 Mar 2009, por Gustavo Gitti

sexta-feira, 24 de abril de 2009

ME DÊ, ME DÊ

Me dê, me dê - pedi um pincel quando ontem. Não deram, mas o pai tinha uma Trip 35mm. Até deram, mas eu me borrava todo. Ai devem ter cortado. Ai eu nunca pintei mais. Mas da 35mm veio outra, maior, mais grande, mais potente, mas logo já foi-se também, e voltei pra outra menor, mas mais potente ainda. E com ela às vezes eu pinto. Muito às vezes.
Fiz minha foto, mas já nem era isso. Também não é pintura, mesmo se parecer (se não daí, de longe: afaste-se, por favor, do monitor e reolhe), saiba que não é. Tenha certeza disso. É só mais um dia de trabalho. E ali, franzido, sou eu.

quinta-feira, 26 de março de 2009

AULA*



"Meu corpo é bem mais velho do que eu, como se conservássemos sempre a idade dos medos sociais com os quais o acaso da vida nos pôs em contato. PORTANTO, SE QUERO VIVER, DEVO ESQUECER QUE MEU CORPO É HISTÓRICO, DEVO LANÇAR-ME NA ILUSÃO DE QUE SOU CONTEMPORÂNEO DOS JOVENS CORPOS PRESENTES, e não do meu próprio corpo passado".

Roland Barthes

O vídeo é um curto enunciado. O tema permeia a noção de tempo/espaço, vida, idade... Acho que convém o enunciado de um caminhoneiro** junto ao enunciado de um Francês.

*Aula é nome do livro editado em transcrição ao discurso de Roland Barthes, proferido em sua Aula Inaugural, na França, na década de 70.

** O áudio do vídeo, no qual escuta-se um motorista de caminhão, foi captado por rádio amador, na frequencia usada pelos caminhoneiros nas estradas brasileiras.

segunda-feira, 23 de março de 2009

CHEIRO TEM COR

Precisava falar que cheiro tem cor. Se tem! E gosto tem cor também: biscoito de chocolate com cereja tem gosto de marrom escuro com vermelho vibrante. É obvio que isso se forma na mente porque já temos formados as representações e relações com as coisas. Mas e daí? E a vontade inexplicável de chupar manga daquela mangueira que vai pro sítio, porque eu vejo isso colorido? Talvez a vontade seja uma profusão de cores mal explicadas e formadas fora da combinações entre as cores básicas. Meu desejo não é nada básico, é necessário. Eu quero pois se esvai meu tempo. O negócio é querer porque logo não se pode ter. E se acabarem todas as cores, e num filme preto e branco, quem me dará uma manga para chupar? Me falta o amarelo pra depois do verde. Me falta tudo na verdade, só me sobra farelos de essência soltos pelo chão. Eles juntos devem formar o amarelo. Mas acho que isso não me dará aquela manga da beira da estrada.

quarta-feira, 18 de março de 2009

QUANTOS E QUANTOS MAIS?

Atendendo a pedidos:

"As cores que compõem um nome, em movimentos se fecham entre olhares. Não são vivas, mesmas exteriorizadas para dar existência à elas. São cores. São sabores escolhidos para apimentar os olhos que, por sua vez, apimentam nosso espírito. E quem os escolhe os pinta. Sei quem escolheu foi Deus. Mesmo não sendo ele quem pintou, pois é perfeito de mais para ter sido por ele. Foi pintado por amor, cores escolhidas pela essência do existir. E só pode pintar assim os dedos que trabalham todos os dias, que se cansam, e se entregam a olhar para o horizonte em busca das suas próprias divagações. E o resultado é este encontro: o que se acha é o preenchimento daquilo que se precisa".

sábado, 7 de março de 2009

ROAD ON ROAD

Pé na estrada. Tem quem não goste de andar por ai. Prefere ficar em casa, em segurança. Naquilo que chama "segurança". E deixa de ver, de perceber, de observar o mundo. Por ai, já vi mundos que se pintados seriam admirados. "Incolores idéias verdes dormem furiosamente", disse Chomsky, um linguista, em conformidade com as regras da sintaxe mas totalmente incompreensível. Como se compreende tal formação chuvosa, se se compreende todo o processo, mas não se compreende o que o olho acaba de ver? Foi o que pensei quando captei a imagem acima. Sei como tudo se dá, mas não dá pra acreditar em tudo que se aprende na escola se a natureza, em si, é tão maior do que a gente.

terça-feira, 3 de março de 2009

SOLIDÃO

Olha ele ai mais uma vez. É Calvin em nosso socorro. Barulho, pressa, prazos, pessoas e pessoas e animais com pessoas também. Mesmo assim, o pior pode ser o que existe dentro de nós. Há quem fala fala e fala com medo daquilo que tem dentro. Cospe códigos linguisticos a distâncias incriveis pra preencher porque tem vazio. Porque tem seus demônios. Matá-los é inconveniente. Por isso procuro paz, ficar sozinho. Minha companhia tem gastado muito do meu tempo. Ou então é o tempo que se gasta em minha companhia. E pelo rápido que passa, com muito prazer, obrigado.

segunda-feira, 2 de março de 2009

É UM CAMINHO SIMPLES

É um caminho simples, asfalto reto, curvo, esburacado, que leva pra um destino comum
As árvores pelas passagem, casas simples, fazendas gadeadas e as faixas na estrada já não te deixam sair, e o destino comum é simples também. O outro lado existe e você já sabe onde vai chegar, já tem o que esperar.
Mas o que te espera é diferente. Pode mudar, pode não esperar, ter saido pouco antes do momento em que ce chega. Ai está a mudança, está o destino não traçado. O caminho, na verdade, é poesia. O sentimento dessa poesia o espera de braços abertos na chegada. Quando espera.