quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A Menina que Nasceu Duas Vezes



Se eu contasse aqui esta história ninguém compreenderia. Nem mesmo eu saberia como fazê-lo. Sequer a menina que nasceu duas vezes contaria com exatidão sua própria verdade. Ela disse que sim, está diferente. Mas todos não estamos diferentes no dia seguinte de hoje? Pra entender essa quase fábula é preciso um método preciso, porém pouco ortodoxo. É preciso olhar com todas as convicções que se tem, com todas as crenças e todas as morais aprendidas. Tão necessário se faz atribuir todos os valores-mundo que tiveres sobre tais observações. Encontrará, assim, tal experiência de duplo nascimento por toda a vida desta menina. Basta observar em cada passo, cada direção que tomar, cada dente-de-leão que assopar, cada olhar de chocolate ou até mesmo cada respiro... isso tudo contará alguma verdade sobre esta mentira que aconteceu. Isso a faz especial, mas ela não imagina isso. É pra mim uma menina única, justamente por ser duas vezes. Cada um tem sua particularidade. A dela é Ser, mais de uma vez, enquanto a minha é apenas estar diferente no dia seguinte de hoje.

ps: creio que, nascida duas vezes, a Menina que Nasceu Duas Vezes deveria viver em dobro, correr mais rápido, enxergar mais longe, pular duas vezes mais alto e cantar o dobro desafinado. Deveria fugir duas vezes em uma noite, de casa e de si, e viver duas relações ao mesmo tempo, uma de amor e outra de paixão. A paixão é o amor que não aconteceu e, por sua efemeridade, ganhou a dádiva do fogo no coração dos que se apaixonam sem amar. O amor levou a dádiva do tempo, mas paga com suas complicações inexplicáveis.

5 comentários:

OutrosEncantos disse...

maravilhoso, principalmente o p.s.

abraço, VelhoSantiago-moço.

Viviana Ruiz disse...

Essa menina deveria mesmo receber tudo em dobro, viu?
inclusive o amor...
belissimo texto.
bjOus

Carol Carvalho disse...

Não me canso de ler e reler esse texto. Simplesmente maravilhoso!

lídia martins disse...

Eu estou sendo: eis a senha que abre o portal do nosso extremo.

Anônimo disse...

Lindo!
Eu entendo esta história.
Eu meio que sou essa história (?).
Estou sendo!