quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Coisas de menino


Algumas coisas de menino por vezes voltam: aquela vontade de jogar pedra nos cachos de abelha, passar rosnando frente a um portão com um cachorro bravo, subir numa árvore enorme e jogar balões d´água nas pessoas que passam embaixo dela, esperar numa esquina e gritar quando alguém fizer a curva, tocar campainha e sair correndo, gritar nome errado bem atrás de alguém. Como se fosse pouco, ainda escondia o último danone bem no fundo da gaveta de verduras, roubava o último pedaço de chocolate do guarda-roupas alheio e desligava a TV com o volume no máximo para assustar quem a religasse. Ainda esvaziava os pneus dos carros e bicicletas, apanhava as últimas carambolas da vizinha da minha vizinha, entrava de noite no quintal ao lado para chupar jabuticabas e atravessava o quarteirão pelos muros das casas comento toda fruta madura que achava. Quando havia, pulava do alto das árvores sobre os montes de areia e transportava quase todos os tijolos de uma construção para outra em cima da frota composta por meu caminhão e de meus amiguinhos. Já eram minhas pequenas vinganças contra o mundo mau que eu ainda teria que enfrentar quando moço.

img: André Gandolfo

Um comentário:

z i r i s disse...

Então, querido Santiago, penso que gastei todo o chumbo na infância. Eu tinha uma avó transgressora, veja só. Certa altura dos meus 5 anos, tiveram de nos separar um tanto. Minha vida complicou demais desde. Quando alcancei os trinta, não entendia mais nada mesmo. Se ela tivesse permanecido em minha vida, o temor dos meus pais haveria de ter se consumado. Uma bandeira fincada no Everest, com um Z de meu nome nela. Ninguém nos segurava. Aquele papo lá, de que os bons não deveriam calar-se. Ela brigava bem. E foi mestra das minhas melhores malcriações. Quanta saudade...


Um abraço