terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mia espera



Cheguei fim do dia. Logo no jardim, ela esperava. Olhos perdidos, como procurando doces pela casa, queixo apoiado pelas mãos. Aquele cabelo cheiroso, perfume infantil. Impaciosa, correu em minha direção. Sorriso aberto, braços abraçando o mundo. Pézinhos que pequenas pegadas deixavam; pequenas para serem explicitas, grandes para jogar na minha cara a solidão. Menina, sentia medo. Mulher, articulava-me em suas mãos por fios, como teatro de marionetes. Como bobas marionetes. O sentimento poderia ser amor. Mas era medo. Amava-me sentindo medo. Da perda, da posse, Deus sabe do quê. Doía-me não corresponder. Passava em outros braços antes. Sem medo, até sentia amor, desses, de pegadas pequenas. Mas a espera pela presença era insuportável. Tanto que não importava outras presenças. O mais importante: desembromar os fios todos os dias. Vem, Mia, vamos entrar.

Nenhum comentário: