quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dois pontos. De-vista.


Cresceu com livros pela casa, no banheiro, nos quartos e nos ouvidos: ainda sem saber ler, sua mãe os cantava e eles gravavam para o mais novo dos dois relê-los desta forma sempre que quissesse. Aprendeu a gostar dos livros. E por gostar, aprendeu a se dar com eles. Findado o mestrado do mais novo, que crescera tão rapidamento quanto uma Era, ao devolver os livros que utilizara na pesquisa, a bibliotecária ficou brava porque ele os tinha rabiscado, sublinhando trechos que achava importantes e pondo anotações aos lados em branco. Chamando a atenção disse: "além de estragar, você diminui o tempo útil deles". Note que ela vê o livro como objeto inanimado, com valor monetário agregado, e que deve dar de comer a uma estimativa de retiradas do acervo. Foi um choque. Jamais ele pensou por esse lado, afinal, aprendeu com os livros que eles precisam conversar com a gente também. Eles levam todo um universo de imagens, sons e sentimentos e, em contrapartida, pedem que os suje, amasse, rasure, escreva sobre eles. A relação com o saber é mútua, vai do livro para aquele que o lê, e desse último para com o livro. O livro - certa vez me ensinou ele mesmo - seria triste se fosse visto como produto que não pode desgastar. Ele se realiza à medida que se rabisca. 

Um comentário:

Juliana Santos disse...

Concordo com texto, livro é muito mais que um objeto, é uma fantasia, uma vida, são paginas com sabor e som que criamos ao ler!
texto lindo!