quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pode não ser só comigo



Ao abrir os olhos notou a respiração ofegante, e o ambiente, que era escuro, aos poucos ia se revelando em contornos e traços envultecidos. Pouco a pouco foi se situando, percebendo o local que estava, a hora quase certa e a temperatura que fazia. Um pouco mais de pensamento foi preciso pra perceber que despertara. Mas havia mais. Ironicamente o sonho se tornou realidade. Nêle, estava trabalhando quando colegas notaram que sua pele brilhava. Sentiu o suor começar a escorrer, como quem nota o sangue antes da dor do corte, e então lhe perguntam: "Você está bem? Parece que está suando muito anormal". Ele, pressentindo o porvir, adiantou sua psicologia e se preparou, advertindo aos demais presentes: "Estou mesmo, é verdade.. não consigo mais o controle de tudo, vou desmaiar". E ao desmaiar em sonho este acaba acordando do sono, interrompendo abruptamente o sonho e seu contexto freudiano. Acontece que sim, o sonho interioriza situações de estresse que assustam no sentido de algum dia não conseguir mais se centrar e ponderar. Mas dai para acordar ao desmaiar é demasiadamente curioso. Fica a dúvida, como que roteirizada hollywoodianamente, se o desmaio levou do sonho à realidade ou se a realidade já se transformou em sonho. E pode não ser só comigo.

A pintura é de Füssli, 1781.

Um comentário:

Fernão Gomes disse...

Ei, irmão! Estamos em sintonia! Não sabia que tinha escrito esse texto. Foi uma grata surpresa lê-lo. E por quê? Leia o "Performance", minha última publicação. Essas simetrias são curiosas, instigantes e inspiram reflexões.
Não estamos sós, afinal.

Abraços fraternais.

Fernão Gomes