domingo, 11 de novembro de 2012

Sou exatamente igual a você


Vi, nesses anos, tantas paisagens com esses meus olhos... quanto você, que trocou a imagem de fundo da sua área de trabalho do computador. Conversei e ri tantas vezes com desconhecidos... quanto você, com seus mesmos colegas em suas redes sociais na Internet. Olhei, maliciosamente, para tantas pessoas interessantes na rua, nas calçadas, nos ônibus... quanto você, que cutucou alguém no Facebook ou coisa que o valha no Orkut. Toquei tantas peles e cabelos: macios, com marcas de expressão, cheirosos... quanto você, com seu mouse e seus cliques nos botões esquerdo e direito. Senti em meus ouvidos tantos suspiros e calor... quanto você, com suas caixinhas de som e coolers de resfriamento. Falei alto, ri alto, gargalhei tanto... quanto você, e seu microfone embutido na tela do notebook. Abri minha porta, o portão de entrada do prédio e meu peito para tantas pessoas... quanto você, ao abrir suas novas mensagens de email ou mensageiros instantâneos no celular. Passei tantas horas admirando aquele rosto lindo da nova paquera, como o cabelo dela mudava de cor ao longo do dia, e como não tem fim tantas caras e expressões com o cotidiano que ela faz... quanto você, e sua foto aberta estática na nova tela de LED. Aprendi novas coisas, um novo suco, conheci uma nova comida, tantos sabores... tanto quanto você, e seus novos atalhos no teclado e funcionamento da bandeirinha do windows. E resolvi seguir conselhos, palavras amigas, me calei e escutei, pensei e ponderei tantas vezes... quanto você, que curtiu aquele desabafo tolo nos Feeds de alguém igual a você. Somos exatamente iguais, mas separados por nossos viveres.

Um comentário:

lídia martins disse...

Mendes Roberta disse-me uma vez que, tudo que se flagra passando, são artifícios de permanecer... É tão verdade isso, não é?! Mesmo com este desfile de paisagens, gente, pele, sabores e cheiros, a memória ainda arranja tempo para registrar o que, talvez, quem sabe, aos dois, ainda diga respeito. A tinta da caneta continua a borrar o papel em branco dos sonhos desfeitos. Não é só em vocês. No leitor, também está doendo.


Um beijo.