quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NO FIM A GENTE VOLTA

Pássaro que volta ao fim do dia para o lugar que saiu, me ensina também a encontrar o caminho quando tudo escuro ficar. Porque do meu caminho me vou errando, sigo, páro, já até voltei antes de ir mais para frente. E sempre fez falta saber para onde voltar, já que sei um dia será inverno e as folhas não estarão nas árvores para eu sequer me alimentar. E sinto frio quando penso nisso, mesmo que leve tempo ainda, mesmo que não leve tempo, mas que o próprio tempo me leve... Tenho poucas penas, pássaro, e quero-as para me aquecer.

Voando, me sinto alto e alto mais eu vou seguir e sei não ter como esquecer minha árvore. Ela fica ali, nem eu acredito. Porque elas [as árvores] são firmes, fortes, delicadas, incondicionais, e mesmo eu alto elas me fazem ver que sai do chão e isso eu não quero. Mas não querer significa ter que aceitar porque, pássado, eu também um dia fui semente e lembro que me abri de uma vez, assim, para fazer igual com a outra semente que de mim germinar. Mas não entendo porque sou pássaro sem penas, sem asas e sou árvore sem sementes. Ainda.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

SE FAZ CHUVA OU SE FAZ SOL

Sobe, dia chuvoso, e deixa a alegria da sombrinha aberta assim, como um sorriso. Tire da metade a parte cheia que te encharca de alegria e a dê a quem anda apressado. Sabe, dia chuvoso, que meu limite de andar não se resume ao que me molha, mas sim ao quanto eu posso pular, e correr, e voar, e voo tão bem que nem asas preciso.

Um submarino, dia chuvoso? É disso que preciso para ver as estrelas e cantarolar com o vento gelado e perdido, que corre em todas as direções - que não são 4 (leste, oeste, norte e sul) - e sim são todas! Não segure aquele avião lá no alto, que sobe mais ainda. Deixe-o ir que ele volta para contar sobre os outros pássaros.

E diga não, mas como quem quer dizer sim, porque o sim negado não se repreende, ele sai sem mesmo saber que foi. E o sabe tão bem quem o escuta, o segura, o vê, o sente. E siga, meu velho dia chuvoso, como quem nada quer, molhando aqui, ali, lá longe e volte para perto. Me parece que você não foi mandado, mas sim é um presença como que quando faz sol. E sempre me faz falta de noitinha.

domingo, 20 de setembro de 2009

OLHA LÁ, SE NÃO É A CIDADE A COCHILAR

É que lá fora, parecendo um borbulhinho, um silêncio me inquieta. É a paz nos ouvidos, o sono do piar dos passarinhos silenciados e as árvores que, sem vento algum, dormem verdinhas. Sabe que isso me acordou? [a suave música me atrapalha... tive que pará-la]. E desperto me lembro que sempre fui dificil para dormir. Não é uma opção que fiz, mas me fiz assim, companheiro da noite, onde penso, repenso e talvez me amadureço.

E colho durante o dia o que passou e amarelou na cabeça por toda a noite. E quando das preocupações vem o sono pesado e sonho pouco. E sinto ter tão pouco tempo que deveria ser físico pois entendo e vejo isso que criamos de tempo de forma tão particular que poucos acreditariam ou poderiam sequer sonhar com os parâmetros que tenho tido. E tenho tido tantos que eu mesmo, ao pensar neles, desejo um momento de esquisofrenia qualquer.

Está claro que agora é um tempo parado. Nada sai do lugar, vide a imagem, todos dormem. Não há carro, não há quase barulho algum [apenas a música, que religuei]. Está claro mesmo escuro lá fora que não resta muito tempo. Isso de ter a noite não é mania, nem boemia. Ela existe e ainda não pude entender. Sei que às vezes até atrapalha, mas não faz mal. Se ela ensina, tem ensino que só se sabe ter aprendido quando dele se precisa adiante, nas experiências da vida. Vou me ter com minha noite mais um pouco, amanhã é mais tempo para lidar.

domingo, 13 de setembro de 2009

O SENTIDO DAS COISAS

Já vi a razão das coisas. Queijo sem goiabada, o leite sem a nata, as coisas perdem-se na falta da outra parte que as dão razão. Igual que nem como mangueira d´água aberta e criança, eu sou com minhas observações. Não que eu pretenda ser pretencioso, nem que eu queria que se queira a outra parte por inteira. Mas é que é assim. E queria contar a última.

Que não se engane, o senhor que detém certo poder, nem que se jure feliz quem a um outro amor compartilha do seu próprio. Muito menos aquele que se retém nos sentimentos, ou que não os exprime por não o saber. Que fique longe o que chora baixinho e não deixa suas lágrimas fazerem barulho, que não veja o que cega-se por um amor inútil. Que não fale à mesa do vinho, nem se embriague da solidão que nos endureçe o coração.

Eu vi que se fecha a quem se abre. Sei também que se abre onde estava fechado. E se você não quer vinho, nem mesmo um cafézinho, que se queira ter ao menos onde assim se sinta feliz. Queria que tal parte oposta se sinta agradecida, pois que suas noites melhorarão ao lembrar um mero olhar piscado. Que se tal carinho foi demasiado breve, na simplitude duma espera ele carrega uma esperança. Igual que nem como mangueira d´água aberta sem criança.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O OLHO DO VELHO

Eis que por ai os velhos olhos do velho observaram os olhos do velho Niemayer. Em Curitiba. Olhos fadigados, mas que brilham ao ver tais outros do por demais arquiteto brasileiro. Assim que outros olhos também olharam e quiseram ver, mas tal levantador de arte concreta não assim o fez: seu olho interiorizando a arte, um vão que de museu funciona, mas que de olho se nega a olhar. O olho de Curitiba é olho piscado que não se abre, ao menos naquele dia se manteve obrigando-nos a olhar apenas para dentro. Talvez cerrava breve choro baixinho.

Então meus velhos olhos se sentiram futurizados, como que mortos por natureza fechados, proibidos de perceber além aquilo. E Niemayer fez bem, fez assim mesmo, para que se olhe dentro e não fora. Mas olho se olha para fora, e os meus assim quiseram e frustrados se puseram, DE-SES-PE-RA-DA-MEN-TE, acreditem quando digo, a procurar o olhar pelo olho do outro velho construtor. E assim como que cansados, mas perspicazes e incapazes de aceitar o que o outro por demais velho mandava, meus olhos já esbranquiçados viu o que só se sente em despedidas.

A hora certa e decisiva havia chegado. E quando chega, depois que passa, mesmo sob chuva forte, ele o coração se enaltece, se enobrece e canta em gratidão contida, quase como que em lágrimas caiam do escuro céu já acinzentado. E então este velho que vos escreve primeiro viu pelo coração, emotivou sua razão e se lembrou dos olhos postiços que trazia a tira colo. Eis que por eles pôde ver para fora dos olhos; E-MO-CI-O-NA-DO, lançou mais outros olhos para fora do olho que não deixa olhar. E um novo e belo olhar foi feito para além da obra do grande Niemayer.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

TUM TUM TUM BATE O CORAÇÃO

Se me sinto assim é porque as bençãos me foram dadas. Sabe quando o coração aquieta, pois é. E veja: amarelo são meus sorrisos. Passei a escutar as cores porque elas é sim que me fazem sentido. São palavras que somos abençoados a ver, como somos agraciados por ouvir nosso coração. Veja que se o coração bate bate macio. E se tá torto é causo médico. E ele, o Dr., aprendeu a ouvir. Acho que se eu fosse doutor do coração eu escolheria um bom pela cor.

Mas quero mais é descançar, conheço médicos, eles estudam muito. Não que me faltou energia. Nem posso dizer que não tive oportunidade. Mas me levei pelo barulhinho simsim pirilim pimpim que fazem as palavras. E elas se escondem como se esconde uma batida do coração. E se o tal elétro pega esse badulaque que se escondeu, azar o meu escolher o mais difícil, como é quase impossível achar uma palavra escondida. Ela não demonstra ela se des-mostra.

E se ele precisa de outro coração para arrumar o barulhinho escondido, do que preciso eu? Vinho sei que é ótimo, saudade também e amigos por toda a parte, pelas partes de longe, de preferência, porque ai vem mais forte a presença em forma de saudade. E a memória que é uma forma de viver um pouquinho mais.

Ai então eu pego aquela palavra que falta pelo laço. Nem que seja uma simples letras para os que me julgam tolo por ter nas mãos o tudo que forma a todos. E se me falta um simples "c", o doutor que me perdoe, mas posso dar-lhe apenas um "oração". E se não encontro fica o coração sem seu tum tum tum. Mas tudo bem, ao menos deus escutará.