quinta-feira, 26 de novembro de 2009

FEITO BOLA DE SABÃO

Sabe quando você pega algo que já foi de você, daquele pequeno, do de antes, e que você já não mais o percebe? Quando sua mão passeia por coisas que já percorreram e que tu lembras o quanto desbravou com elas? Lembra da primeira sensação do barro, da lama, do sabão? Eu não. Lembro deles, sempre, mas não sinto mais a primeira vez. Porque ela se apaga?

A primeira bola de sabão, onde ela foi? Para aonde ela correu? Quanto tempo antes de... Plaft!, se desintegrar naquele dia. E que dia? Chuvoso, quente, vento forte. Queria quardar mais do tempo aqui dentro. Mas me sou seletivo sem eu querer e só o saibo depois de não poder mais me lembrar. Que coisa. Queria quardar tanta coisa que já me fez bem e o resto não.

Feito bola de sabão os pensamentos saem, percebeu já isso? Por um instante, sempre muito breve, são lindos, brilhantes, coloridos, voam para longe e vão se distorcendo, se alterando, vão afinando, são levados e, quando não se espera, Plaft! de novo. E então chega num limite que não compreendemos. Eles vão para onde não sabemos, e falam, enfim, apenas para uns tantos que aprender a ler nosso sopro.

PS: Crédito da imagem para "Ariadna´s". Mais do trabalho dela em: www.fotothing.com/Ariadna. Confiram!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

EU DO LADO TEU

Hoje me ocorreu. Da última vez nem me lembro quando eu do lado teu perguntei qualquer coisa descompromissadamente. Eu, que aprendi a não falar com estranhos, levei isso muito a sério. Aprendi ainda muitas coisas que também levei a sério e hoje elas me faltam. Aprendi que o céu não é azul porque reflete o mar, e isso me afastou dos oceanos. As núvens não são de algodão e eu nem tive tempo de bem quere-las doce. Imagine se bato no teu ombro e lhe conto isso.

Ali, do lado, um grupo conversa. Se conhecem. Eu, só no instante, não conheco ninguém, apesar de tê-los conhecido por aquela história do Estreito de Bering, tal; ou das imigrações. Atrás tem outro grupo que ri. Conversam, trocam impressão. Não me perguntam da minha. Não me olham nos olhos. Tem medo de mim. E eu, tão acarentado daquilo que nos falta, da humanidade que ainda não temos, faço o mesmo, porque também me falta. Mas me proponho a quebrar isso.

Quando encontrar um tempo/espaço adequado, acreditando poder haver um, olharei para o lado e tocarei um ombro qualquer, e direi algo como: - está calor hoje, hun? Não... melhor não, melhor dizer a verdade, sem frases comuns, sem tipos batidos já. Conto se recuperar o que me desfaz de humano, aquilo que me transforma em social individual ao invés de um indivíduo ao pé da palavra social. Não se assuste se, após o toque, lhe contar que comprei um perfume em 4x sem juros com entrada para 60 dias. Carnaval já tem conta para pagar.

*PS: merecidos créditos para a imagem de uma amiga, a "São Paulo" (preservarei o pseudônimo utilizado em sua página). Mais do trabalho desse ótimo olhar que nos empresta, aqui.

sábado, 14 de novembro de 2009

AMORAL

E assim ele se reclusou, primeiro, para organizar as ideias e refletir sobre elas. Organizou primeiro os sentimentos, sem palavras, para não perder a essência de cada uma daquelas interações químicas. Depois, tentou esquecer a química, ideia dos homens, construida e fundamentada por eles. Depois, tentou esquecer que pensava segundo aquele sistema que havia aprendida na escola. Apagou todas as aulas da memória e realmente reprogramou seu cérebro, fugindo daquilo que outro homem chamou de consciente e inconsciente, passando pelo subconsciente até entrar no quesito puramente incestuoso.

Por consequência, tornou se amoral. Sem sentimentos, sem ideias, sem ética, sem moral alguma. E isso lhe fez nem bem nem mal. Fez se a ele mesmo apenas. As palavras perderam sentido, não mais significavam. O pensamento, agora, funcionava de outra forma. As sensações eram puras, os sentimentos haviam mudados, já que agora, amoral, muita coisa perdera sentido sem a imposição de uma sociedade. O simples bocejar fora de hora, ofensa para alguns, agora era não mais do que ele mesmo e só. Depois da reclusão, tentou voltar, descer o morro e gritar aos seus iguais. Mas lhe ocorreu que outro poderia tê-lo feito. E se calou. E calando-se, voltou a sua anormalidade. Zaratustra ficou no chinelo.