segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pra uma namorada



Eu penso em como superar a falta dela, mas oro para que seja ela a pensar sobre isso. Penso em como dimunuir a dor, minha ou dela, a que doer antes. Penso em como as coisas não estão mais como eram. Penso em como a gente viveu, como tudo passou, como sobrevivemos a tantas coisas. Penso, mas no limite daquilo que chamo de lembranças - fracas e cada vez mais duvidosas.

Penso em como o tempo foi bom, em como as coisas se ajeitaram. 

Penso nas besteiras que fizemos. E nas que superamos. Penso sobre como temos nossa beleza amadurecida, nossos corpos e rostos. Penso que beber água, bastante água, foi bom. Evitar comida ruim também. Penso nos filhos que tivemos. Próprios ou não. Penso no que construímos, no que pudemos comprar. Casa, carros, máquinas fotográfica e bolsas. Penso como foi dificil o começo: emprestar, parcelar, herdar, dividir para somar. Penso na ajuda que nossos pais deram. Penso no nosso amadurecimento profissional. Em nossas escolhas e aptidões. Nos valores que nos demos. E nos respeitamos. Penso como foi o começo, primeiros empregos, segundos, concursos. Passeios! Penso na primeira noite em nosso apartamento.

Nas passagens pela frente acompanhando, tijolo a tijolo (pré-fabricado) aquele cantinho - "simples, mas é nosso", como ela me disse certa vez - se erguendo. 

No que passamos para tentar - e viver - esse sonho. Penso em quando ainda jogávamos horas fora com filmes chatos ou de medo. Capucinos inventados, vinhos que só eu tomei. Penso em quando andávamos de mãos dadas e era estranho. Quando numa rua, que era minha, a vi pela primeira vez. Penso quando sonhava com alguém entrando em minha vida, por passagem em minha cidade. E me levando. E assim foi. Penso quando procurava você e não entendia que o tempo não era aquele. Penso como sofria. Queria, sabe. Já estava me preparando. Penso quando beijei outras bocas e todas me foram estranhas. Só a sua me acolheu. Penso quando não pensava no meu primeiro amor. Vergonha.

Penso quando salvava planetas, cidades, era super-herói - ao lado do meu pai - sem conhecer as super-heroinas que são as mães. 

Penso quando praticamente não pensava: eu sentia texturas, temperaturas, geometrias. E olhava como quem olhava pela primeira vez. E era, então, novamente bebê-criança. O bebê Santiago. E, então, eu era apenas uma barriga grande e quente. E já tinha o mundo em meu coração: esperava por você. Pra você quardei o amor que pude dar. 

(Versão com meu amigo Marcelo Araújo e Haline)


 

4 comentários:

Fabi Anselmo disse...

Uau!
Fiquei de queixo caído e coração derretido!

Renato Menezes disse...

Seu texto é magnífico. A nova roupa do seu blog não poderia estar melhor. Ler você me faz lembrar do quanto somos amigos, apesar da distância. E do quanto essa convivência me faz falta. E do quanto você é sensível ao mundo.

Renata Hipólito disse...

Não conhecia essa sua delicadeza. Seu texto é suave, doce, maravilhoso! Parabéns!

Eduardo Schiavoni disse...

E de pensar todos nós vivemos, meu caro, bom e velho amigo. Cogito, ergo sum (é assim mesmo?). Temos uma espécie de alma gêmea, distantes, mas parecidas. A mesma inquietude, o mesmo mal, com mais talento de sua parte, sem dúvida. Aflições e alegrias, claro, pois nem tudo é tão ruim. Um grande abraço