terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Tempo de espera


Ela chegou da França e trouxe os trejeitos de lá. Ele a conheceu no café do aeroporto, e a observava nos olhos enquanto ela arrumava, meio sem jeito, aquele chapéu última moda de tantos zeros. Quando percebeu que não daria conta do movimento, retirou o chapéu e o colocou sobre a mesa. Girou, então, sua cabeça soltando o cabelo preso por baixo daquele feltro. Olhou para os lados a procura do garçom; seus olhos cruzaram com os dele. Desviou o olhar atraída pelo movimento que lhe estendia o cardápio. Abriu o cardápio, pediu um café e sorriu com o canto da boca. O que pensava? Porque sorriu assim, evitando os olhos dele a partir dali? Agendas cheias, viagens marcadas, rotinas tão distantes que não daria certo qualquer relação longa mesmo que todos os olhares fossem correspondidos. Entretanto, instantes de carinho e atenção passageiros foram trocados por um sorriso de canto. E, ao abrir mão disso, um gole de café morno tomou o fugaz lugar de interações - ainda - humanas.

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