terça-feira, 30 de novembro de 2010

A menina mais feliz do mundo



A Menina mais feliz do mundo caminha pela praça. Olha as árvores verdinhas, graças à chuva, e ouve os pássaros ao entardecer. Ela pensa sobre como será depois que se casar. Ela experimentou paixão e brigas, mas acredita no amor. Ela, que encontrou o amor que sempre sonhou, sequer precisou procurar muito: ele, praticamente, bateu na porta dela. Ou melhor, ela que foi bater na porta dele, literalmente. Hoje ela caminha sorrindo, e seu olhar reforça o que conto aqui. Quem o viu, percebe. Ela é mesmo a menina mais feliz do mundo. E não se importem se a virem de carinha amarrada, às vezes acontece, nem sempre todo dia é um dia como o primeiro mais feliz. O que importa, no final das contas, talvez seja o sorriso primeiro, o olhar feitiçeiro ou mesmo a musiquinha cantarolada com um assobiu fraco, entrecortado e quase sem sentido. O importante é que ela decidiu ser feliz e descobriu como fazê-lo. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A hora do tempo



Há uma coisa engraçada sobre o tempo: pensamos que ele passa, mas somos nós que passamos por ele. E em poucos momentos percebemos isso. Ali sentado observo, enquanto queimo suavemente minha língua com o capuccino recém preparado, quem entra, quem sai, quem passa de carro, a pé, de ônibus e o vento que mexe - às vezes brutalmente - as árvores e coqueiros lá fora. Fica clara a passagem. Mais clara ainda a velocidade disso. O tempo, convenção humana, não existe. E por relativo, o que representa o tempo humano comparado ao tempo de uma estrela, dessas que mal notamos no céu? O tempo tem sua hora não marcada por relógios. Eu o marco pelo meu capuccino, que me leva pra depois da minha conscicência e percepção estabelecidas pela ciência.

Imagem de Cristiane Fontinha

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Para um brilho mais brilhante


Brilho porque eu não me faço do outro. Sou, para você, duas formas diferentes: brilho a partir do meu eu mas também sou brilhada, e isso acontece quando alguma coisa me mudou da origem. Você, por exemplo, me muda quando em você eu toco, e ai eu vou brilhar em outro lugar. Na verdade, brilho no caminho pois não tenho casa. Meu brilho é durante o ir-se, tendo destino trombar com algo e ir, novamente, brilhando por ai, me espalhando pelos que me aceitam de pouquinho em pouquinho. Acontece que você me nota quando olha para o vidro do carro em dia de chuva. E me vê redonda, toda fora da dieta. Percebe, então, que o vidro me pára... será? Quantos tipos de vidro tens seu coração e sua alma, que me pára mesmo sem chuva? Não se leve pelo seu olhar... me vistes ali, redonda, no vidro e pensa que ali eu fico.  Não percebe que mesmo sem sua abertura eu lhe toco; é quando volto mais ou fico mais em você. O quanto? Depende da sua essência. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Entre um e outro, no meio de todos


Ali, enquanto esperava, procurei outro livro que me interessasse. Entre a prateleira Matemática e Direito Jurídico, entre um e outro, no meio de todos, estava eu. Senti vontade de sentar, como se para absorver aquela leitura toda que jamais farei. Lembrei disso. Não vai dar tempo, nem que tente, ler todos e todos esse livros. Naquele momento me decidi por não ler nenhum. Ficar ali, olhando, folheando, tentando não permitir que eu lesse e reconhecesse todos os sígnos e simbolos linguísticos. Queria que fosse em latin, ou outra língua desconhecida para mim. Queria apenas o sentimento da leitura, o conhecimento de que ali coisas importantes existem, mas não queria saber o que são. Queria neutralizar qualquer tipo de pensamento, como o apaixonado que sente dor, febre e que não sabe o porquê. Queria apenas sentir que havia ali algo que valesse a pena ser lido. Lembrei de um pedaço de missa em latin que assisti. Fiquei pensando que ali, naquelas poucas palavras que eu não compreendia, existia algo que valesse a pena nos homens.   

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O sono que não vem



Já que o sono não vem, venho eu pra cá. Mas tem motivo: sabe - lembra - quando criança que brinquedo novo tirava sono? Pois da mesma lembrança me nutro agora. Mas não tem mais brinquedo, mas tem a vontade. Se foi o carrinho, me ficou a vontade de viajar. Coisas do Menino, tão escondidinho por esses dias. Ele quer na mão ter o que precisa pra deixar bonita as coisas dos outros. Logo ele consegue, danado que é. Falta de sono não é defeito, sinal é de que coisas precisam ser feitas. Quais? Tantas que nem dá tempo, precisa escolher senão a vida - uma que só ela consegue ser - não dá conta. Por isso ligo a TV, vivo sonhos que estão nos contos dos outros. Quissá viveram, ou então inventaram, não sei, mas poderia ter sido. Eu mesmo teria sido tantas coisas outras que não este que aqui estou. E saber disso talvez seja o mais importante. Não saber disso seria apenas outra vida por ai, sem motivo mas que segue em frente. Prefiro minha falta de sono e minha vontade de criança.