segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A astúcia nossa (por fases da vida)

Criança, ter mais brinquedos em quantidade chamava atenção das outras crianças. Coisas novas também. Astutos, trazíamos eles embaixo do braço, mas bemmm às vistas dos outros. As meninas, à época, torciam o nariz para isso... nunca entendi. Menino, foi a vez da bicicleta ser o centro da atenção, era astuto pedalar e passar bem rápido perto dos outros. Ninguem notava; as meninas, à época, andavam bem devagar... nunca entendi. Adolescente, lembro que perfume, roupa nova (preferencialmente cara) era como que nem meus antigos brinquedos: dava inveja. À época, as meninas sequer notavam... nunca entendi. No colégio, atrativo era zuar colegas, desrespeitar qualquer coisa que exigisse respeito. As meninas adoravam isso, mas repudiavam... nunca entendi. E a faculdade? Chegar atrasado é bom, todos te notam; sair mais cedo também: coragem. As meninas faziam o mesmo, só que com mais coisas embaixo do braço balançando do que os homens, bemmm às vistas dos outros... nunca entendi. Nas festas, a gente se reunia e olhava bem devagar para todas, praticamente, e tentava passar segurança (que n tinha); as meninas, bem rápido e olhando à frente, fixamente, passavam por nós... nunca entendi. Já adulto, casado, nossos olhos se voltavam para algumas questões que bem nos lembravam o passado; agora essas questões (àquelas que acompanharam nosso crescimento) passavam bem devagar, em carros bonitos, e nós torcíamos o nariz para isso... passei a entender. Já velho, chego atrasado nos lugares, é ruim, todos notam; e saimos diversas vezes mais cedo, e todos sabem porque. Já elas, são levadas embaixo de vários braços mais novos, bemmm à vista dos outros... eu entendo. Mas agora não dá mais para se reunir com os outros para olhar para tudo isso, pois muitos já são outros em lugares que alguns ainda não chegaram. Mas estamos a caminho... 

2 comentários:

lídia martins disse...

Já ouviu falar em bandidos que usam distintos, Santiago? Eu não quero me meter com a polícia. Mas na parede da memória, se eu tivesse que exterminar um quadro, seria este último que pintou:

"Já elas, são levadas embaixo de vários braços mais novos, bemmm à vista dos outros... eu entendo."


Porque este é certamente o quadro que dói menos.


Maldita juventude!

Absurdo de lindo seu vôo metafórico.

Meus cumprimentos.

H. Machado disse...

Assim você emociona os novos aqui do outro lado, que não entendem muito bem, e que sempre param para observar. E a vida continuará a ser incrível.