sexta-feira, 20 de abril de 2012

A última e o primeiro

A última agonizava, chegava-se ao fim - chorava. O primeiro sorria de orelha a orelha, ainda que sem jeito - verdadeiro. Enquanto ela tentava em vão enganar seus relógios, ele sentava alegremente a voar pelo tempo. Inútil a última tentativa de dissipar, inútil pensar que haveria retorno, inútil sentir tanto aperto no coração. Tudo que se mostrava agonizar o fazia pelo bem até então vivido. O sentimento verdadeiro era o bom, tanto que falta já lhe fazia da existência que chegava ao fim. Pensamos - e queremos - que dessa passagem com aperto se lembre. Dores dessas sentem os que amam profundamente e são capazes de suportar, esses algozes! E tal início, ele, ainda jovem como criança, vem povoar o coração com um friuzinho na barriga que pensamos - e queremos - que dure tanto quando dure o sentimento daqueles que amam profundamente. Ela, a última vez que os veremos namorados, termina em breve. Ele, o primeiro dia que os veremos casados, começa em breve. Serei testemunha.

ao amigo Renato Menezes, que casará hoje, logo mais. 


ps: foto roubada do blog do companheiro Guto Sonemberg, do qual sou grande admirador

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Outono quente



É Outono, e tenho que, apesar da juventude, me esquivar de algumas coisas cada vez mais. Uma delas são pessoas. Tenho caminhado lentamente nos últimos dias, buscando manter serenidade e auto-confiança. Não me preocupo muito com minha estima, já que minha parte criança, moço e velho é bem resolvida. Quando um exagera, outro delicadamente pondera. Se pondera de mais, o outro senta e descança, espera o tempo - esse deus das curas impossíveis -  passar. Pessoas entram e saem todos os dias da minha vida. Algumas, percebo, tem no olhar uma pequena parte antes minha: pode ser uma saudade escondida. Outras, e dessas me afasto, mostram logo uma prévia de algum erro meu: e pensam acertar sempre! Um banquinho de madeira que gosto eu não me desfaço. Uma cadeira cara e lustrosa, que não me cativa, me desfaço. Às vezes me pergunto se é justo para com um outro tal atitude... mas me absolvo rapidamente, imaginando que ele tão se basta de sí que, insignificante que sou, não sentirá saudade. São tempos quentes esse Outono que vivo.    

ps: a foto é no moçosantiago, de sua varanda. 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Será sempre saudade


Ter na lembrança esse pedaço de você é a certeza que será sempre saudade. É mais carne no meu peito do que pensamento ou desejo. E saudade não passa. Daqui certo tempo quero te olhar, encarar, e assim como sempre esconder meus desejos vicerais. Te dou aquilo que é metafórico com medo de sermos iguais. Seus sussurros são sempre saudade. Respondo que aprisiona e você continua com a mesma resposta em seu olhar. Sua resposta contradiz seu sorriso, seu toque, e sua educação. Eu não deveria morrer assim de amor. Nem sempre saudade é simples. Preferiria um pouco de esquecimento. E quando digo que não preciso, aquele que escuta ri, e maliciosamente consente com a vida que, passando, ri também de mim e desse amor sempre saudade.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Apresentações

Essa noite apresentei vocês dois. Você, de antes, precisava conhecer você, de depois. Senão eu é quem ficaria infeliz. Entender que passado não pode nem deve enfrentar o futuro - e vice-versa - é preciso. Assim vocês dois podem, quem sabe, aprender alguma coisa um com o outro. Das lições que tiraria desse encontro, separo o respeito pelo que passou e pelo que está por vir. Cada qual precisa entender sua riqueza e respeitar a riqueza do outro, sob o risco da infelicidade de cada uma das partes, inclusive a minha. A sabedoria do velho diabo, assim como a inocência da criança precisam ser entendidas cada um nas suas condições primárias. O diabo é sábio porque é velho, a criança peralta porque é nova. E eu, nessa história, procuro a sabedoria do velho sem deixar a peraltice do menino. Quase um diabinho.

domingo, 1 de abril de 2012

O passar é doce



Terça fora mais um aniversário e eu, longe daqueles que verdadeiramente amo, durmira sem ter à boca um sequer pedaço de bolo ou doce enroladinho. Nos dias sequintes, assim que o dia amanhecera, relembrara pequenos pedaços doces da minha passagem por esse caminho pra que, assim, me mantivesse no centro dos meus sentimentos. A contemplação dos dias ao passar é doce. Seu passar, em si, constante. Fiz meu caminho adequadamente nesses dias. Tantos passos comedidos, tantas palavras quase ditas. No final, reflexos de pensamentos que não me levariam a nada. Pensamentos em relação a mim e pensamentos em relação à tudo mais. Me lembro quando cheguei por aqui: sempre tendo que explicar o lugar de onde eu vinha. De certa forma, isso têm-me feito bem. Ter a certeza de que tenho coisas novas pra dizer é que me faz ficar por aqui.

*foto de Marcos Andersen