quinta-feira, 24 de março de 2011

Saudade do abraço teu



Pouco meus pés pisavam o chão. Era colo pra cá, colo pra lá, sempre um nó nos braços envolvendo o pescoço de alguém. Saudade daquele abraço que era seu. Saudade do meu próprio abraço, que deixou de ser só meu. Hoje eu não tiro mais os pés do chão, meus braços pouco servem para um nó mal dado. Abraçar por amor é diferente, não dá nó nos braços, prende mais é o coração. E que falta eu sinto em ter meus pés levantados, minha camiseta puxada pra cima, aquele apertão em volta de todo meu corpo. Hoje os braços estão menores, mas sei que é meu peito maior. Então tenho que abraçar envolvente assim é com o coração. Mas aqui, baixinho? Seu calor por algum tempo me protegendo, seu aperto me envolvendo, seus pés levando os meus a caminhar por ai, seguindo apenas sua trilha e confiante de estar indo para algum lugar seguro. É abraço de mãe, de pai, de tia e de tio, de amigos, vizinhos queridos que hoje são como ensaios de aquarela em minha mente. Mas saiba, sempre que fecho meus olhos e lembro de vocês meu pés voltam a sair do chão.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quanto mais velha a criança, mais criança haverá no velho



A criança só permanece no peito se o velho chegar em nossa vidas depois do chamado tempo, que nos marca de sua própria forma, chegar. Logo rio - e muito - pois sequer imagino o tempo certo de cada um: os brinquedos, se o são, quando são deixados pra nunca mais? O tempo quando é que diz a verdade? Meu hoje de hoje passou rápido, foi-se o dia que se esgana nesses últimos minutos de 11 de março. Queria estar com ela, que preferiu TV, e eu tinha lá minhas coisas a se fazer que estão me tirando da realidade literalmente. Por vezes o velho aqui precisa se lembrar que ainda traz uma criança dentro do peito, que vem equipada com confetes e serpentinas que sobraram do penúltimo carnaval. É passageiro, asseguro. Por hora, apenas instantes com os confetes; a maior parte das hora é preparando o desfile; suor, esforço, correria, incêndios que me fazem recomeçar. Mas não recomeço do zero: pisarei na passarela com a criança mais criança do que em toda a minha vida, apesar da idade não medida! E estendo minhas mão para quem quiser entrar na alegria, mas com uma condição, não há como não ser assim: é preciso esperar o preparo da escola de samba para pisar comigo na avenida. Bora lá trabalhar?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Meu pequeno Gene Kelly



E são em dias assim, escuros, que noto certo brilho em suas brincadeiras. Elas soam como advertências quando fora de contexto mas penso que porque ainda me limito em saber. Como é limitado meu conhecimento, como pequena é minha mente. Vejo que meu pequeno Kelly já cantava na chuva em dias de sol, bem à frente da minha maturida sã que, ao menor sinal de chuva, se perde, calada num canto desses de quinas, e fica ali preguiçosa. Não me preparei pra sobreviver com aquilo que pra você era pra brincadeira. E depois que minha fase de brincar terminou, esqueci como se faz isso. Por isso hoje tenho certas dificuldades, medos. Quisera eu ter uma casa na árvore, hoje saberia morar em qualquer tronco. Quisera ter um carrinho de rolemã sem uma das rodas, andaria com qualquer carro. Quisera ter vivido sem videogame, me contentaria com qualquer tipo de brincadeira. Quisera ter amado mais, sofreria muito menos por amor.