quarta-feira, 30 de junho de 2010

A simplesa de nossas vidas


Às vezes uma palavra me some, então boto outra que lhe pareça: a simplesa, para simplicidade. Resolvido isso, fico pensando que nossa mesa para o café, coisa simples, correria do dia-a-dia, será decorada simples, mas com toque seu que a encantará. Assim já antevejo a sala, o tecido claro sobre o sofá escuro, os panos trabalhadinhos que levam em cima algum enfeite ou porta retratos. Fico imaginando seu capricho por toda a casa... os lençois claros, macios, fios grossos, depois de 160. Os travesseiros fofos e as almofadinhas que enfeitam feitas mostruário de loja da zona sul. O quarda-roupas perfumado, a geladeira organizada e os tapetes, no chão, sempre limpos, mesmo que pisados. Fico eu assim, pensando sobre como vai ser e tentanto fazer ser breve. Mas preciso botar outra coisa que pareça minha vontade, porque agora eu não sei falar. Então boto você mais fundo no coração, para que não escape tão fácil assim. 

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sábio porque é velho

Sempre me fizeram associar sabedoria com conhecimento, ou melhor, interpretar que conhecimento se faz relativo à sabedoria. Precisou de tempo para começar a entender, e mesmo hoje ainda não tenho dimensionado por completo tal questão. Mesmo assim, depreendo que as experiências vividas e sua necessária intensidade sentida podem constituir aquilo que temos como Saber. Nesse ponto, por hora, entendo que a sabedoria não é o conteúdo em si, o armazenamento de coisas, sensações, experiências ou conhecimento, mas sim as ações anteriores à linguagem e a comunicação que utilizamos. Sabedoria, quem sabe, são atos formados em seu instante imediato, antes da constituição racional no mundo das ideais, da formação da linguagem e do estabelecimento da comunicação com o que quer que seja. "O diado é sábio não porque é o diabo, mas porque é velho", diz o ditado. Só o tempo pode fazer isso com a gente.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O canto que eu também tive em algum outro lugar - Sobre o texto abaixo

Sabe que não tenho usado meu canto de pensar que tive em algum outro lugar? Ele era um tanto quanto punitivo, era lugar de pensamento sobre tudo o que eu, criança, fazia. Se não fazia não precisava ir pra lá. E o canto virou índice de descoberta, de descobrimentos, sinônimo de arte (ao menos pra mim). Não sinto falta do canto, e não o uso mais por falta de desvendamentos: o mundo já foi todinho explorado, não deixaram coisas grandes no baú. Mesmo assim, sinto falta de um sentimento: o da levadeza. Menino danado é menino levado e desaparecido. Está com os pés no chão procurando não pisar nas pedras, e pegando-as se forem redondinhas, do tamanho de se segurar com dois dedos. São ótimas no estilingue. O estilingue eu ainda tenho, mas  não encontro mais as pedrinhas que tanto preciso.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Arte dos meninos

O menino fez arte e ficou pelo canto calado catando conversa de outros que, por ali, jogavam fora. Se tava chorando foi detalhe porque a memória logo se esquece. Este é um dos coloridos estado de graça natural dos pequenos, afinal, são capazes de tudo, dizem o que não se encontra, pintam com todo tipo de coisas reais e imaginárias e tem tantas cores que nem enxergo agora depois de crescido. É um estado de Arte por embelezamento divino e cândido. Todos temos nossos lápis de luz, somos ou fomos assim; eu, veja só, nunca mais vi meu vermelho depois daqueles anos. 

Isso não é necessáriamente ruim, porque agora vejo tons que não compreendia antes; agora têm mais intensidade, e esquentam que é uma beleza quando faz frio lá fora. As cores, as palavras, meu canto ali, encostado por tantas vezes, mudam e permanecem em lugares comigo que às vezes se apagam. Mas que graça é ter olhos de borracha, capazes de sumirem  com os riscos sobre as lembranças esquecidas e trazê-las como se fosse eu mesmo, ali, no canto que eu também tive em algum outro lugar.