quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A VERDADEIRA ESTRELA DO NATAL

Dizem que uma estrela guiou Baltasar, Melchior e Gaspar até o local que Maria teve Jesus. Graças a ela, ele recebeu ouro, incenso e mirra, que representavam a nobreza, fé e o sacrifício. A estrela deixou Jesus homem antes que pudesse ser criança. Por isso o natal é para todos: porque, homem, ele é todas as idades e sexos. Mas acho que a verdadeira estrela é outra, é a minha. É porque acho que Natal não é para todos: é para a criança.

Natal feliz tem presente, tem brinquedo, mesmo que o brinquedo que se queira não tenha rodinhas. O brinquedo é assim porque se brinca; brinco (brinco -edo). Embora sufixado por -edo, provavelmente relacionado com a madeira, era disso fabricado aquilo com o que se brincava. A palavra brinquedo derivado de brinco, substantivo de vinculum, que significa também pingente, enfeite. Só é brinquedo se se puder levar e ser feito por alguma mão.

Meus pais não marcenaram nenhum brinquedo para mim. Mas fizeram relativo: em nosso tempo, troca-se papel por tudo, até plástico, que fazem brinquedos e que transformei em alegria e recordação. Em lixo também, quando os quebrava, mas era só uma subproduto da minha felicidade. Estrela de verdade para mim é outra. E ser menino não tem idade, assim como brinquedo não tem que ser de loja para criança.

sábado, 19 de dezembro de 2009

contraponto

É que nessa viela de São Paulo, em meio às lojas, uma outra loja me chama atenção. Fica ao fundo, de frente para todos, tal qual pagante de restaurante ou chefe de família. E ela vê o que mostro acima, um caminho longo, entrecortado por coqueiros e pessoas que se aventuram adentrar esses poucos metros. No meio, bancos, às 16h, sol na metade e metade sem o sol. Sento para ganhar ar.

Em tal loja, de pé, atrás da porta de vidro, outro senhor me olha. Loja de troca, compra e venda; uma loja mágica, que guarda tantos outros objetos de carinhos herdados dos pais, avós e se sabe lá quantas gerações podem repassar um mero relógio de bolso. O senhor, japonês, estou certo, parecia saber de todas as histórias dali, em promoção. Parecia saber da minha, que escondo virando-lhe as costas. Por hora, ainda a mantive minha.

Voltando-me para a entrada, noto que SP é mais do que avenidas cheias, é também corredores vazios. Percebi dois casal na 1ª loja, um bebê ainda na barriga, um cigarro, um café, e me deu vontade dele, que não tomei por estar sozinho. Para mim, café é bebida coletiva, ou um cigarrinho para não fumante. Acalma, mas me acelera, fico ligado. Quanta sensibilidade com o florescer da idade. Cafeínas!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

UMA VELA PARA CLAREAR A IDEIA

Uma vela para clarear a ideia e uma pessoa para clareado pela vela faz falta em noites assim, dessas que quase não tem fim. Quase ao nosso lado refresca uma garrafa de vinho, aberta e já pela metade. As taças suadas. Mais um gole. Outro sorriso, um comentário baixinho, a voz sussura. Um toque. Suave. Os olhares brilham mais com a fraca chama; a vela faz sombras, sequer parece nossa, e percebemos face dissimulada nelas.

Lembranças. Elas aparecem. Situações dessas trazem lembranças. Todas. O silêncio lá fora também lembra. Hora esta de rever amigos distantes, saudades guardadas, mágoas escondidas embaixo do coração. E o canto em que me encosto encosta outro ombro tanto igual ao meu, que também lembra. Estes cantos guardam lembranças que o vinho molha.

Esvazio a taça, ainda suada. Olho a vela sem prestar atenção no que o outro me fala. Penso se a vela ilumina um pedaço da minha vida ou se minha vida espera que ela se apague o mais breve possível. Tem o que ser escondido, mas não são segredos não. Essa luz mostra o que todas as outras escondem. Mostra nosso cara mais limpa. Mostra uma alma tão suada quanto essas taças.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O HINO QUE NÃO TINHA BANDEIRA

Eu mais Hino nos tivemos ontem. Já nos tivemos várias vezes, mas não como ontem. Ontem, tanto ele quanto eu estávamos sós. Ou não, uma vez que eu a ele e ele a mim éramos presentes. Notei, então, algumas sábias palavras suas. E notei, ainda, que seu discurso falava sobre as pessoas. Faltou-lhe, porém, a bandeira. Não havia para quem as pessoas e para o próprio se dirigirem, como manda o tal figurino.

E, mesmo assim, foi talvez o que mais a mim acertou. Na falta da representação verde amarela (acima), os presentes tiveram, talvez pela primeira vez para tantos como o foi a mim, apenas ao outro ali, do lado, à frente ou atrás. E tiveram, enquanto pessoas, o sentimento unido não pelo símbolo de cor, mas pela comunhão em si, que ai sim, o símbolo representa. Todos cantaram à comunhão e não à representação da comunhão oferecida pela bandeira e melodia.

Me encantei. O Hino cantado ao povo e pelo povo, e sem patriotismo servil. "Agora, dirijam-se ao seu outro para o (en)cantamento do Hino". Seria lindo, como foi ontem. E aplausos, muitos aplausos, porque se aplaude o que de belo existe e não se fica indiferente. Assim, mesmo sem gostar nada nada de solidão, creio aquele Hino de ontem ter sido o mais feliz já existido. Talvez, justamente, porque sozinho pôde se partilhar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

DESCANSO EM DEZEMBRO

Se nem tão cheia carrego minha sacola de mão, saiba o quanto ela me pesa mesmo assim. Já nesse tempo, a espera do último inverno, os sonhos dentro são quase como uma pétala no espaço. E necessito sentar para recuperar o fôlego, o mesmo fôlego que tanto deixei de aproveitar sem me dar conta da pressa do tempo. E ponho, talvez pela última vez, uns poucos sonhos - e nem tão essenciais assim - no chão.

Quem poderia querer me levar esses sonhos tão leves em peso? É seguro que eles ninguém me quer tirar. E os sinto um pouco com menos valor dito isso. Em minha frente, olho outras tantas sacolas. Quanto será que elas pesam nas mãos que as carregam? Será que tem o peso que a minha outrora tivera? Será que tem o peso que descarreguei para me aliviar? Será que, mesmo mais cheias, estão mais leves do que esta que me quase caleja?

Ninguém pára para falar do peso de sua sacola comigo. Ninguém quer contabilizar seus ítens de sonhos, e aposto que escondem aqueles que já arremessaram fora para se aliviar e andar menos encurvados. Sempre calejei a mão de sonhos, sempre os levei comigo. Sempre os quis. E me pesaram muito, me fadigaram, e hoje me fazem sentar nesse banco. Talvez seja por isso que não me importo de tirá-los do coração e pô-los no chão por um pouquinho de tempo.

PS: Imagem retirada na Internet. Não havia créditos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O PRESENTE É TÃO GRANDE

Tens ouvido as poesias caducas deste mundo? Elas cantam um futuro que já é, e tem se apresentado belo, veja só. Também tem escuras as partes ora distantes ora próximas e, em ambas, há amigos que juntos caem na mesma dança. Mesmos cansados, mantêm a esperança, dão as mãos, mesmo se mãos tão diferentes, mesmo se tão caducas, mesmo se em realidades tão opostas, como a do menino moço e do menino velho.

De mãos dadas, caminham para o futuro que não existe. Afinal, sobre o tempo, só mesmo o passado existe, todo o resto tão igual taciturno se desfaz. O presente é mais rápido que a consciência e o futuro se esvai por entre nossos dedos... como ele chega depressa demais!E, então, se transforma em lembranças próximas, sem se afastar muito. Uma criança - a mulher acriançou novamente -, uma história, suspiros e paisagens tortas.

Ainda muito jovem, desconhece os finais do poema, não escreve cartas, desconhece palavras e essência de morte. Não sei se conhece, já, uma ilha. Talvez um rio, um lago e o mar. Serafins, estou certo, o guardam. Se o guardam. E me dão provas disso. E acredito mais neles e noutras coisas pelo presente ainda humaninho. O que vejo se faz matéria, o tempo passado, os homens presentes meninos passados; velhos, como este, futuro. A vida se refaz a cada dia.