sexta-feira, 16 de maio de 2014

Das coisas que não podem ser


Foi por acaso que parei naquele lugar. Fiz meu pedido e em pouco tempo notei você ali, com seus pais. Enquanto você sorria e falava coisas sobre ter comido bastante certo dia, eu pensava no sinal vermelho que eu havia acabado de atravessar, arrependido por tão boba infração de trânsito. Fez-se, logo, mais tempo que parei para olhar seu rosto: traços tão suaves, pele branca e macia, o corpo hermético, os olhos azuis, o cabelo loiro e liso. Faz pouco tempo que desviei meus pensamentos e comecei a pensar na possibilidade de tantos sorrisos serem pra mim, alguns das piadas bobas que contaria cotidianamente; outros, das besteiras que eu talvez faria para te ver sorrir e escutar essa voz um tanto quanto incômoda. Imaginei todas as possibilidade daquilo ali sair do acaso e se tornar nosso caso. De todas as imaginações possíveis, nenhuma fora viável: pedir um telefone, fazer uma declaração, mandar um bilhetinho. Sério? E foi assim que você se foi. Sem a possibilidade de ser, você se tornou mais uma das coisas que não podem ser. Paguei a conta e fui embora pensando nestas impossibilidades.