quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

INSTANTE DECISIVO

Bresson estava certo. Há o instante decisivo.

CALVIN SOMOS NOS

Esse é a primeira tira que divulgo. Provavelmente terá mais. Calvin pega-nos pelas mãos e nos tira de tudo que não está certo. Ele socorre a gente.

Neste acima, eu, com apreensão de algumas coisas futuras, entendi que minhas angústias e ansiedades pelo por vir só me mostram o quanto eu sou pobre neste instante. Mas, este, não serei eu logo logo...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

VINTE 7 ANOS DEPOIS

Tem um passarinho pousado na antena, na foto acima. 27 anos depois eu vi. Essa foto é um recorte de uma imagem maior, uma edição, feita por meus olhos e meu jeito de "olhar" a vida.
27 anos é um recorte de toda uma vida, assim como esta foto. 27 anos é o recorte que a vida me faz num instante presente da minha consciência. E ela escolheu que vinte 7 anos depois eu estivesse assim, ou foi um acaso, como na imagem, de eu estar pousado num lugar no exato momento em que a vida me recorta?

Mas eu cheguei em cima da antena [metaforicamente] e o que a vida me faz? Me põe no blog, todo recortado? Acima, se forma um céu na forma passageira da chuva que se vai - no mesmo instante em que se vem. Abaixo, a antena; estou sentado, me despedindo da chuva - no mesmo instante que a espero de braços abertos. Naquele momento, um pouco de paz, de tempo, estou a olhar - no exato momento em que justamente se marca a passagem. Sentado, está o pássaro. 27 anos depois. E pra estar aqui - neste momento, o passaro precisou, antes, existir como eu. E, nesta mesma condição incondicional, ambos somos frutos de um recorte.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

PRIVILÉGIO VAGABUNDO

21-01-09_1937.jpg
Esse ai, acima, em laranja, é o nome original do arquivo gerado ao captar a imagem acima. Dia 21 de janeiro de 2009, 19h37. Estava voltando pra casa, caminhando, cansado da corrida em volta da represa que o Moço Santiago dá qse todos os dias. A cidade é São José do Rio Preto.

É um privilégio vagabundo poder ver um pôr-do-sol assim, de volta pra casa, sem preocupação na mente, só a respiração forte e o suor pelo corpo sendo absorvido pelas roupas.

Nesta parte da represa, há vários pescadores que tiram da água seus peixes pequenos para a janta. Há tantos Santiagos, o Velho, de Hemingway, que por nome e identificação eu quase me identifico, senão pela ocasião de atleta e não a de pescador.

Desta vez ninguém gritou - Viado!, como já publiquei em outra postagem, junto a outra imagem. Desta vez estava tudo quieto. Eu estava só. E com meu celular.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ARRANCARAM-LHE OS OLHOS

Arrancaram-lhe os olhos e deram-lhe o que comer. Sem fome, aprendeu a obedecer. Com comida sempre bem dada, a ser fiel. E fiel, assim, foi. Sem seus olhos, aprendeu a ouvir, mas ouvia pouco também. Aprendeu a cheirar, mas cheirava pouco também. Sem olhos leu os livros todos do colégial, os da faculdade, o que mamãe lhe dava. Leu também filosofia, sem olhos, e mais uma vez lhe deram o que comer, o que beber. E fiel, assim, foi. Ouviu por ai que ler só lê quem sabe ler, que leitura nao era reconhecimento das letrinhas.

Mas fiel era, e fiel lhe deram outro pedaço de cultura. Estava amarga desta vez. Não podia ver, sem olhos, lembram? Mas estava amarga, amargou a lingua, não as vistas cegadas. Lhe disseram que devolveriam os olhos para ver que tudo estava certo, nada de estragado lhe fora dado. E lhe deram de volta. Ele os pôs. A literatura continuou amarga. Mas ele não devolveu os olhos. Comprou óculos. NADA: amargo ainda. Culírio, massagens... nada tirava o amargo. Resolveu por um pouco de doce antes na boca. E não funcionou. Mas passou os olhos noutro doce, e então adoçou. Tendo-se por resolvido, quis devolver os olhos, mas lhe avisaram: "não são os olhos"... Ele então entendeu. Já havia sido letrado. O problema, reconheceu, era a lingua. Deu-lhe ela. Mas agora os olhos escureceram. Ele prova da claridade com as bochechas. Acha que, bem degustada, a luz volta. E volta. Assim que lamber o escuro e fizer digestão.

PRIMEIRO DIA DEPOIS

O primeiro dia costuma ser uma merda. Não se sabe o que fazer, por onde começar, com quem falar. Nem se se precisa falar com alguém. Não se sabe de nada. Aliás, ainda ninguém sabe nada por aqui. Até eu não sei o que faço aqui. Mas uma coisa eu sei, essa sim: preciso de aumento. E preciso justificar pq eu preciso de aumento. E isso eu não sei. Sei que o arroz subiu, o feijão, dizem que o leite também. Subiu a água, e sem evaporar: incríveis 25%. De R$4 para R$5. Eu já disse que se não for por R$4 não compro mais. O cara deu nos ombros, não disse, mas pensou: “vai se foder”. E eu paguei mesmo assim.
Como justificar um aumento? Eu nem justifico minha existência. Logo eu? Penso logo existo: a melhor definição. Não explicar é a melhor explicação.
As coisas vão mal, não é, camarada? Sim, vão. Mas foram piores. Lá, na década de 20, 30. O Crash americano, as Gangues de Nova Iorque, o Hitler lá na Alemanha, aquele filho da puta... Mesmo por tudo, o dia amanheceu lindo. Verdade que eu não vi esse amanhecer, acordei atrasado. Aliás, ontem eu dormi atrasado.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Nada, de novo


Então resolvi sair pra caminhar. O caminho não é novo, meu tênis não é novo, as roupas são as de sempre. Mesmas árvores, grama, a represa linda e suja – uma menininha desarrumada – a mesma avenida... Nada, de novo.

Nada de novo pelos lugares que sai. Trancando a porta de casa, e prendendo as chaves no cordão branco da minha bermuda azul, os passos ainda mantinham a velocidade normal de uma caminhada cotidiana sem pressa. Saio do prédio, dobro a esquerda já na calçada; alguns passos... esquerda novamente. Adentro numa rua que é uma “reta curva”, como diria o sábio filósofo Galvão Bueno. Duas esquinas à frente, na minha direita, um boteco sempre cheio essas horas, cerca de 19h. Trabalhadores que voltam do trabalho. Hunnn, melhor “bêbados que enchem a cara” antes de chegarem em casa. Cruzo a rua porque duas casas a frente a grade é baixa e o cachorro preto, sujo e fedido é alto. Além de feio. Volto para o lado que estava antes, pois viro a esquerda e contorno uma estação de tratamento de água.

Desço até a represa. Hoje está... bem... de novo tudo igual. Ela está lá. Ainda não há pessoas por aqui, pois a pista de caminhada é mais afrente, uns 2000m afrente. Assim, começo só, sem companhias anônimas e desconhecidas que nunca se cumprimentam, raramente se entreolham e muito pouco sorriem uma para as outras. Mas vamos nessa!

Trouxe o celular. Está ligado. Aproveito e ouço um som gravado há uns tempos já. Música romântica para caminhar. Uma péssima idéia, mas não é nada de novo. Percorro os 2000m só. No cruzamento, atento, atravesso a rua. Chego na pista em que as pessoas caminham, os cachorros cagam e nenhum ciclista respeita o aviso, na frente da marca de 2200m, que diz: “PROIBIDO...”. Mas não é preciso respeito, já é proibido proibir. Nada de novo, para quem é atento.

Acelero, a respiração acelera. Meu joelho começa a doer, pois meu tênis não tem amortecimento. Uso os meniscos para suavizar o impacto. Então volto a andar devagar. E isso não é nada novo pra mim. Dou algumas voltas, umas a mais no texto apenas. Nenhum entreolhar, nenhum sorriso, nenhuma nova amizade, nenhuma novidade. Nada, de novo.

Então volto pra casa. Na volta, um passando acelerado com sua moto velha e barulhenta: “SEU VIADO”. Eu estava tirando uma foto do pôr-do-sol* e o grito foi para mim.

Nada de novo, de novo.

*[tirava a foto acima]


terça-feira, 6 de janeiro de 2009

FRASES DE BANHEIRO NO BANHEIRO

Num ambiente intelectual [qse...] as reflexões se formam. Algumas não são bem reflexões, mas também não é assim um ambiente intelectual, mto embora seja em uma universidade. - "Uma das 150 melhores do mundo", como diz minha namorada.

Alguns exemplos do "box" 3 [da direita p/ a esquerda]:

- "UM PASSO PARA FRENTE
E JÁ NÃO ESTAMOS MAIS
NO MESMO LUGAR"

- "PAZ E FRATERNIDADE S/ TIRAR NINGUÉM,
RESPEITO É PRA QUEM TEM!"

- "TOME CONSELHO COM VINHO.
DECISÕES COM ÁGUA"

- "BAURU S/ TOMATE
É MISTO" [Referência ao lanche Bauru]

- "ORANDO EM NOME DO
ESPÍRITO SANTO, VIGIANDO
COM PERSEVERANÇA E SÚPLICA
PARA TODOS OS SANTOS"

- "AS 4 MELHORES COISAS DA VIDA
SÃO: COMER E VIAJAR"

Enfim, melhor do que eu esperava.