domingo, 14 de agosto de 2011

O que você vê, saudade?



Na imagem acima, o que vê? Se bem atento, creio que a maioria pensará algo como um anjo ajoelhado e uma mulher santa, Maria provavelmente, ao fundo uma provável janela, com uma vista bonita. Se culto, logo dirá - "é um Botticelli, claro!". Em todo caso não credito que a resposta seja algo como - "vejo cores, vejo traços que formam figuras, vejo disposição das formas e das cores". E é, justamente, apenas isto que se vê. Não se vê o que se vê, tais figuras não estão ali. Mas as vemos por vemos coisas que nos fazem enxergá-las. Ver, neste caso, é olhar para o que não está lá. É perceber um mundo que não é o próprio mundo, mas uma maneira de mostrar aquilo que se faz ideia. É re-apresentar algo que de fato existe ou existiu, presumo. Quem nota uma ausência - pura sensibilidade - enxerga algo que não se vê. Vê que faltam tais formantes e, justamente por não ver, percebem aquilo que nasce da diferença: o sentido. Faz sentido não saber de uma pessoa e notar sua ausência justamente por não estar lá aquele traço, aquela cor, aqueles textos ou imagens que sentimos nascerem dela. Anunciamos, assim, nossa saudade. Para a semiótica, só temos o sentido de saudade porque temos sua diferença. E é ai que entendemos o que não se entende: se saudade é "Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas" como se convencionou (lembrado pelo Michaelis), como explicar a saudade que sentimos de quem está dentro da gente? Tão mais perto impossível.

9 comentários:

lídia martins disse...

Sonhei que Deus estava batendo em Jesus Cristo.

_ Não briguem meninos! - Interrompi.


Véio Danado!

lídia martins disse...

E tem gente que olha, olha, olha, e não enxerga nada.

Eduardo disse...

bah, tipow, minha primeira leitura da imagem foi mais simplista.... pensei "pow, duas mulheres brigando por um homem...". mas, enfim, não é nada disso...auhauha

Nathy disse...

É!

Tem gente que apenas vê e outras que enxegam além do que veem.

Belo texto.

OutrosEncantos disse...

.... o gesto da senhora é terno e o anjo até trás um lírio na mão...

É, tão mais perto impossível!
A saudade não tem explicação, não há convenção possível quando nasce não morre mais, vive junto connosco e com quem nos habita.

E por falar em silêncios...
o silêncio só é de ouro às vezes, na maior parte delas são um espinho cravado na garganta...

:) gosto de você, menino-moço-velho. :))

J@ckie disse...

Muy lindo tu blog!! Me gusta. te sigo!

Fernão Gomes disse...

Meu velho amigo distante. É uma boa reflexão sobre o exercício do olhar, não há dúvida. Nessa manhã belamente chuvosa, suas palavras me lembraram dos poemas de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa) e também de alguns ensaios sobre o olhar, de Merleau-Ponty. Dê uma olhada neles. E continue com sua sensibilidade joefanteana. Ela é necessária.
Abraços.
Saudade.

Fernão Gomes

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Vemos o que nossa memória guardou. O que nossos sentidos captou. O que ficou, enfim.
Boa reflexão!

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Vemos o que nossa memória guardou. O que nossos sentidos captou. O que ficou, enfim.
Boa reflexão!