quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A passagem do moço



Me lembro que, moço, eu desejei uma passagem breve, rápida, sem mais surpresas. Era um tempo confuso, mas sem dor alguma. Era um tempo acima de tudo de descobertas, o que viria a perceber somente com o tempo. Acho que foi quando meu mar se amansou, o tempo acalmou, e eu pude olhar um horizonte até bonito. Incerto, claro, como todo "mar a dentro" pode ser. Era minha hora de partir. Hoje, já velho, agradeço à partida, que me tomou como pelas mãos a conduzir para um lugar seguro. O fato é que é preciso saldar: Iemanjá, três pulinhos das ondas, sementes de romã na carteira, como queira. Eu atiro aqui de dentro um pouco da minha saudade, tem doido demais. A sirvo à deusa do mar. É hoje meu mais profundo sentimento, é o que eu mais honestamente tenho a oferecer, é uma das poucas coisas que pra mim ainda tem valor verdadeiro. E tenho certeza que ela saberá usar isso quando for a hora boa. Vamos virar!  

Imagem de LUNAÉ PARRACHO - 2.2.10

4 comentários:

OutrosEncantos disse...

... que assim seja VelhoSantiago!
Feliz viragem

Abraço.

z i r i s disse...

Que belo...

Velho você como sempre certeiro!

Este teve um impacto diferente. Entreguemos um tanto das esperanças Velho, a quem sabe o que é melhor pra nós, mais do que nós mesmos sabemos...

Grande abraço, vamos virar!

Alex Wildner disse...

É, Santiago, amigo, ando numa montanha russa, mas agora, nesse minuto, estou na parte baixa, e pra distrair, andei lendo um blog de um amigo, e agora o seu... Tudo tao forte...
Em qual parte de nossa viagem estamos agora?

Fernão Gomes disse...

Olá, meu velho. Tudo bem por aí? Espero que sim. Esse texto é especial: além do conteúdo transcendente e nostálgico (atributos que aprecio), ele também será título daquele texto que escrevi. Escolhi sua sugestão pelas razões que você mesmo apresentou e pela força poética que tem. Valeu, irmão. Mantenha conexão, sempre.
Abraços distantes.

Fernão Gomes