Me lembro que, moço, eu desejei uma passagem breve, rápida, sem mais surpresas. Era um tempo confuso, mas sem dor alguma. Era um tempo acima de tudo de descobertas, o que viria a perceber somente com o tempo. Acho que foi quando meu mar se amansou, o tempo acalmou, e eu pude olhar um horizonte até bonito. Incerto, claro, como todo "mar a dentro" pode ser. Era minha hora de partir. Hoje, já velho, agradeço à partida, que me tomou como pelas mãos a conduzir para um lugar seguro. O fato é que é preciso saldar: Iemanjá, três pulinhos das ondas, sementes de romã na carteira, como queira. Eu atiro aqui de dentro um pouco da minha saudade, tem doido demais. A sirvo à deusa do mar. É hoje meu mais profundo sentimento, é o que eu mais honestamente tenho a oferecer, é uma das poucas coisas que pra mim ainda tem valor verdadeiro. E tenho certeza que ela saberá usar isso quando for a hora boa. Vamos virar!
Imagem de LUNAÉ PARRACHO - 2.2.10