sábado, 17 de março de 2012

Regadores pra olhos secos


Esses meus olhos secos precisam ser regados. Busco regadores pra olhos secos. Secos como o chão do nordeste, como o fundo dum rio quando esse está seco. Secos como a indiferença de pessoas. Tão secos quanto um funcionário público, com suas vestes de terno e gravata, que não faz justiça e se resguarda - covardemente - atrás de uma escrivaninha planejada. É aquela sensação de quase, sabe? Os olhos marejam, a garganta seca, e mesmo só numa sala a meia luz eles não se regam. Essas aparências enganam a mim mesmo e nada mais. Os sentimentos que umidecem - mas não molham - meus olhos não são confusos. São talvez incompletos ou constituidos por incompletudes. São partes de tudo que não se realizou, ou cacos ainda do que se formou em minha vida com minha vontade ou à revelia da mesma. Mas não vejo confusão alguma. Estou certo sobre como tenho caminhado. Faltam-me apenas regadores o suficiente pra tolerar toda essa realidade de cada dia que vejo quando abro meus olhos secos. 

2 comentários:

OutrosEncantos disse...

sei de outros olhos secos
e do nó que dá na garganta quando precisam se molhar e a chuva não vem.
dia destes começaram a arder,era de uma chuva salgada.
e choveu.
finalmente choveu.

beijo, Santiago.

Bruno Gaspari disse...

Olá Santiago, li seus textos
até aqui e adorei, parabéns
por escrever tão bem, expor
ideias e sentimentos assim
com tanta desenvoltura.

Abraço Õ/