domingo, 14 de agosto de 2011

Fulga

10 comentários:

lídia martins disse...

Fulga?


Véio Santiago, meu fi, ocê quase mata a Pipa de susto. Que que isso uai.

Achei que ocê tivesse dito fuga. Já ia pensar que o véio tava fugindo.

Se bem, que, Fulga é uma comuna romena localizada no distrito de Prahova, na região de Muntênia.


Mas ir pra Muntênia? Que que o véi ia fazer naquele fim de mundo?

Ou,

As veiz, esqueceu o véi estava tentando avisar pro mundo que tinha que dar uma saída rápida pra comprar pó de café. Do tanto de café que aquele véio bebe, é perigoso dar de faltar.

Mas e o Z? modiqué não tá lá?


"Fulga"

Mas véi, a Pipa não achou essa palavra no dicionário.


A palavra está entre aspas.

Será um enigma a se decifrado?

O silêncio é necessário. Não para esquecermo-nos. Mas para nos lembrarmos.



Só posso desejar que pense como me aconselhou naquela dia.


"SEU MAIOR ERRO, pipa, na sua Declaração bem das sabidas, é "comunicar afastamento". Nessa altura da vida, grande parte dos meus amigos já me comunicaram afastamentos, ou seus parentes me comunicaram... e todos, em todos os casos estavam tão errados como você. Quero que você saiba daí que você está, na verdade, é comunicando um aproximamento que, talvez, nem antes fora capaz de fazê-lo (e nem seria capaz). É quando aqueles pelos quais temos paixão se afastam que na verdade eles se aproximam. Universo doido este nosso, que deixa perto - mais do que nunca - aqueles que longe estão. Seja qual for o motivo.

Fico aqui, porta da casa aberta e leite na geladeira pra te fazer um capucino. Voa, e venha também me tirar o sono. Ou quem sabe a gente podia se ver no ar.


E lembra véio. Desse conseio. Modiqué, ser não tem conserto, mas tem remendo.

Aproveitando que, ocê ta aí no mercado, me trás um saco de jububa. É que quando a Pipa lê esse tipo de bestage, dá uma amargura.

Até daqui a poco Santiago.

Pipa.

Quem escreve disse...

Querida Pipa, de tão estranha a passagem torna-se necessário esclarecimentos, para os demais também que por este "comentário" ousar navegar.

Este blog que hoje aqui estás se existe é porque eu não consegui entender a vivura que nossa lingua tem. Antes, infartaria se dissesse que um post é "pra" você, e não "para" você. Da necessidade, do tratamento por semelhante, que me curei disso, fazendo este blog e não me preocupando com o português formal. Aqui tenho licença poética quando quero, por querer ou por querer sem querer mesmo.

Logo, claro, tomou-me a vida e a direção que eu queria dar.

De qualquer forma, o título era "Fuga" de fugir mesmo, mas atualizar blog por celular ainda é uma dificuldade para mim. Assim, a imagem que anexei não apareceu, o texto todo, lindo! se perdeu e a única palavra que saiu ainda saiu não certa, pode, Pipa?

Por coencidência que não acredito existir, no post que escrevia em resposta aos nossos "OutrosEncantos" falei sobre o sentir perto, tão perto que dentro. É meu último post, que também dedico à ti. E note como os doutores acham que dão explicação à tudo, rs. Que sentido pode nascer da diferença que não existe? Me diz? Pipa, cuidado com o cerol, ou linha cortante, tá? Me arrepio a cada nova nota disso que o Fantástico dá! Bons ventos. Caso sopre pra cá, passe para reabastecer. Brisas e núvens fofas para ti.

lídia martins disse...

Bem, vou usar as três últimas gramas de razão que me restam para provar que não sou tão emocional quanto imagino, já sabendo que, ao final, chegarei a conclusão contrária. Vamos catalogar os itens sob a letra P: de Pendentes.
a)está dizendo que tratava-se de um post que perdeu-se;
b) além de o post ter se evaporado, o nome que capitulava o post veio errado, mas que Santiago não acredita em coincidências e se arrepia a cada nova nota disso que o "Fantástico" dá.
c) que sentido pode nascer da diferença que não existe?
Bem: Passemos a análise:
a) Post desaparecido. Vamos o catalogar o item de: PERDIDO. Não há o que discutir.
b) O nome veio errado e entre aspas. Item catalogado sob a letra P: De PERDIDO. Não há o que discutir, foi descuido.
Mas...no item b.1) Há um precedente. Vamos catalogá-lo sobre a letra P: DE PULGA ATRÁS DA ORELHA. Vamos descascar o abacaxi dessa coisa que chamou de nota do Fantástico. Note que o calendário de sua timeline se moveu aos exatos, trago à colação: "postado por Velho Santiago às 11:54 em 14/08/2011" Estive no twitter este tempo, mas não entrei em meu blog. Contudo, quando o fiz (às 19:01) girei os olhos na direção da barra lateral e li: Velho Santiago "FULGA" Embora tenhamos X número de “Web admiradores”, durante todo o dia, o campo "comentário" permaneceu em aberto, sob o título: FULGA. Que, independente de existir ou não no dicionário, ter ou não outra conotação, a expressão nos leva a ideia imediata de um atestado de afastamento. E penso. Que quem quer que nos tenha o mínimo de consideração e respeito, ao tomar conhecimento, deve ao menos inquirir: o que está havendo? Que registrem que viram e que se preocuparam. Nem que seja para vir aqui e dizer: oH VéIo: Tu vai ser acusado de assassinato pela gramática. E tem mais, vai ser CONDENADO! rs...E olha quem fala, a menina que mais apanha da própria língua. (rs)

Cont. rs

lídia martins disse...
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lídia martins disse...

E agora somos transportados para a conclusão final diretamente ligada ao sub item B1 esta vamos catalogar sob a letra P. DE PENDENTE. c)"Que sentido pode nascer da diferença que não existe? Me diz?" Um pouco só de curiosidade pela dor alheia bastaria. Falo dessa convivência sobrenatural das telas, de onde vejo pessoas transbordarem de carências. E ninguém parece importar-se. A nossa, em especial, aprofundada por todos estes anos de convivência. De fato, não são todas as pessoas que comento. E nem poderia. O blog cresceu para além do balanço e acredite, os braços que estão me empurrando, mais dia menos dia, vão me jogar para fora do dele. De tão alto. E de tão inesperado. Sou grata pela luminosidade que elas me acrescentaram. MAS...É muita rede social para poucos amigos - escutei outro dia de Jô Soares, em uma de suas tantas noites insones via Twitter. Gostaria de concluir o contrário, mas ele não está errado. Quando me sento na frente de qualquer texto, de alguém que me seja caro, ou, se não tanto, seja um estranho, mas esteja dizendo algo que me fala ao coração, sinto-me como se eu estivesse em uma espécie de Santuário Particular, onde me encontro com um Deus de Papel e Tinta e curvo-me diante dele para compreender onde é que ele, o Deus de Papel Palavra Tinta quer me levar com aquele misssal em questão, A seriedade com que devemos tratar a vida alheia. Todos ali estão sofrendo, embora a sua maneira É a dor alheia chamando nosso socorro Santiago. Na qualidade de representante deste Deus de papel a que sirvo, peço em segredo: aponta-me Deus a saída. E muitas vezes, saí em silêncio. Não é sempre que ele faz isso Velho, mas em algumas almas, aprendi a dar o valor devido quando tenho oportunidade de compartilhar suas vidas. Conhecer suas dores. Tento apontar o paleativo da dor através da palavra. Concluindo: Intuí que pudesse ser um erro. Contudo, quando se trata de alguém que temos ternura profunda, o ímpeto de proteção é imediato. E pontuo: A alma efetua disparos em atenção aos nossos chamados. Embora neste caso tenha sido um alarme falso. rs...O que acabar em uma via inversa, confirmando o que eu já suspeitava: Eis a diferença de quem, de fato, faz a diferença.Um beijo da Pipa, e obrigada pela dedicação do post acima. Vindo de alguém de sua envergadura moral poético sensitiva, muito felicita-me. Está devidamente tuitado para que lhe conheçam melhor. E espero que o façam. E claro, comentei só uma linha para vingar-me de seu descuido. Fiquei brava. rs...Mas se notar, a linha diz tudo.

Quem escreve disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Quem escreve disse...

Pipa, querida anja de linha. Note que homem que sou, após meu descuido do menino que sou, assumi minhas dores e arquei com as consequências e com o olhar adiante, como velho que sou. Note que não apaguei o post errado, e isso vem comprovar meu acerto em manejar a situação de forma a se adequar. Do post fez-se internas falações que pretendo dividir com os poucos que são capazes de mergulhar numa circunstância mais profunda; o que por hora mostra ser justamente o que aquela que menos mergulha seja a mais capaz de fazer. Uma PIPA, a ÚNICA conhecedora das profundezas.

Fulga é uma nova palavra para este velho, nasce aqui, inventada de um erro, como nascem as estrelas, ao mero acaso. Fulga me diz o que poderia ter sido, me mostra uma beleza tão efêmera que sequer pode dizer que existiu. Os físicos sabem do que falo e estou certo que vc entende. Fulga era sim, uma fuga. Fuga mas não para Muntênia. Fuga para meu próprio eu que, ao praticar atividades simples, como lavar minha louça, me leva direto para dentro de mim. Não tenho estado muito em casa ultimamente. Tenho a mim como portador do meu reino, mais do que nunca. E para isso é preciso estar em movimento, sentir as coisas de jeio torto.

É sentir o vento que não existe, Pipa, fraquinho fraquinho, e saber que voar é uma questão de vontade, não de força.

Das suas observações todas concordo. Dos seus hábitos, eu tb, por vezes, passo por esses sofrimentos, mtas vezes me emociono, sinto e me arrepio, e saio, quieto, sem deixar sequer aroma de café torrado de manhã. E é necessário que seja assim, às vezes por respeito.

Ao me dizer, Pipa: - "a expressão nos leva a ideia imediata de um atestado de afastamento" você tem toda razão. Mesmo meu erro, mesmo minha ausência lhe mostraram o que era real. Fiz uma palavra que não existe existir, e significar algo. Pude falar-te sem palavra, com letras colocadas díspares. E isso me agrada e fico contente, porque o velho olhar ainda carrega um grande discurso e não foi substituido por palavras tão bem estruturadas que hoje muitas vezes não significam nada.

Quando me disse, Pipa:

- "Intuí que pudesse ser um erro. Contudo, quando se trata de alguém que temos ternura profunda, o ímpeto de proteção é imediato. E pontuo: A alma efetua disparos em atenção aos nossos chamados. Embora neste caso tenha sido um alarme falso"

devo dizer que falso foi eu acreditar que não fosse verdadeiro. Foi sim. Bom é saber que nos falamos certo por palavras tortas, que sequer existem (como bem disse, não existe no dicionário). Verdadeiro foi saber que mesmo nessas telas nem sempre é preciso dizer as palavras certas para ser entendido. E que é, sim, possível lançar um olhar mesmo que por um ecrã pixelizado.

assopro e vejo-a subir, Pipa. Respiro pra senti-la mais perto de mim.

Quem escreve disse...

Em tempo, Pipa: Fico muito feliz, por saber de você. Confesso que seu Comunicado de Afastamento me aproximou de você, por razões já lhe disse. E isso significa que eu estive triste e de certa forma sofri. Sabes bem.

Sabe que este não-post meu me fez mais feliz do que um sim-post? Me prova que quando a gente erra para com o outro, normalmente, a gente afasta as pessoas, mas que errar também pode trazer pessoas. Ou Pipas. Aqui se prova isso.

Entendo que ir e vir, voar e pousar, faz parte da vida. Só voa a Pipa que pousa, senão não é Pipa, é algo estático no ar, não? E algo estático no ar é disco voador. - "E disco voador não existe", me assopra no ouvido uma fada. Rs... ela que pensa!

Sordade.

lídia martins disse...

Velho. Moço. Menino...



Nunca soube a quem entregar isso. Por supor, talvez, que não me entenderiam. Mas quando se trata de histórias, o Velho é um menino sabido. E oh, tá quase um rapazinho...


Velho, inale a fantasia, inale. Mas não conte à realidade, senão ela vai fazer o maior alarde.




É difícil dizer o que aconteceu. O tempo passou e nos tranqüilizamos muito cedo. Quer mesmo saber o que houve? Você não vai achar graça. Bem, às vezes passo por aquela estrada, que mais parece uma cascata em pó formando riachos de pedras à margem das matas. As árvores, de tão idosas, não se atrevem nem a balançar as folhas, tamanha a vertigem da queda. Os pássaros foram todos castigados por um surto de geada, e pela janela, assisto os hippies compensarem a fragilidade da morte, acreditando que estão fazendo uma espécie de tributo, arrancando suas penas para vendê-las como ornamentos ao comércio local de miçangas. Da noite, o céu fez uma espécie de tenda, por onde sapos ermitões que não conseguiram ser transformados em príncipes, rãs lânguidas abandonadas à própria sorte, ratos que sonhavam em se tornar super-heróis, e toda espécie de bichos exóticos, se reúnem para celebrar as suas descrenças. A trilha de formigas que seguiam sempre umas atrás das outras, como se tivessem endereço certo, agora andam em círculo abrindo caminho para o nada, estão visivelmente desorientadas. As aranhas, minhas tecelãs favoritas, já não fabricam mais arabescos, estão todas em recesso atrás dos portões das fábricas, como se esperassem que através desse manifesto, se reinventasse o ânimo perdido, sem o que não se sentem encorajadas a seguirem o seu caminho. E nos olhos de algumas, a dor parece emoldurada. Nas corujas, a insônia rogou uma espécie de praga, e pelo modo como as vi assustadas, arrisco uma maldição de madrasta, que parece não ter piedade. Elas tentam fechar os olhos, a insônia os abre. O sol parece um conselho que se dá uma adolescente em estágio terminal de rebeldia, entra pela janela dos ouvidos e sai pela porta da língua, como se quisesse traduzir uma luz, que fala outro idioma, desses que por mais que a gente se esforce, ainda não compreende. As cortinas estão todas feridas de tanto lutar contra um exército de traças que fuzilaram um canto direito do linho e pela quantidade de tempo que já estão ali, já a usucapiram. Dentro da casa, a solidão está crescendo como uma sentinela vigiando a cúpula da mansarda, agora, abraçada por espartilhos de arames e taboas empoeiradas, que jogam sobre elas o seu manto espesso de abandono e esquecimento. E mesmo a distância, a velha casa que morávamos parece aumentar de tamanho a cada ano, sobretudo, nos dias de inverno. Ainda brinco com aqueles antigos dragões de pedra que, na falta de coisas melhores para fazer, se acampavam em nosso quarto pela madrugada. Cuspimos fogo, trocamos insultos, rimos da nossa ignorância de criaturas.


Tive que encerrar a história ao meio. O menino tinha dormido...Não faz mal, só vim lhe cobrir com um pouco de magia. A noite está outra vez fria. Dorme menino... Dorme...
Que a fantasia é um modo de anestesiar a realidade embrutecida.


Ocê mora aqui dentro oh: do peito.

Um beijo enternecido Santiago.

Quem escreve disse...

Pipa, tenho um dom secreto: sei do futuro pelo Velho, do passado pelo Menino e mantenho minha fé no hoje, com os olhos do Moço. Todos são Santiagos, cada um à sua maneira, erros e acertos. Sinto falta de prazeres como os teus, donde posso escrever minha blogteratura e ter com outros que desfrute do mesmo prazer.

Mas com você é especial. Talvez porque segurei muito em sua linha e demos rasantes juntos naquele terrão batido de colheita recente. Talvez porque perdi muitas vezes você, levada enroscada em outra linha... E a reencontrei, cada nova vez com uma nova alegria e rasantes mais audaciosos.

Escreves dificil a Pipa. Dificil porque escreve para sabidos. Mas mago que sou sempre recorro ao Menino para entender seus textos, porque para lê-los é preciso não saber ler. As palavras invadem a mente do Moço e são tão autoritárias em seus sentidos na mesma medida que acredito ser pobre nosso idioma. Para entender o significado de suas palavras, Pipa, preciso ignorar os sentidos que suas próprias palavras carregam e olhar com o olho de criança que vê peraltices para qualquer coisa que tiver em mãos. Preciso olhar para meu notebook como uma criança que olha para uma pedra.

Mas meu Menino me traduz. Ele, como se sabe sobre as crianças, ainda não sabe ler. E deixo afastado dele todos os gibis e livros e revistas que tenho por perto. Para que ele não aprenda coisas que significam o que são e pronto. Ainda não. Logo se torna moço e aprende, o moço se tornará velho e terá mais paciência e acreditamos que o velho... bem, não queremos pensar nisso.

É desta força que compartilho minha descrença com as suas. Não creio no sentido das palavras, mas no que ela realmente significa. E assim é pra vida: não creio no que ela quer dizer, mas no que posso sentir a partir dessa exsitência. E desta forma qualquer palavra pode me significar qualquer coisa. Sei entender porque deixei tudo que me desorienta de canto. O ânimo vem e vai, assim como os momentos de solidão. Se fazer uma espécie de tributo me faz ter com os outros, então entendo porque nosso governo tributa tudo, é pra não se sentir sozinho.

E nessa brincadeira com o abstrato para passar o tempo me perco enganando-o. Ele acha que me engana, bobo ele. Ele sequer existe, sabia? O tempo é uma invenção humana, que Santos Dumont fez levar no pulso. Hahaha, rio muito quando penso que o homem levou séculos, arriscou pescoço (perdeu até), para dizer que estamos no tempo e no espaço. Eu Menino já sei disso desde que nasci: nunca respeitei o que era noite e dia, comia a qualquer hora e qualquer coisa mais colorida me divertia por horas e horas, enquanto nem uma semana bastava para o Moço escrever 3 páginas para seu mestrado. Quem é que brinca com quem, hein?

Hoje eu volto pra minha terra e vejo como tudo é menor, sem graça. Mudou, claro, mas o que mudou foi é eu. Meu espaço era maior porque Menino era pequeno. Se agora o Moço parrudo vê jaboticabeira sem graça, é porque ela já foi um enorme pé gigante. Viu, como desaprendendo as coisas me faz compreender aquilo que é invisivel aos olhos?

Disso se fazia minha "fuga", era o Menino correndo com uma pedra linda na mão transformando a realidade embrutecida do Moço...

Mas ai veio uma Pipa e trouxe um mundo que existe só pra nós quatro. Eu acho. Qualquer dia te mostro minha pedra.