sexta-feira, 28 de maio de 2010

Pensando por amanhã

Como vai ser daqui um tempo quando eu trocar o seu nome, quando eu não lembrar dele ou quando eu talvez me esquecer de quem você é? E quando você tiver que me trocar, dar banho, contar as horas para o meu remédio? Como vai ser daqui um tempo quando você andar por mim, experimentar o tempero e levantar para pegar água pra matar minha necessidade? E quando você tiver até mesmo que ver por mim? Como vai ser daqui um tempo quando você me chamar por outro nome e eu nem perceber? E quando você tiver que escolher as roupas por mim e me por aquela amarela, que eu não gosto?

Penso que

vai ser como a primeira vez, quando te conheci. Vai ser uma descoberta por vez, todos os dias. Vai ser ser levado pelos braços de um anjo, ouvir sua voz angelical me lembrando sobre quem eu sou e sobre o que você representa pra mim. Vai ser ter pés sublimes, leves como as nuvens que me lembrarei. Vai ser provar a mais deliciosa comida e saciar a sede como se peregrinasse pelo deserto desde minha velha infância. Vai ser ser outra pessoa, com nome novo desde sempre e um gosto incomparável pela mais linda malha amarela.

De papo pra Pipa

Hoje me sento aqui pra te ver. Venho conversar um pouco, dia corrido, sabe? Uma paradinha prum café me faz bem. Descansa as pernas sua cadeira de pau, me descarrega a mente sua conversa livre de assunto e me sussega a barriga o pão sempre quentinho da esquina. Pipa, você diz que ama e eu digo não saber o que fazer da vida. Queria me aplicar, mesmo agora, em algo que me fizesse novo, que me fizesse alegria e que me fizesse simples, sendo quem quer que fosse ou seria. Entenda que do alto já nem sei se isso faz alguma diferença.

Aqui contigo sempre chove na hora certa, é estranho. Essa conversa solta me transforma, muda o que eu trouxe dentro dos olhos. Aqui eu me torno o que eu anseio, sem mesmo saber o que é. Aqui pego meus lápis de luz e pinto um quadro bonito, todo narrativo. E nêle eu me entro dentro, sem mesmo pôr meu ponto de vista do lado de fora pra quem me visitar poder ver também. Estranho... aqui sinto companhia, mas feito minha pintura de luz me sinto sozinho novamente. Hora de ir. Caminho longo e ando devagar, sabe?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mas o amor não existe para fazer a gente feliz?

Porque então eu fico triste? Se saudade também serve pra fazer a gente feliz, lembrar de você fechar os olhos com meu toque também deveria me fazer feliz. Porque isso é saudade, porque meu carinho era amor, e porque agora eu não tenho mais isso, fico triste. Quase penso que o amor, no fim das contas, só deixa a gente é triste. Porque sempre um fica depois do outro, e quem fica sente mais, eu acho. Afinal, de nós dois quem ficou foi eu, então ainda não sei como acontece quando é a gente que se vai. Mas me acostumo com o sentimento que fica, que sei que não sai daqui, que não se troca nem se perde. Acho que teria doido mais, mas eu queria estar do seu lado no final de tudo. Não pude, ninguém pode. Saudade aparece mais quando se lembra pelo cheiro, pelo toque, pelo calor, pela companhia. Tenho todos eles, e você me mostrou que o amor existe para a gente se fazer feliz. Seja por estar junto, ou por estar dentro, quando um dos lados vai embora.  

quarta-feira, 12 de maio de 2010

E você me ocupa por todo mesmo

Sabe que, mesmo quando estou sozinho, me vem você dizendo que tem mais do que eu supunha. E diz  você mais sobre sua presença em coisas que eu só percebo depois, e são elas que me valem por surpresas nunca ganhadas. Aquele canudinho alí, solto pelo chão, diz que já faz hora de você voltar dai, de longe. É um pedaço de você que ficou aqui. Chiclete, balas, brincos, o amor... tudo de você tem ficado em casa, e eu pensando se é que haveria coisas guardadas em você que estavam escondidas ainda. Nunca me ocorreu que sempre estiveram aqui, ali, em todo lugar. Acho que eu via, mas me tampava os olhos para não me esvaziar. E se tivesse percebido antes? Continuaria vendo minha retidão? Em todo caso, dou destinos praquilo que me faz lembrar você. Um deles, é embrulhar com papel fino lançando do laço para enforcar a fita amarela. Isso só acontece em meu coração: das guardanças em papel chique, todas estão perfumadas em um canto (daqueles cantos pricipais) do meu quarda-roupas imaginário. Apenas fica diferente porque tem um valor que só aumenta, mas nunca muda, só muda é o jeito que me faz lembrar de você.   

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Carta resposta do menino Santiago (à Carta 1 do velho)

Meu amigo fico aqui só pensando em como você está ai em cima nos seus 30, 40 anos, olha que sinto que você se preocupa comigo mas é uma preocupação que não precisa ser: eu não bebo café ainda e se ele esquenta ou esfria pra mim não vai ser útil de nada. E sobre minha coragem não sei bem o que isso que dizer mas eu passo pelas coisas é com medo, a coragem vem só depois pra aguentar a imaginação de que coisas do tipo sempre acontecem... tô só é pensando se meu pé ainda cabe nos tênis sempre ou se preciso de tênis novos todos os anos, não sei quanto custa, mas dá muito trabalho pra mãe comprá-los e as roupas elas rasgam fácil ainda? É porque tem umas que gosto muito e que acho que você gosta de dormir com elas quando tem medo, mas eu vou tentar não rasgar todas assim você fica com a coragem delas. Ahh não adianta me falar para dormir cedo porque você sabe que é porque quando tanto eu como você ou a gente, sempre, podemos fazer tudo o que a gente quer. Mas me diz.. você aprendeu a apontar meus lápis de cor sem quebrar as pontas sempre? Daqui, fico com saudade, e guardo tanto que quero saber de você. Acho que vou fazer uma redação e te mandar qualquer dia, pra você por no blog. 

terça-feira, 4 de maio de 2010

Pra ti, meu pequeno Santiago - Carta 1

Escrevo como se esta carta realmente lhe fosse chegar às mãos, meu pequeno Santiago. Entrecortadas por um gole de café, vou escrevendo minhas palavras com um aperto no coração. Acontece que não quero lhe revelar o que de bom você ainda viverá, mas tampouco me dou licença de prepará-lo para o que terá de enfrentar, mesmo com forças que terá que buscar fora de ti. Sei que vai compreender meus medos, afinal, alguns deles advém de você ai embaixo, ainda criança, moleque de pé descalço e tudo mais. Tenho pra dizer que aqui, de cima dos meus 40 anos já vividos, muita coisa não saiu como você ai, lá pelos nossos 10 ou 20, imaginou que seria. Sorte essa foi a nossa! Não teria tido graça viver o que já tinhamos vivido em pensamento. E graças a isso garanto que é um caminho de alegrias, de contruções, de experiências que você não faz ideia, meu pequeno. Alegre-se hoje, como se tu recebestes notícias minhas daqui. E viva, tire o chinelo e pise no asfalto quente, tire a camiseta e molhe-se na chuva. Aproveite a noite e durma cedo. Por que pra frente, meu querido, a gente perde um pouquinho da coragem de criança, e o café esfria mais rápido do que temos tempo para tomá-lo...