segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Nada, de novo


Então resolvi sair pra caminhar. O caminho não é novo, meu tênis não é novo, as roupas são as de sempre. Mesmas árvores, grama, a represa linda e suja – uma menininha desarrumada – a mesma avenida... Nada, de novo.

Nada de novo pelos lugares que sai. Trancando a porta de casa, e prendendo as chaves no cordão branco da minha bermuda azul, os passos ainda mantinham a velocidade normal de uma caminhada cotidiana sem pressa. Saio do prédio, dobro a esquerda já na calçada; alguns passos... esquerda novamente. Adentro numa rua que é uma “reta curva”, como diria o sábio filósofo Galvão Bueno. Duas esquinas à frente, na minha direita, um boteco sempre cheio essas horas, cerca de 19h. Trabalhadores que voltam do trabalho. Hunnn, melhor “bêbados que enchem a cara” antes de chegarem em casa. Cruzo a rua porque duas casas a frente a grade é baixa e o cachorro preto, sujo e fedido é alto. Além de feio. Volto para o lado que estava antes, pois viro a esquerda e contorno uma estação de tratamento de água.

Desço até a represa. Hoje está... bem... de novo tudo igual. Ela está lá. Ainda não há pessoas por aqui, pois a pista de caminhada é mais afrente, uns 2000m afrente. Assim, começo só, sem companhias anônimas e desconhecidas que nunca se cumprimentam, raramente se entreolham e muito pouco sorriem uma para as outras. Mas vamos nessa!

Trouxe o celular. Está ligado. Aproveito e ouço um som gravado há uns tempos já. Música romântica para caminhar. Uma péssima idéia, mas não é nada de novo. Percorro os 2000m só. No cruzamento, atento, atravesso a rua. Chego na pista em que as pessoas caminham, os cachorros cagam e nenhum ciclista respeita o aviso, na frente da marca de 2200m, que diz: “PROIBIDO...”. Mas não é preciso respeito, já é proibido proibir. Nada de novo, para quem é atento.

Acelero, a respiração acelera. Meu joelho começa a doer, pois meu tênis não tem amortecimento. Uso os meniscos para suavizar o impacto. Então volto a andar devagar. E isso não é nada novo pra mim. Dou algumas voltas, umas a mais no texto apenas. Nenhum entreolhar, nenhum sorriso, nenhuma nova amizade, nenhuma novidade. Nada, de novo.

Então volto pra casa. Na volta, um passando acelerado com sua moto velha e barulhenta: “SEU VIADO”. Eu estava tirando uma foto do pôr-do-sol* e o grito foi para mim.

Nada de novo, de novo.

*[tirava a foto acima]


3 comentários:

Cris Carvalho disse...

caminhei junto com vc!

Cris Carvalho disse...

eu então sou lésbica!

há!

Quem escreve disse...

Pois é... Acontece de isso acontecer, de pessoas assim aparecerem e sei lá, ajudar a colorir alguma coisa.